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Diálogos da Transição
APRESENTADA POR
Editada por Nayara Machado
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O governo de São Paulo mapeou 21 projetos voltados para transição energética no estado, que somam investimentos privados de R$ 16,8 bilhões nos próximos anos.
Nesta sexta (19/5), a Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística (Semil) deu largada na estruturação do Plano Estadual de Energia 2050, e apresentou as diretrizes para o incentivo a projetos que levem à redução de emissões de gases de efeito estufa (GEE).
Dentre os projetos identificados pela agência estadual de fomento InvestSP, 14 estão na área de energia, três no setor automotivo e de máquinas e equipamentos, dois em tratamento de resíduos, um em mineração e outro focado em comércio e serviços.
“Há muito interesse [internacional] em conhecer o portfólio do estado de São Paulo, e especificamente nessa área de energia. A partir do momento em que a gente mostra uma estruturação de planos, com segurança jurídica e previsibilidade, a gente vê que as coisas vão se consolidando”, explica Natália Resende, secretária estadual de Meio Ambiente e Infraestrutura.
Ela explica que a ideia é atrair ainda mais investimentos, por meio de empresas que buscam oportunidades de negócios em transição energética e em redução dos gases de efeito estufa.
O estado se vê em posição de vantagem. Sua matriz energética é 58,5% renovável, superando a brasileira (47,7%) e a mundial (14,1%). E tem uma participação relevante no PIB nacional, de 30%.
Também é o maior produtor de etanol e ocupa o primeiro lugar em termos de potência instalada de geração distribuída de energia solar fotovoltaica.
No biogás, o potencial de produção é mais do que o dobro do consumo paulista
Prioridades
Essa primeira fase do plano definiu 12 áreas prioritárias de atuação, que vão desde biocombustíveis, eficiência energética e projetos híbridos para modernizar as hidrelétricas, até fontes de energia que ainda precisam desenvolver um mercado, como eólicas offshore e hidrogênio de baixo carbono.
Sem deixar de lado petróleo e gás: SP é o segundo maior produtor de petróleo e gás natural, com projetos de novas plataformas, ampliação de desenvolvimento de campos e poços na Bacia de Santos.
No geral, o plano trabalha com o potencial de corte de emissões no setor elétrico de até 66% em 2050, reduzindo drasticamente a dependência de importação de energia – já que o estado é um grande consumidor de eletricidade.
O documento está previsto para ficar pronto no final do ano. Até lá, o governo tem uma agenda de workshops para discutir diretrizes, incentivos fiscais e alternativas de financiamento. O plano deve entrar em consulta pública no final de novembro.
“Temos percebido uma demanda importante e crescente por parte dos investidores por projetos de energia limpa no estado, demonstrando a competitividade de São Paulo nessa tendência global de empreendimentos que priorizam critérios de sustentabilidade e governança. Captar esses recursos é fundamental para manter a atratividade paulista na economia das próximas décadas”, conclui Rui Gomes, presidente da InvestSP.
Mais sobre a transição paulista:
- Solar, biocombustíveis e hidrogênio na rota de descarbonização paulista
- São Paulo capta R$ 2 bi para financiar projetos de transição energética
- Bioenergia e gás nas promessas de candidatos ao governo de São Paulo
Bioeconomia no Pará
No Norte do Brasil, o estado amazônico tem um plano para desenvolver a bioeconomia com participação das comunidades tradicionais.
Entre 2015 e 2020, o Pará foi o estado brasileiro que mais emitiu gases de efeito estufa
(GEE), representando 19% das emissões nacionais totais em 2020. A maior parte está ligada ao uso da terra. Cerca de 80% das emissões vem do desmatamento e 15% da atividade pecuária.
A região também é marcada por crimes contra comunidades indígenas e quilombolas.
Com 92 ações previstas, o PlanBio (.pdf) se propõe a enfrentar essas questões, e encontrar caminhos para o desenvolvimento socioeconômico de baixas emissões, colocando a bioeconomia no centro.
- Estudo da Associação Brasileira de Bioinovação (ABBI) vê um potencial de US$ 284 bilhões/ano no faturamento industrial brasileiro até 2050 com a total implementação da bioeconomia na produção nacional.
Foi destaque em uma apresentação, esta semana, do governo local em um evento preparatório do Itamaraty para a Cúpula da Amazônia, que ocorrerá em Belém em agosto. A cidade também é candidata a sede da COP30.
Em novembro passado, na conferência do clima da ONU, a COP27, o governador Helder Barbalho disse que a transformação via bioeconomia custará pelo menos R$ 1,2 bilhão nos próximos cinco anos, financiada em parte com recursos estadual e federal, além de fontes externas, como bancos de fomento.
É um plano para transformar o Pará em um estado neutro em carbono, conciliando os interesses do setor privado com o da população que vive na região.
“Precisamos fazer a bioeconomia acontecer, cuidar das pessoas na floresta. Além disso, precisamos criar mercados para que a bioeconomia se estabeleça, para que se crie um novo modelo econômico de desenvolvimento”, defende o secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Pará, Mauro O’de Almeida.
Teresina 2030
As cidades também estão desenhando estratégias climáticas. A prefeitura de Teresina, no Piauí, contratou o consórcio Codex para fazer o inventário de emissões de GEE e a análise de riscos e vulnerabilidades.
O diagnóstico irá subsidiar o plano de ação climática do município, a Agenda Teresina 2030: A Cidade Desejada. E ajudará o município a captar recursos para adaptação.
Com a taxa de aquecimento superior à média global, devido, especialmente, às condições geográficas e aspectos urbanísticos, a capital do Piauí está em uma jornada para se tornar mais resiliente e reduzir seu impacto ambiental.
Leonardo Madeira, coordenador do Agenda Teresina 2030, conta que, a partir do inventário, serão definidas as ações multissetoriais que devem ser priorizadas para o aumento da adaptação do território e alcance da neutralidade climática.
De acordo com dados preliminares, os vilões do clima no município são os setores de energia estacionária (todos os tipos de combustível e geração de eletricidade), resíduos e efluentes.
Curtas
Alerta de greenwashing
Pesquisa da Clarity AI, uma plataforma de tecnologia de sustentabilidade cujos clientes incluem BlackRock, Invesco e MetLife descobriu que apenas 4% dos fundos com a palavra sustentabilidade ou alguma versão dela em seus nomes realmente cumprem todos os requisitos nos Estados Unidos, Reino Unido e União Europeia.
“Se acabarmos com produtos que vão ter rótulos diferentes, nomes diferentes, dependendo de onde são comercializados”, então isso se torna “ainda mais confuso” para gestores de ativos e investidores, diz Patrícia Pina, chefe de pesquisa e inovação de produtos da Clareza IA. E a confusão, diz ela, “muitas vezes leva ao greenwashing”. Bloomberg
‘O mar também é delas’
O programa de diversidade e inclusão da Ocyan está mostrando resultados: entre 2019 e 2022, a participação de mulheres em postos de comando da companhia de O&G subiu de 19% para 32%. A companhia encomendou uma pesquisa para traçar o perfil da mulher offshore (que atua em sondas, plataformas e navios-plataforma), e entender os desafios para tornar esse ambiente mais inclusivo.
Entre as profissionais consultadas, cerca de 93% lamentam que ainda é muito frequente nas embarcações, os homens pensarem que as mulheres não são capazes de lidar com equipamentos pesados ou que requerem força. Por outro lado, para 47% das profissionais, os salários são bastante atrativos, embora entendam que as empresas precisam melhorar e adequar a infraestrutura das embarcações para facilitar o acolhimento de mulheres.
Artigos da semana
— RenovaBio: aprimorar para ganhar o mundo Equilibrar oferta e demanda de CBIOs é, hoje, essencial para que o RenovaBio eleve o Brasil a um dos maiores mercados de créditos de carbono do mundo, avaliam Aurélio Amaral e Marcos Cintra
— Nova especificação do biodiesel: grande passo, inclusive cultural Obrigatoriedade de aplicação de boas práticas terá o maior e verdadeiro impacto sobre a qualidade do biocombustível, escreve Vicente Pimenta
— O dia do Juízo Final: fim dos contratos legados de transporte de gás natural Talvez tenha chegado o momento das transportadoras, consumidores e ANP abrirem um discussão ampla sobre o custo do transporte de gás natural, escreve Marcelo Menezes
— Arco-íris, descarbonização e geopolítica no tabuleiro global do hidrogênio sustentável Nações almejam segurança, desenvolvendo produção própria, ou por acordos, sobretudo nas novas tecnologias transformadoras do bem-estar humano, analisa Carlos Peixoto