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RS mira hidrogênio em estratégia de descarbonização; SP quer alavancar biometano

Edital prevê R$ 102,4 milhões para apoiar produção, transmissão, armazenamento e uso do hidrogênio verde no RS

Lançamento da estratégia de descarbonização do Rio Grande do Sul (Foto: Maurício Tonetto/Secom)
Lançamento da estratégia de descarbonização do Rio Grande do Sul (Foto: Maurício Tonetto/Secom)

NESTA EDIÇÃO. Governo do RS lança estratégia de descarbonização; primeira ação é um edital para atrair investimentos em hidrogênio verde.

Em SP, um memorando de entendimento com a World Biogas Association estabelece cooperação para acelerar a cadeia de biometano no estado.


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O governo do Rio Grande do Sul divulgou esta semana sua estratégia de descarbonização e quer usar o potencial do estado para produção de hidrogênio verde como vitrine.
 
Há pouco mais de um ano, o RS entrou para a cobertura climática como um exemplo de como a crise provocada pelos combustíveis fósseis e desmatamento está ficando cada vez mais intensa, após as enchentes que causaram prejuízos bilionários e deslocaram centenas de milhares de pessoas de suas casas.
 
A tragédia aumentou a pressão por uma agenda de transição energética, inclusive para substituir o carvão e encontrar outras alternativas econômicas para quem depende do combustível fóssil.
 
“A tragédia meteorológica que atingiu o Rio Grande do Sul no ano passado demonstrou que precisamos agir agora, e que este é o momento de mostrar um Estado ainda mais forte e resiliente”, discursou o governador Eduardo Leite (PSD), durante o lançamento na segunda (2/6).
 
Segundo Leite, o incentivo a iniciativas de baixo carbono já estavam no radar, mas o governo resolveu antecipar iniciativas alinhadas com o Plano Rio Grande, elaborado para reconstrução do estado após as enchentes.
 
A primeira ação da estratégia de descarbonização é justamente o hidrogênio verde. No mesmo evento, o governo lançou um edital no valor de R$ 102,4 milhões para apoiar empreendimentos de produção,  transmissão, armazenamento e uso do hidrogênio verde.
 
Realizada em parceria com o Badesul, a iniciativa faz parte do Programa de Desenvolvimento da Cadeia Produtiva de Hidrogênio Verde e prevê  até R$ 30 milhões em subvenção por projeto.



Duas das maiores usinas termelétricas a carvão do país estão em terras gaúchas: Pampa Sul, com 345 megawatts (MW), e Candiota III, com 350 MW. As unidades foram alvos de desinvestimentos de grandes grupos com metas de descarbonização do portfólio.
 
Em busca de uma solução para o setor – e os trabalhadores que serão impactados caso elas sejam desativadas – o estado contratou um estudo da WayCarbon para indicar caminhos para uma transição justa.
 
O estudo foi paralisado em janeiro de 2025 por uma decisão judicial, mas os trabalhos foram retomados em fevereiro, com consulta à comunidade afetada pelas atividades carboníferas. A previsão é entregar os resultados no final de 2025.
 
Mas o encerramento das usinas a carvão pode demorar. No sul do estado, a termelétrica de Candiota está parada desde janeiro de 2025, aguardando uma definição do Congresso Nacional sobre os vetos na lei das eólicas offshore.
 
Em fevereiro, Leite foi a Brasília negociar com o governo federal a edição de uma medida provisória que viabilize o retorno às operações de usinas a carvão do estado. A ideia é conseguir uma política semelhante à aprovada no governo de Jair Bolsonaro (PL) para a transição justa de Santa Catarina.

  • Ao criar o Programa de Transição Energética Justa, em janeiro, a Lei 14.299/2022 determinou que a União prorrogue a outorga do Complexo Termelétrico Jorge Lacerda até 2040; e criou o programa para preparar a região carbonífera para novos usos do mineral e zerar as emissões líquidas de carbono da geração termelétrica a partir de 2050.

Nesta quinta (5/6), em uma ação para o Dia Mundial do Meio Ambiente, a Secretaria Estadual do Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística (Semil) de São Paulo firmou parceria com a World Biogas Association (WBA) para cooperação em políticas e definições de padrões na indústria de biogás e biometano.
 
O estado mira a ampliação da produção e uso de gás renovável. 
 
Um estudo da Fiesp (.pdf), em parceria com a Semil, estima a oferta potencial de biometano em 6,4 milhões de m³ por dia, volume equivalente a quase metade do consumo total de gás natural em São Paulo e a 25% do consumo de óleo diesel no setor de transporte – hoje a produção é inferior a 1 milhão de m³ por dia. 
 
A maior parte desse gás (80%) pode vir do setor sucroenergético – aproveitando a vinhaça, um subproduto da produção de etanol. Outros 20% podem ser gerados em aterros sanitários, a partir da decomposição da matéria orgânica.


Lula na França. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que é preciso que o mundo reúna US$ 1,3 trilhão para enfrentar as mudanças climáticas, sob o risco de “criar um apartheid climático” caso isso não aconteça. Em visita de chefe de Estado à França, ele também rebateu críticas de Macron ao acordo Mercosul-UE.
 
COP30. O presidente da COP30, André Corrêa do Lago, disse nesta quinta (5/6) que a agenda de ações para implementação dos compromissos climáticos deve ter a primeira versão publicada na próxima semana. Será a quarta carta publicada pela presidência e terá seis eixos temáticos
 
Renováveis na indústria. Em 2024, quase metade das indústrias (48%) do país afirmou ter investimentos em energia de fontes renováveis, segundo pesquisa da CNI. Em 2023, esse percentual era de 34%. O Nordeste está na liderança.
 
Escassez de turbinas. Além das incertezas internas com o atraso do leilão de reserva de capacidade, os empreendimentos que vão concorrer no certame vão ter o desafio de negociar suprimentos num momento de pressão na cadeia de fornecimento. O crescimento global na demanda por geração termelétrica está afetando a disponibilidade de turbinas, transformadores e disjuntores
 
Startups de baixo carbono. Petrobras, BNDES e Finep lançaram edital de chamada pública para seleção de gestor e estruturação de Fundo de Investimento em Participações, na modalidade Corporate Venture Capital. O fundo será dedicado a investimentos em participações minoritárias em startups e MPMEs de base tecnológica que possuam soluções inovadoras nas áreas de energias renováveis e de baixo carbono no Brasil.
 
Meio ambiente por último. O termo “sustentabilidade” gerou cerca de 18 milhões de conteúdos no Google Brasil no último ano, mas as pautas ambientais ocupam a última posição no ranking dos assuntos mais buscados de forma ativa no país, mostra uma pesquisa da Bulbe Energia.

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