Diálogos da Transição

Renováveis com baterias já competem com fósseis em países emergentes

Preços de sistemas de baterias em queda estão viabilizando projetos de armazenamento de energia renovável no Sul Global, afirma think tank

Renováveis com baterias já competem com fósseis em países emergentes (Foto: Divulgação RMI)
Jon Creyts, CEO do RMI | Foto: Divulgação RMI

NESTA EDIÇÃO. Preços de sistemas de baterias em queda estão viabilizando projetos de armazenamento de energia renovável no Sul Global, afirma think tank.
 
Eólica e solar estão em plena expansão, mas financiamento segue como um gargalo para que a transição alcance países onde o risco é considerado alto.
 
E ainda: sem consensos e sem documentos até o momento, COP29, marcada para novembro, é oportunidade para mudar as regras do jogo e ajudar economias emergentes.


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Lar de 60% da população mundial, o Sul Global tem experimentado a expansão de instalações solar e eólica a uma taxa de 23% ao ano (2018 a 2023), com essas fontes respondendo por 9% da sua matriz elétrica – na média.
 
As estimativas são do think tank RMI (antigo Rocky Mountain Institute) e indicam que países América Latina, África, Sul da Ásia e Sudeste Asiático estariam apenas cinco anos atrasados em relação à transição de energia limpa em andamento nas demais economias. 
 
Para alcançar os ricos, esses mercados precisam receber uma fatia maior dos fluxos de capital para projetos renováveis, além de superar uma barreira importante: a intermitência.
 
A boa notícia é que com os custos de sistemas de armazenamento em baterias em queda, muitos projetos já conseguem competir com empreendimentos fósseis no Sul Global, conta Jon Creyts, CEO do RMI.
 
“O custo do armazenamento de energia em baterias está caindo tão rápido e a escala está crescendo de tal forma que, em alguns lugares do Sul Global, já vemos propostas com custo competitivo”.
 
Em entrevista à agência eixos no início do mês, durante os eventos ministeriais do G20 de Transições Energéticas em Foz do Iguaçu (PR), Creyts observou que esse cenário – sistemas que combinam energia renovável com armazenamento em baterias vencendo projetos fósseis na viabilidade econômica – era impensável cinco anos atrás.
 
“E o armazenamento de energia deve seguir nessa queda de custos, algo entre 20% 40% ao ano, pelos próximos anos. Há uma tremenda oportunidade para integração de baterias aos projetos renováveis, e financiamento é um ponto chave para isso”.



Publicada nesta semana, a análise do RMI mostra que as instalações de energia renovável estão crescendo mais rápido em economias emergentes e em desenvolvimento do que em países ricos.
 
Um quinto do Sul Global, do Brasil ao Marrocos e Namíbia, de Bangladesh ao Egito e Vietnã, já ultrapassou o Norte Global em termos de participação de energia solar e eólica na geração de eletricidade, ou participação de eletricidade na energia final.
 
Somente em 2024, 87% do investimento em energia nessas regiões foram para tecnologias de baixo carbono, ante cerca de metade há 10 anos.

Parece muito, mas os fluxos de capital para regiões como América Latina e África ainda estão bem abaixo do que é destinado a projetos na Europa.
 
“Financiamento é crítico para dar escala à energia limpa. Mas o que vemos é que apenas 3%, aproximadamente, do capital global para energia renovável está indo para emergentes”, disse o CEO da RMI à agência eixos no início do mês, antes da divulgação do estudo.
 
Além disso, existem diferenças regionais importantes: a América Latina atingiu mais de 13% de participação solar e eólica – com o Brasil alcançando o segundo maior aumento anual do mundo em 2023, atrás apenas da China – enquanto a África e o Sudeste Asiático estão em 5% ou menos.
 
O relatório chega algumas semanas antes das negociações sobre financiamento climático na COP29 em Baku, no Azerbaijão. O desafio é negociar a nova meta quantificada coletiva (NCQG) para apoiar países em desenvolvimento no enfrentamento à crise climática – por enquanto sem acordo.
 
Para Creyts, um gargalo a ser superado para que esses países possam se beneficiar da transição é reduzir os riscos econômicos associados aos projetos.
 
“A chave é retirar alguns dos riscos. Às vezes eles são regulatórios, se os investidores vão ter retorno financeiro. Às vezes existem questões relacionadas ao offtaker, à habilidade de promover contratos assegurando a demanda”. 
 
O executivo conta que a RMI tem trabalhado em cerca de 60 países para ajudar a estruturar acordos entre desenvolvedores, reguladores, investidores e offtakers, na tentativa de mitigar esses riscos.


COP29 sem consenso e sem documento. Às vésperas da COP 29, marcada para novembro em Baku, capital do Azerbaijão, líderes chegarão às negociações sem nenhum documento na mesa para discutir o financiamento climático, disse nesta terça (15/10) a secretária de Mudança Climática do Ministério do Meio Ambiente, Ana Toni. A dificuldade está na meta de financiamento.
 
Guerras podem atrapalhar ainda mais as negociações, avalia o Itamaraty. Segundo Liliam Beatris, diretora do Departamento do Clima do Ministério das Relações Exteriores, a instabilidade internacional impõe desafios adicionais para que os países avancem nas discussões sobre políticas climáticas.
 
300 milhões de euros para resistir a eventos climáticos. Em evento na semana passada – antes do apagão que atingiu São Paulo– José Luis Salas Rincon, diretor de operações de infraestrutura e redes da Enel no Rio, destacou a necessidade de um investimento de 300 milhões de euros (R$ 1,85 bilhão) até 2028 para adaptar as redes elétricas no Brasil a eventos climáticos, como tempestades, ventos extremos e ondas de calor.
 
Flare em alta. As emissões da indústria global de petróleo e gás pela queima de gases (flare) aumentaram 7% em 2023 em comparação com o ano anterior, segundo um levantamento da Rystad Energy. As atividades de exploração e produção emitem cerca de uma gigatonelada por ano de dióxido de carbono, dos quais cerca de 30% vêm do flare.
 
Etanol com selo Corsia. A Unidade São Martinho (USM), localizada em Pradópolis (SP), recebeu certificação internacional atestando que seu etanol de cana-de-açúcar não gera emissão de gases de efeito estufa relacionados ao uso da terra. O selo ISCC Corsia Low LUC Risk (baixo risco no uso da terra) viabiliza o fornecimento do biocombustível para produção de combustível sustentável de aviação (SAF, em inglês) apto a mitigar emissões no acordo internacional do setor.
 
Indústria circular. Pesquisa da CNI mostra que 85% das indústrias instaladas no Brasil desenvolvem pelo menos uma prática de economia circular. Para 68% dos empresários entrevistados, as medidas de economia circular contribuem para a redução de gases de efeito estufa e, consequentemente, para o combate às mudanças climáticas.
 
Renováveis para refugiados. Comunidades de indígenas refugiados no estado de Roraima e abrigos na capital Boa Vista receberão cerca de 700 equipamentos de geração de energia fotovoltaica doados pela Schneider Electric, em parceria com a ACNUR (Agência da ONU para Refugiados) e as empresas BIC, Prysmian, Volga e Novemp. 
 
A iniciativa integra o projeto Business with Empathy e deve beneficiar aproximadamente três mil refugiados e migrantes venezuelanos. Entre os produtos doados estão sistemas de energia solar Homayas, lâmpadas e lanternas portáteis solares Mobiyas, além de lanternas de cabeça Mobiyas Front.
 
Solar na farmoquímica. A comercializadora Flash Energy fechou contrato de geração distribuída com a Soroquality Biotecnologia, empresa da indústria farmoquímica em Goiás, para uma usina fotovoltaica com capacidade instalada de 122,40 kWp (quilowatt-pico). Entregue em setembro, a planta pode gerar cerca de 13.400 kWh e possui direito adquirido na GD1. É o segundo contrato de geração distribuída firmado entre a Flash Energy e a Soroquality. Em agosto, a empresa começou a operar uma UFV com a capacidade de 61,5 kWp.