NESTA EDIÇÃO. BNEF aponta que expansão da demanda por eletricidade para data centers pode prolongar vida útil de usinas fósseis.
Cerca de 362 GW devem ser instalados nos próximos dez anos, sendo mais da metade renováveis e armazenamento. Mas na geração de energia, a balança se inverte.
EDIÇÃO APRESENTADA POR
A demanda incremental por eletricidade proveniente de data centers deve saltar para 1.200 terawatts-hora (TWh) globalmente até 2035 e 3.700 TWh até 2050, estima o New Energy Outlook 2025 publicado pela BloombergNEF nesta terça (15/4).
É um volume significativo: 4,5% da demanda final de energia projetada em 2035 e 8,7% em 2050 – maior do que a carga de ar-condicionado e bombas de calor, que chega a 7,1% em 2050.
Para dar conta desse consumo acelerado de eletricidade em meio à crescente digitalização da economia – e o avanço das aplicações de inteligência artificial – cerca de 362 gigawatts (GW) precisarão ser instalados nos próximos dez anos.
De onde virá essa carga? O cenário conservador da BNEF (chamado transição econômica) indica uma dobradinha renovável e fóssil.
Embora as estimativas de consumo para data centers sejam um tanto incertas, os analistas apontam que energias renováveis (47%) e armazenamento (9%) juntos devem representar mais da metade da capacidade necessária, mas o restante (44%) é de origem fóssil.
No entanto, quando se trata de geração de energia, a balança se inverte. No total, 64% da geração incremental para atender à demanda de data centers provém de combustíveis fósseis e 36% de energias renováveis, alerta o relatório.
“Esta última descoberta parece contradizer a sabedoria popular atual do setor, que coloca a energia solar e eólica no topo da lista na construção de nova capacidade de energia para atender à demanda de data centers, em parte devido a um acúmulo na disponibilidade de turbinas a gás”, diz.
“Nossa modelagem corrobora a forte justificativa para a construção de energias renováveis e armazenamento para alimentar data centers, mas também destaca a possibilidade de que a demanda adicional por data centers possa ajudar a prolongar a vida útil das usinas a carvão e a gás existentes”, completa.
Segundo as projeções, a maior parte da capacidade incremental de carvão e um terço da capacidade a gás associada à demanda de data centers provém de usinas existentes que evitam ou adiam a desativação.
Impacto climático
Em 2022, os data centers consumiram 460 TWh – equivalente ao consumo de 42 milhões de residências nos EUA por um ano.
Se, por um lado, a eficiência energética tem ajudado a moderar o crescimento do consumo de eletricidade desses centros (hoje em torno de 1-1,5% da demanda global), por outro, o setor já responde por 1% das emissões de gases de efeito estufa relacionadas à energia, com cerca de 330 milhões de toneladas de CO2 equivalente emitidas em 2020.
Esse volume precisa cair pela metade até 2030, para alinhar com o objetivo de limitar o aquecimento do planeta a 1,5°C até 2100 – o que será difícil de alcançar com mais energia fóssil alimentando nosso consumo de dados.
Governos ao redor do mundo estão apertando as regras para a construção dos centros, com receio dos impactos sobre as redes elétricas e também sobre as metas climáticas nacionais.
Irlanda, Alemanha, Cingapura e China, bem como regiões dos EUA e Amsterdã, nos Países Baixos, introduziram restrições sobre novos centros de dados nos últimos anos para cumprir requisitos ambientais mais rigorosos. (Financial Times)
Nos EUA de Donald Trump, no entanto, a trajetória passou a apontar para o carvão.
Na semana passada, o presidente republicano assinou uma série de medidas, que segundo ele, visam expandir a mineração e o uso de carvão nos EUA para acelerar o boom de data centers. Grandes consumidores de energia, esses centros de dados podem reavivar a decadente indústria de combustíveis fósseis dos EUA. (Bloomberg)
Cobrimos por aqui
Curtas
Foz do Amazonas. O senador Mecias de Jesus (Republicanos/RR) está propondo uma legislação ambiental específica para a autorização da exploração de petróleo e gás natural na Foz do Amazonas, além de repasses de royalties para a região. O projeto protocolado em março, contudo, acendeu um alerta em ambientalistas.
Mais licenciamento. Marussa Boldrin (MDB/GO) apresentou pedidos para que o PL 10678/2018, da deputada Erika Kokay (PT/DF), também seja apreciado pelas comissões de Minas e Energia, e Integração Nacional. O texto estabelece como requisito obrigatório para para concessão de licença ambiental o consentimento de comunidades indígenas.
Renováveis valorizam mais. As empresas de energia que agregaram fontes renováveis no seu portfólio valorizaram 25% mais que as de matriz energética fóssil nos últimos quatro anos no Brasil, afirma estudo da Strategy &, consultoria estratégica da PwC. Além disso, companhias de energia, de modo geral, valorizaram cerca de 20% no período.
Coalizão para mercados de carbono. O governo brasileiro planeja levar à COP30 uma proposta de integração entre mercados de carbono do Brasil, União Europeia, China e Califórnia, além de atrair outros países. Segundo o secretário-executivo adjunto do Ministério da Fazenda, Rafael Dubeux, a proposta já está em discussão entre os países interessados e fugirá dos trâmites de negociações tradicionais.
COP30. O secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente do Ministério das Relações Exteriores (MRE), André Aranha Corrêa do Lago, deixou o cargo no Itamaraty. A exoneração, a pedido, foi publicada nesta terça (15/4), no Diário Oficial da União. A eixos apurou que Corrêa do Lago se afastou da função para se dedicar à presidência da COP30.
PL para contratação de biogás. A Associação Brasileira de Energia de Resíduos (Abren) está trabalhando em uma proposta de projeto de lei para a contratação de usinas a biogás para suprir potência ao sistema elétrico. O Programa Nacional do Metano Zero vai criar um certificado de origem do biogás, de modo a valorizar os atributos da fonte.
Clima e energia. O Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER) e a TotalEnergies inauguram, nesta segunda (14/4), em Natal (RN), uma usina fotovoltaica piloto onde serão estudados os efeitos de eventos extremos na geração de energia solar. Com investimentos de R$ 5,4 milhões, a usina terá capacidade instalada de 200 kWp e deve entrar em operação no segundo semestre de 2025.
2 GW de microgeração. As instalações de sistemas de micro e minigeração distribuída alcançaram 2,13 GW de potência no Brasil entre janeiro e março 2025, com cerca de 300 mil imóveis residenciais, comerciais e rurais gerando créditos, mostram dados da Aneel. Apenas no mês de março foram conectadas 56 mil novas usinas, sendo quase a totalidade de sistemas solares fotovoltaicos.
Navegando com amônia. O Porto de Roterdã, na Holanda, anunciou na segunda (14/4) que realizou com sucesso um piloto de abastecimento de amônia entre embarcações, no dia 12 de abril. A operação foi conduzida pelas empresas Trammo, OCI e James Fisher Fendercare, e ocorreu no terminal da Maasvlakte 2.
Soja rastreada. A produtora de biodiesel Be8 ampliou a rastreabilidade da soja utilizada na produção do biocombustível no último ano, mostra relatório de sustentabilidade (.pdf) divulgado nesta terça (15/4). Em 2024, a companhia implementou sistemas de geoprocessamento para garantir o rastreio da oleaginosa desde sua origem, assegurando que nenhum hectare de floresta tenha sido desmatado para sua produção.
Embaixadores do clima. Estão abertas as inscrições para o programa “Jovens Embaixadores pelo Clima 2025”, uma iniciativa do The Climate Reality Project Brasil, representado pelo Centro Brasil no Clima (CBC) e correalizado com a Latin American Climate Lawyers Initiative for Mobilizing Action (Laclima). O programa de formação voltado a negociações internacionais sobre mudanças climáticas terá foco na COP30. Inscrições até 23 de abril.