diálogos da transição

Primeira gota comercial de SAF brasileiro será de coprocessado da Petrobras

Petrobras planeja atender demanda inicial por combustível de baixo carbono com coprocessado, até que projetos de biorrefino saiam do papel

Projetos de SAF no Brasil já anunciados poderão suprir 40% da demanda interna, indica EPE. Na imagem: Abastecimento de aeronave da Gol pela BR Aviation (Foto Sindicato Nacional dos Aeroviários)
Abastecimento de aeronave da Gol pela BR Aviation | Foto Sindicato Nacional dos Aeroviários

NESTA EDIÇÃO. Petrobras espera fornecer SAF a partir do coprocessamento de óleos vegetais ao mercado brasileiro ainda em 2025.

Companhia já realizou testes de produção em escala na Reduc, Regap e Replan.


EDIÇÃO APRESENTADA POR

A Petrobras espera colocar no mercado brasileiro o seu combustível sustentável de aviação (SAF) coprocessado ainda no primeiro semestre de 2025, informou a companhia em nota enviada à agência eixos
 
Este SAF será produzido por meio do coprocessamento com 1,2% de óleos vegetais em refinarias como Reduc, Regap e Replan, onde testes em escala industrial já foram realizados com autorização da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). A empresa também planeja testes na Revap.
 
Já a Replan está sendo preparada, até o final de 2026, para produção com maiores teores de conteúdo renovável.

“O combustível de aviação coprocessado já antecipa o Corsia em pelo menos um ano”, disse a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, à jornalistas no final de março.
 
O SAF coprocessado é uma das 11 rotas aprovadas pela ASTM e reconhecidas pela Organização da Aviação Civil Internacional (Icao) para a produção de combustível de aviação sustentável, sendo apto para contribuir nas metas  de descarbonização do transporte aéreo, estipuladas no Corsia
 
Lembrando que na fase voluntária do Corsia (2021-2026), as companhias aéreas brasileiras devem apenas monitorar e reportar suas emissões, sem obrigação de compensá-las.
 
Após 2027, entra a fase obrigatória, em que o saldo de emissões superior a 2020 deverá ser compensado pela compra de créditos de carbono ou do uso de SAF.
 
Já para as metas dos voos domésticos, previstas no Combustível do Futuro, a companhia ressalta que existem algumas questões regulatórias, que já estão em discussão no programa Conexão SAF.
 
Enquanto as refinarias para produção de SAF 100% renovável não saem do papel, a Petrobras acredita que o coprocessado “é suficiente para atendimento dos mandatos de descarbonização nos anos iniciais”. Há pressa para atender aos primeiros clientes. 
 
O projeto da Acelen, de produção de SAF a partir da macaúba, ainda está em fase inicial, com a primeira extração de óleo em fluxo contínuo em escala industrial de macaúba feita em fevereiro. A ideia é produzir 1 bilhão de litros de SAF e diesel verde só a partir de 2027.
 
A Brasil BioFuels (BBF), envolvida em denúncias de violação de direitos humanos, pretendia produzir SAF a partir de óleo de palma ainda no primeiro trimestre de 2025, com contrato de comercialização exclusiva com a Vibra — até agora, nada. 
 
Coube à Vibra importar 550 mil litros de SAF, que partiram da Antuérpia, na Bélgica, rumo ao aeroporto internacional do Rio de Janeiro. 



A descarbonização do transporte aéreo na América Latina e Caribe deve custar US$ 318 bilhões entre 2020 e 2050, ou cerca de US$ 10,2 bilhões por ano, segundo relatório da Associação Latino-Americana e do Caribe de Transporte Aéreo (Alta).
 
Além disso, o documento da Alta (.pdf) recomendou, recentemente, a inclusão de matérias-primas e metodologias regionais em esquemas internacionais – uma agenda que o Brasil abraçou ao longo da presidência do G20, em 2024, na tentativa de superar barreiras à sua biomassa.
 
Estrategicamente, a Petrobras optou pelo SAF coprocessado por entender “que essa é a rota mais rápida de implantação e de menor investimento para o atendimento das metas do Corsia e da Lei do Combustível do Futuro nos anos iniciais”.
 
“Visto que utilizaremos unidades já existentes em nosso parque de refino”, afirma a Petrobras.

Contudo, a companhia também alçará voos mais altos com a implantação de unidades dedicadas para produção de maiores volumes de SAF para atendimento da demanda nos anos subsequentes, “tanto para a aviação doméstica quanto para a internacional”.
 
Para suprir a crescente necessidade futura, a Petrobras planeja implantar unidades dedicadas à produção de SAF, com previsão de operação a partir de 2029. 
 
Essas unidades incluem a Unidade HEFA RPBC em Cubatão/SP, a Unidade HEFA Boaventura em Itaboraí/RJ, com potencial para suprir 34 mil barris/dia de SAF, produzido a partir de óleos vegetais. E a Unidade ATJ Replan em Paulínia/SP, onde vai utilizar a rota alcohol-to-jet, com SAF a partir do etanol. 
 
A empresa também está explorando outras rotas de produção de SAF, como o Fischer-Tropsch, por meio de seu Centro de Pesquisas e Desenvolvimento (Cenpes), alinhado ao seu Programa Biorefino, que pode incluir a utilização de biometano e hidrogênio verde.


Mais óleo e gás… O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), criticou a pressão estrangeira contra a abertura de novas fronteiras exploratórias para o petróleo e gás no Brasil. “É um crime de lesa pátria contra os brasileiros não avançarmos nas pesquisas de potencialidades em todas as áreas energéticas e eu gostaria de destacar a Margem Equatorial“, pontuou durante abertura da gas week, nesta terça (8/4)

… e GNL para frota marítima no Brasil. O CEO da Edge, Demétrio Magalhães, afirmou ao estúdio eixos na gas week, nesta terça (8/4), que a comercializadora está de olho na demanda de 150 rotas para o Brasil com navios movidos a GNL, que hoje não têm alternativa de abastecimento aqui na região.

Gás no Fundo Clima. Deputado Arnaldo Jardim (Cidadania/SP) disse durante a gas week, nesta terça (8/4), que vai se empenhar para derrubar veto presidencial que excluiu a possibilidade de destinar recursos do Fundo Clima para projetos de mobilidade a biometano, biogás, etanol e gás natural na forma de GNC ou GNL. 

GNL em desalinho ao Acordo de Paris. O relatório Paris Maligned III, divulgado pela Carbon Tracker, nesta terça (8/4), aponta que grandes investimentos recentes em projetos de GNL estão agravando o desalinhamento das empresas de petróleo e gás em relação às metas do Acordo de Paris. Embora algumas companhias vejam o GNL como um combustível de transição, a análise mostra que esses empreendimentos, altamente intensivos em capital, elevam o risco de encalhe econômico diante do aumento da oferta global.

Economia circular. Um estudo elaborado pela Fundação Ellen MacArthur defende a adoção de novos critérios pelo GHG Protocol —  principal metodologia usada por empresas para contabilizar suas emissões de gases de efeito estufa (GEE) — capazes de refletir com precisão os benefícios climáticos de práticas circulares, como a reutilização, reparo e prolongamento da vida útil de produtos. (Confira na entrevista à agência eixos)

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