NESTA EDIÇÃO. Quanto maior o preço do carbono, menor deve ser o despacho de termelétricas fósseis no Brasil, indica uma análise da Aurora Energy Research.
Ainda assim, aumento da demanda pela eletrificação da economia deve garantir espaço para termelétricas no longo prazo – e elevar emissões.
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Sancionada em dezembro de 2024, a lei que cria o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões (SBCE) deve tornar a geração termelétrica a partir de combustíveis fósseis mais cara, com aumento de 5% a 8% no PLD (custo da energia elétrica) durante os horários de pico de demanda, no horizonte até 2060, mostra uma análise da Aurora Energy Research.
Simulando um preço de R$ 80 a tonelada do CO2, a consultoria estima que, para as térmicas a carvão, por exemplo, a precificação poderia significar até 20% de aumento nos custos marginais.
Ao mesmo tempo em que discute a regulamentação do SBCE, previsto para entrar em operação até 2030, o Brasil também analisa o futuro da geração termelétrica no contexto de transição e segurança energética.
O setor elétrico atual responde por apenas 4% dos 53% de emissões que serão cobertas pelo futuro mercado regulado.
A alta renovabilidade da matriz brasileira tem garantido a essa indústria baixa intensidade de carbono, mas a tendência de eletrificação da economia pode mudar este cenário.
Análise da Aurora Energy Research indica que, mesmo em diferentes cenários de precificação de carbono, o aumento da demanda por eletricidade se converterá em aumento de emissões.
“Enquanto a precificação de carbono reduz as emissões ao limitar a geração térmica, as emissões totais ainda aumentam conforme a demanda cresce. No Brasil, as usinas a gás permanecem como a principal fonte de capacidade firme nos leilões de reserva, impulsionando maior geração térmica e emissões”, explica o pesquisador sênior da Aurora, Matheus Dias.
Esse aumento, porém, fica menor à medida que o preço do carbono sobe.
O estudo estima emissões acima de 30 milhões de toneladas de CO2 em 2030, sem um mercado regulado, e próxima de 30 milhões de tCO2 com o carbono a R$ 80 a tonelada. Já em um cenário de R$ 160/tCO2, as emissões caíram para algo próximo a 20 MtCO2.
“Um preço de carbono de R$ 160/tCO2 leva a uma redução de 31% nas emissões. Neste cenário, o mercado de carbono geraria quase R$ 60 bilhões com as cotas de alocações e comércio, o que poderia ser direcionado para iniciativas do governo”, aponta Dias.
Baterias para mudar o jogo
Quanto maior o preço do carbono, menor será a geração térmica, já que os custos marginais irão reduzir a competitividade. Não significa, no entanto, que essas usinas a combustíveis fósseis serão eliminadas na matriz.
No longo prazo, a Aurora vê a geração térmica se tornando cada vez mais necessária, a menos que o preço do carbono chegue a um patamar capaz de limitar seu despacho.
A introdução de baterias para armazenamento de energia poderia reverter essa dependência, explica Dias.
“Baterias são tecnologias mais limpas, comparadas às térmicas, então quanto maior for a penetração do armazenamento, menor pode ser nossa dependência das termelétricas. Nós estamos olhando agora como as baterias podem ajudar nas metas da NDC brasileira”.
Vantagem para as eólicas
Como o mercado de carbono tende a elevar os preços da energia no horário de pico, geradores eólicos – disponíveis para o despacho pela manhã e final do dia – podem se beneficiar do novo cenário.
“Introduzir um preço para o carbono pode tornar os negócios renováveis, como eólica onshore, mais atrativos, em relação às térmicas”, comenta Dias.
Destaque para as regiões Sul e Nordeste do Brasil, que podem chegar a 37 GW e 95 GW de capacidade, respectivamente, com a tonelada de carbono custando R$ 160.
Cobrimos por aqui
Curtas
Irreversível. O ano de 2024 marcou novos recordes nos indicadores das mudanças climáticas, com consequências que podem durar séculos, segundo relatório Estado do Clima Global 2024 da Organização Meteorológica Mundial (OMM), divulgado nesta quarta (19/3). Concentrações recordes de CO2, aumento do nível do mar, aquecimento dos oceanos e derretimento das geleiras são alguns dos efeitos irreversíveis apontados.
Eólica offshore. Um grupo de oito entidades do setor elétrico e representantes industriais encaminhou nesta terça-feira (18/3) ao Congresso uma carta pedindo a derrubada dos vetos do presidente Lula (PT) às térmicas incluídas na lei das eólicas offshore. O pedido foi encaminhado ao presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União/AP), e ao presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos/PB).
Hidrogênio para siderurgia. A Comissão Europeia anunciou, nesta quarta (19/3), um plano de ação para o setor de aço e metais, com acesso à energia limpa a preços competitivos e o uso do hidrogênio de baixo carbono entre seus eixos. Segundo Ursula von der Leyen, presidente da Comissão, o plano vem para que o aço, historicamente um motor econômico da região, continue a ser fabricado na Europa.
Na mesma moeda. A Comissão de Meio Ambiente (CMA) do Senado aprovou, na terça (18/3), o substitutivo da senadora Tereza Cristina (PP/MS) ao projeto de lei 2.088/2023 conhecido como PL da reciprocidade ambiental, incluindo medidas de resposta a barreiras comerciais impostas por outros países a produtos brasileiros. O texto agora segue para a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE).
IPI verde. Cobrado pela regulamentação do IPI Verde em visita à fábrica da Toyota em Sorocaba, interior de São Paulo, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin (PSB), voltou a prometer que as regras aos carros que pagarão menos imposto, pela baixa emissão, sairão nas próximas semanas.
Lua para Todos. Distribuidoras de energia não cumpriram a meta de atendimentos do Luz para Todos em regiões remotas de seis dos nove estados da Amazônia Legal em 2024, aponta levantamento do Instituto de Defesa de Consumidores (Idec) baseado em dados do governo. De acordo com o Idec, Acre e Tocantins não contabilizaram qualquer atendimento.
Armazenamento de energia. O Ministério de Minas e Energia vai debater a implantação de sistemas de armazenamento hidráulico em um seminário na quinta (20/3). O objetivo é discutir experiências internacionais em usinas hidrelétricas reversíveis (UHR), em meio à necessidade de aumentar a potência disponível para atender a momentos de pico de consumo.