NESTA EDIÇÃO. Créditos de carbono aceitos pelo Corsia podem chegar a US$ 97/tonelada no início da fase 2 do programa de compensação da aviação.
No mundo todo, há apenas uma projeto jurisdicional aprovado para emissão dos títulos.
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O programa da Organização da Aviação Civil Internacional (Icao, em inglês) para descarbonizar as viagens aéreas pode levar o preço da tonelada de carbono a US$ 97 já em 2027, quando inicia a fase obrigatória, calcula a BloombergNEF em relatório recente.
A valorização de cerca de 28 vezes o preço médio atual dos créditos de carbono do mercado voluntário será motivada pelas altas exigências de integridade do Corsia (sigla em inglês para Esquema de Compensação e Redução de Carbono para a Aviação Internacional) e o alto custo dos combustíveis sustentáveis (SAF).
De acordo com a análise, a disputa por projetos de remoção de carbono deve levar ao crescimento de 5% ao ano até 2035 na demanda por créditos.
Isso porque a principal finalidade do Corsia é manter as emissões de CO2 do setor nos níveis de 2020. Mas o plano das empresas é continuar crescendo e expandindo número de passageiros, o que pode significar aumento de emissões – mesmo com os esforços para reduzir o consumo de querosene fóssil.
Para dar uma dimensão: apenas entre 2022 e 2023 as emissões do transporte aéreo cresceram 22,5%, de acordo com a Icao.
Até 2050, o volume de CO2 lançado pela aviação pode alcançar 1.300-1.800 milhões de toneladas (MtCO₂), três vezes mais que as cerca de 600 MtCO₂ por ano registradas em 2019, antes da pandemia de Covid-19, estima o Climate Action Tracker.
Ou seja, as companhias aéreas vão precisar de um mercado de carbono robusto.
Hoje, são 126 países signatários do acordo internacional ante um projeto de compensação aprovado para uso pelas aéreas, com 15 MtCO2e, na Guiana.
Segundo a BNEF, embora a oferta seja suficiente para cobrir o dobro da demanda na primeira fase do programa (até 2026) – o que significa um preço mais baixo, de US$ 12,4/tonelada – uma mudança brusca deve ocorrer logo no ano seguinte.
“Os preços disparam rapidamente para US$ 96,5/tonelada no primeiro ano da Fase II (2027-35), quando o programa se expandirá para 135 mercados, incluindo Rússia, China e Índia. As necessidades de compensação das companhias aéreas totalizarão 1,23 GtCO2e até 2035”, aponta.
Fator EUA… e Europa
Decisões políticas de dois grandes mercados, no entanto, podem balançar essas projeções.
“Uma grande fonte de incerteza para o Corsia é a participação. Alinhando-se às políticas de Donald Trump, os EUA poderiam sair do programa, reduzindo os requisitos internacionais de compensação em 14%”, observam os analistas da BNEF.
Essa demanda reprimida puxaria o preço dos créditos para baixo, e o pico seria de US$ 44/tonelada em 2030.
De outro lado está a União Europeia, que já tem o seu esquema doméstico de precificação das emissões e inclui o setor aéreo.
“Em contrapartida, a participação da UE depende da eficácia do programa, com uma revisão prevista para 2026. O alinhamento do Corsia com as políticas de descarbonização da UE elevaria os requisitos de compensação em 153% em comparação com o cenário base, elevando os preços para US$ 477/tonelada em 2027”, calcula o relatório.
Oportunidade para o Brasil
Ainda de acordo com as estimativas da BNEF, é possível manter os preços a cerca de US$ 40,4/tonelada em 2035 se houver apoio político para garantir a oferta de ativos dentro dos critérios da Icao, já que os projetos precisam ser jurisdicionais.
E o Brasil é um mercado potencial: o país pode ofertar mais de três bilhões de créditos de carbono por desmatamento evitado, calcula a climatech brasileira Ca’arbom, mas precisa correr para implementar projetos jurisdicionais a tempo de atender à demanda.
Cobrimos por aqui
Curtas
Canadá quer ser superpotência energética. O primeiro-ministro canadense, Mark Carney, disse na terça (13/5), que está disposto a alterar as regras federais que podem representar obstáculos para a construção de projetos de energia e capitalizar a abundância de recursos naturais do país. O premiê disse que procura posicionar o país como uma superpotência energética que inclui, mas não se limita, à produção de petróleo e gás.
US$ 20 bi para data center. O governo Trump informou nesta terça-feira (13/5) que a empresa saudita DataVolt planeja aplicar US$ 20 bilhões em data centers dentro dos EUA, em mais um capítulo da corrida global por investimentos em infraestrutura de dados e energia voltados à demanda por serviços de inteligência artificial.
COP30. A presidência da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), anunciou nesta quarta (14/5) os nomes dos 30 enviados especiais que atuarão como pontes de diálogo entre a organização do evento e setores-chave da sociedade e regiões do planeta. Entre eles está a economista Elbia Gannoum, que atuará na frente temática de energia, como antecipado pela agência eixos.
Biocombustíveis x alimentos. O secretário de Economia Verde do MDIC, Rodrigo Rollemberg (PSB), disse nesta quarta (14/5) que o Brasil deve aproveitar a presidência de fóruns internacionais como a COP30 para mostrar ao mundo que a produção de biocombustíveis não concorre com a de alimentos. Durante evento do setor de biodiesel, o secretário defendeu que é preciso mudar a “imagem distorcida” que outros países têm em relação à agricultura brasileira.
Etanol de milho. Brasil e China firmaram nesta terça (13/5), em Pequim, um acordo que abre o mercado chinês para a importação de coprodutos do etanol de milho brasileiro, como o DDG e o DDGS, usados como ração animal. A assinatura ocorreu durante a visita oficial do presidente Lula (PT) ao país e foi conduzida pelo ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro (PSD).
Cortes na Petrobras. A presidente da Petrobras, Magda Chambriard, disse nesta terça-feira (13/5) que “chegou a hora de apertar os cintos”, em resposta à volatilidade dos preços globais do petróleo, e que a estatal vai cortar custos e ajustar seu plano de negócios ao novo cenário. A palavra de ordem da CEO é “economizar em tudo”. Por ora, contudo, a administração da petroleira não pretende postergar projetos.
Biometano na rede. A ES Gás, concessionária de gás natural canalizado do Espírito Santo controlada pela Energisa, assinou com a Marca Ambiental seu primeiro contrato para injeção de biometano na rede de distribuição no estado. O gás renovável será produzido a partir de resíduos sólidos urbanos no aterro de Cariacica.
Ônibus elétricos em São Paulo. O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) aprovou um financiamento de US$ 248,3 milhões, equivalente a cerca de R$ 1,4 bilhão, para a eletrificação da frota de ônibus do município de São Paulo. O financiamento também auxiliará na melhoria da gestão do sistema de ônibus na cidade.
Plástico rastreado. A Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e a Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast) lançaram, nesta semana, dois selos de rastreamento de materiais plásticos.
O Selo de Conteúdo Reciclado é voltado para marcas e indústrias que utilizam plástico reciclado em seus produtos. Já o Selo de Rastreabilidade é direcionado a empresas recicladoras e transformadoras de plástico que querem oferecer a rastreabilidade de seus produtos aos seus clientes. (Agência Brasil)