diálogos da transição

Pobreza energética expõe ponto cego das COPs

COP30 é oportunidade para colocar luz na agenda de transição justa e abordar pobreza energética em suas diferentes dimensões

Cerimônia de abertura da Pré-COP em Brasília (Foto: Rafa Neddermeyer/COP30 Brasil Amazônia/PR)
Cerimônia de abertura da Pré-COP em Brasília (Foto: Rafa Neddermeyer/COP30 Brasil Amazônia/PR)

NESTA EDIÇÃO. Mesmo com o discurso de transição justa, agenda climática internacional ainda ignora milhões sem acesso à energia.

Pobreza energética precisa ir além do acesso à eletricidade e incluir mobilidade, alerta Ineep.


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Na próxima semana, delegações de 143 países estarão em Belém (PA) para a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), com florestas e transição energética no foco das sessões temáticas.
 
A escolha da capital paraense foi uma estratégia do governo brasileiro para mostrar ao mundo a realidade de populações que vivem na Amazônia, o famoso pulmão do mundo, que também conta com pelo menos um milhão de pessoas sem acesso à eletricidade.
 
Pobreza energética e transição justa são temas recorrentes nos discursos do governo brasileiro, pelo menos desde sua presidência no G20 em 2024, e que terão espaço também na COP30. 
 
Mas, quando se fala em pobreza energética, o foco se concentra, na maioria das vezes, no acesso a eletricidade e modos de cozimento sustentável, deixando de lado um outro segmento importante nesta equação.
 
Estudo (.pdf) do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep) chama atenção para a necessidade de ampliar o debate para incluir a mobilidade — especialmente o transporte público nessa discussão.
 
“O terceiro elemento da dimensão da pobreza energética é a dimensão do transporte. Hoje, uma grande parte dos brasileiros anda a pé ou de bicicleta porque não tem condição de pagar o transporte coletivo”, comenta o pesquisador do Ineep e autor do estudo, José Sergio Gabrielli.
 
Em entrevista à agência eixos, ele observa que a pobreza energética é composta por um conjunto complexo de fatores que, se não entrarem no radar das políticas de transição, correm o risco de serem agravados.
 
“O grande risco da transição energética é que, apesar dela caminhar para uma redução das emissões, ela pode agravar o problema da pobreza energética. Então, é necessário que nós tenhamos políticas específicas”.
 
Ele cita o Luz para Todos e Gás do Povo como iniciativas do Brasil para ampliar o acesso a eletricidade e gás de cozinha, mas aponta que o tema ainda é embrionário nas COPs.
 
“[A pobreza energética] não capturou o coração e as mentes da COP, que fica muito focada na mudança de combustíveis, no combate ao combustível fóssil e na substituição dos fósseis por renováveis, sem discutir essa questão”, critica.



De olho no acesso à eletricidade, na última quinta (30/10), Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e o Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema) firmaram o primeiro acordo de cooperação técnica da agência com uma organização do terceiro setor para lançar o projeto Energias da Floresta.
 
A parceria quer experimentar soluções inovadoras para a prestação de serviços e inclusão energética de povos e comunidades tradicionais da Amazônia. 
 
Segundo dados do Iema apresentados no evento de lançamento em Brasília (DF), além de um milhão de pessoas que vivem sem acesso à energia elétrica de fornecimento público na Amazônia Legal, 3.659 escolas e 966 Unidades Básicas de Saúde (UBS) estão no escuro. 
 
O que exclui essas populações dos serviços básicos e essenciais garantidos pela constituição e gera barreiras logísticas, econômicas e ambientais que dificultam o exercício pleno da cidadania, destaca o instituto.
 
“Estamos presentes na Amazônia há cerca de sete anos, e aprendemos que manter a floresta em pé exige uma nova economia para a região. Mas essa nova economia não se sustenta sem infraestrutura”, comenta André Luis Ferreira, diretor-presidente do Iema.
 
“A Amazônia precisa de uma infraestrutura que fortaleça essa transição, garantindo energia e potência, porque apenas levar luz não é suficiente para apoiar as atividades produtivas e o desenvolvimento local”, completa. 
 
O primeiro projeto a ser incluído nos trabalhos do acordo é o já em curso “Agentes Comunitários de Energia”, idealizado pela Rede Energia e Comunidades, para formação de agentes dentro das comunidades para operar com sistemas de energia solar.


Licença especial para hidrelétricas. A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva (Rede) criticou nesta sexta (31/10) a mudança no licenciamento ambiental aprovada na MP 1304/2025 para empreendimentos considerados estratégicos, a chamada LAE. Medida torna reservatórios e hidrelétricas como empreendimentos estratégicos, retirando poder do conselho do governo.
 
Eletrificando. O BNDES aprovou financiamento de R$ 2,3 bilhões para a Volkswagen desenvolver novas tecnologias de eletrificação em seu portfólio, com foco em modelos híbridos. De acordo com o CEO da montadora, a partir de 2026, todo carro da VW produzido no Brasil será eletrificado.
 
Hidrogênio na frota. O Programa de Desenvolvimento da Cadeia Produtiva de Hidrogênio Verde no Rio Grande do Sul (H2V-RS) selecionou o projeto que a produtora de biocombustíveis Be8 vai desenvolver em Passo Fundo para produção de hidrogênio verde e construção do primeiro posto de abastecimento voltado ao transporte de cargas. O investimento total previsto para o projeto é de R$ 38,7 milhões.
 
Renovação de concessões. O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), cobrou do diretor geral da Aneel, Sandoval Feitosa, celeridade na aprovação da renovação de concessões de distribuidoras, assim como na modernização da CCEE. Segundo o ministro, a agência está politizando questões técnicas e travando decisões tomadas pelo presidente da República.
 
Crise no Rio. O diretor-geral da Aneel, Sandoval Feitosa, reconheceu, nesta sexta (31/10), a necessidade de incluir parâmetros de segurança pública na remuneração das distribuidoras de energia, levando em conta o impacto da da perda de controle territorial para facções criminosas sobre a prestação do serviço.
 
Leilão de transmissão. O 4º leilão de transmissão da Aneel de 2025 teve deságio total de 47,96%, com Receita Anual Permitida (RAP) ofertada pelas transmissoras de R$ 487,3 milhões frente à RAP máxima de R$ 963,8 milhões. O leilão desta sexta-feira (31/10) ofereceu sete lotes, com expectativa de R$ 5,53 bilhões em investimentos.
 
Piloto de eólica offshore. Senai-RN e Dois A Engenharia lançaram edital multiclientes do projeto piloto de eólica offshore localizado em Areia Branca, no Rio Grande do Norte, o único do país com licença prévia do Ibama. Serão investidos aproximadamente R$ 42 milhões na primeira etapa do empreendimento. 

Postergação da IMO é banho de água fria no hidrogênio A indústria de hidrogênio via uma oportunidade de sinalizar demanda e investimentos em combustíveis sustentáveis, como a amônia verde e o e-metanol, escreve Gabriel Chiappini
 
Potencializar mobilidade vai além da venda: passa pelo ciclo de vida do veículo, amplia o acesso e promove a sustentabilidade Ao adotar a perspectiva de ciclo de vida, investimos não apenas em veículos, mas também em um futuro em que a mobilidade efetiva e de qualidade seja acessível, escreve Luis Fabiano Penteado
 
Seletivismo energético: energia solar nos telhados sob ataque, enquanto fósseis seguem com R$ 47 bi em incentivos Fustiga-se o investimento privado que descarboniza e democratiza a geração de energia, ao mesmo tempo em que se preservam bilhões em incentivos aos combustíveis fósseis, escreve Heber Galarce

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