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Petróleo pode ancorar mercado de carbono florestal brasileiro

Indústria fóssil é apontada como estratégica para garantir a estabilidade do nascente mercado de carbono jurisdicional no Brasil

Bragança (PA), 12/06/2025 – Vista de um braço do Rio Caeté em área de manguezal na Reserva Extrativista Marinha de Caeté-Taperaçu monitorada pelo projeto Mangues da Amazônia. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
Bragança (PA), 12/06/2025 – Vista de um braço do Rio Caeté em área de manguezal na Reserva Extrativista Marinha de Caeté-Taperaçu monitorada pelo projeto Mangues da Amazônia. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

NESTA EDIÇÃO. Com projeção de sobreoferta de créditos, setor de óleo e gás pode assumir papel estratégico na consolidação do mercado de carbono jurisdicional.

Isso sem usar os títulos para rotular produtos como “verdes”, nem tornar as compensações prioritárias nas estratégias de descarbonização. 


EDIÇÃO APRESENTADA POR

A corrida de grandes estados brasileiros para certificar sua redução de desmatamento e emitir créditos de carbono promete inundar o mercado voluntário com títulos de maior integridade nos próximos anos — caso consigam resolver questões internas e incluir comunidades indígenas e tradicionais em seus programas.
 
A capacidade de absorção desses créditos por empresas que precisam mitigar suas emissões ainda é incerta, no entanto, tornando a indústria de combustíveis fósseis uma aliada estratégica neste sentido, analisa o diretor-executivo do instituto de pesquisa Earth Innovation (EII), Daniel Nepstad.
 
“Sabemos que se isso for traduzido em produtos carbono neutro, não vai dar certo. Vai ter muita reclamação. Mas existem oportunidades para o setor de energia, principalmente o setor de óleo e gás, fazer uma coisa que pode mudar o jogo”, disse em entrevista à agência eixos.
 
A ideia não é usar os títulos para rotular produtos como “verdes”, nem tornar as compensações prioritárias nas estratégias de descarbonização. 
 
E sim construir um compromisso setorial em torno de um mercado embrionário no Brasil. 
 
Estudo da EII aponta que, só nos nove estados da Amazônia Legal, as receitas podem variar de US$ 10,8 a US$ 21,6 bilhões a partir de reduções de emissões florestais entre 2023 e 2030., considerando uma precificação de carbono entre US$ 10 e US$ 20 a tonelada.
 
O Pará, sede da COP30 este ano, lidera no potencial de arrecadação, que chega a US$ 3.5 bilhões, seguido de Mato Grosso (US$ 2 bilhões) e Rondônia (US$ 1,7 bilhão).
 
Enquanto TocantinsPará e Acre são os estados mais adiantados para ingressar nesse mercado.
 
O conceito de REDD+ Jurisdicional (JREDD+) não é novo. Lançado em 2007, na COP13, de Bali, o mecanismo sobreviveu até agora por doações. Na prática, significa que países submetem seus relatórios de redução de emissões e recebem recursos da ONU por isso — o Fundo Amazônia é um exemplo.
 
A novidade agora é que países e estados — as jurisdições — podem passar a emitir créditos e comercializá-los, uma alternativa extra de monetizar a floresta em pé.
 
A primeira nação a emitir créditos neste mecanismo foi a Guiana, em 2022. Costa Rica e Gana também estão a caminho.
 
Mas o potencial desses países é ínfimo perto do Brasil.



“[Guiana, Costa Rica e Gana] são muito pequenos comparado com os estados brasileiros. Então, é como se fosse um tsunami de créditos entrando no mercado voluntário emitidos pelos estados do Brasil. Todos usando o mesmo padrão”, comenta Nepstad.
 
“E esse volume pode ser tão grande que inunda o mercado com créditos de alta qualidade. Em 2024, mundialmente, no mercado voluntário, havia cerca de 40 milhões de toneladas de CO2 em créditos transacionados para REDD+. Em 2026, só Pará, Tocantins e Acre poderiam [transacionar] 100 milhões [em créditos JREDD+].
 
Com tanto crédito assim entrando no mercado, é preciso alinhar a demanda, ou a sobreoferta de títulos puxará os preços para baixo, reduzindo a remuneração dos esforços de proteção da floresta.
 
É aí que entra o setor de óleo e gás. Na visão do ecologista que atua na Amazônia desde a década de 1980, a indústria energética tem tudo para alavancar esse mercado. 
 
“Existe a possibilidade do setor de energia assumir um compromisso, sem falar de offset, de comprar uma coisa mínima para o óleo e gás ao nível global. [Apenas] 1% das emissões da combustão desses produtos seria uma maneira de multiplicar por 10 o volume de créditos transacionados hoje”, estima Nepstad.


Brasil leva tarifaço à OMC. O governo brasileiro divulgou nesta quarta (6/8) que apresentou à Organização Mundial do Comércio (OMC) o pedido de consultas aos EUA sobre as medidas tarifárias que podem elevar para até 50% as alíquotas sobre produtos importados. As sobretaxas começam a valer hoje. 
 
Apelo aos governadores. O presidente da ApexBrasil, Jorge Viana, disse nesta quarta (6/8), que estão sendo mapeados os estados norte-americanos mais dependentes de produtos brasileiros para articulação em nível local.

  • Expectativa é sensibilizar governadores para ajudar nas conversas com Washington. Também estão sendo mapeados os estados mais dependentes dos minerais críticos.

Petróleo russo. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou a ameaçar sanções comerciais contra países que importam petróleo da Rússia. Caso um cessar-fogo não seja alcançado até sexta-feira (8/8), o republicano prometeu impor penalidades que podem chegar a taxas próximas de 100%.
 
Exportações de etanol em queda. Os Estados Unidos exportaram 657,46 milhões de litros de etanol em junho, queda de 6% ante maio, informou associação de produtores local. O recuo foi puxado pela União Europeia, que importou 36% a menos.
 
Energia com equidade. O Pacto Nacional pela Equidade de Gênero na Energia promove nesta quinta (7/8) um evento com foco no papel das mulheres na construção de soluções para o enfrentamento da crise climática.

  • A iniciativa reunirá lideranças do setor energético e representantes de organizações nacionais e internacionais no auditório do MME em Brasília, das 8h30 às 17h. 

Powershoring. O Instituto E + Transição Energética Brasil lançou uma plataforma para integração de dados estratégicos sobre infraestrutura, recursos energéticos, emissões e indústrias.

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