Diálogos da Transição

Petrobras planeja primeiro hub brasileiro de armazenamento de CO2

Petroleira defende arcabouço regulatório; PL do Combustível do Futuro, previsto para sair nas próximas semanas, terá capítulo para CCS

Demanda global por petróleo desacelera em 2022 e 2023, projeta Opep. Na imagem, FPSO Carioca no campo de Sépia, na Bacia de Santos (Foto: Bram Titan/Agência Petrobras)
FPSO Carioca no campo de Sépia, na Bacia de Santos (Foto: Bram Titan/Agência Petrobras)

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Editada por Nayara Machado
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A Petrobras estuda implantar no Brasil um hub de captura e armazenamento de carbono (CCS, na sigla em inglês) e vai começar por um projeto piloto no terminal de Cabiúnas, em Macaé (RJ), uma das bases da principal província petrolífera do país.

Segundo o gerente executivo de Reservatórios da companhia, Tiago Homem, a ideia do hub é criar uma infraestrutura de escoamento do CO2 a partir de locais de captura em instalações industriais – até seu armazenamento permanente feito em um reservatório abaixo do mar.

O investimento pretende ajudar a reduzir as emissões de gases de efeito estufa das próprias operações, e envolver outros setores, como indústria de cimento e siderúrgicas.

O primeiro passo será o piloto no Rio de Janeiro, com capacidade de capturar 100 mil toneladas de CO2 por ano. Também em fase de estudos, a previsão de implantação depende de análises complementares.

Homem explica que o projeto de Macaé vai contribuir para testar tecnicamente as soluções e ajudar o país a construir um arcabouço regulatório que fomente este tipo de projeto.

“A regulação é um dos principais desafios para o desenvolvimento de CCS no Brasil, assim como a busca por aquíferos salinos com capacidade de armazenar grandes volumes de CO2”, comenta.

Em seguida, o objetivo é criar um hub de CCS no Rio de Janeiro, que reúna grandes emissores industriais — os clientes potenciais do serviço prestado pela Petrobras. Esse cluster do Rio terá capacidade para 25 milhões de toneladas por ano e a companhia está estudando outros pontos no país.

  • No final de junho de 2022, a estatal chegou a anunciar um acordo com a Braskem para avaliar oportunidades de desenvolvimento conjunto de um hub de captura, uso e armazenamento geológico de CO₂ (CCUS – o “U” significa que os projetos também usam o CO2 como insumo). Relembre

Pelo mundo

A petroleira brasileira segue a direção de grandes empresas do O&G que já começaram a firmar os primeiros contratos comerciais nos hubs que se desenham ao redor do mundo.

Em agosto do ano passado, Yara e Northern Lights, uma joint venture de propriedade da Equinor, Shell e TotalEnergies, firmaram o primeiro contrato internacional para transporte e armazenamento de CO₂ no Mar do Norte.

Prevê o transporte de CO₂ capturado da fábrica de amônia e fertilizantes da Yara na Holanda para armazenamento permanentemente na plataforma continental na costa da Noruega.

Dois meses depois, a ExxonMobil e a fabricante de produtos de hidrogênio e nitrogênio CF Industries anunciaram o maior acordo comercial para capturar e armazenar permanentemente até 2 milhões de toneladas de CO₂ anualmente na Luisiana, estado do sudeste dos Estados Unidos.

A CF Industries está investindo US$ 200 milhões para construir uma unidade de desidratação e compressão de CO₂ em sua instalação de Donaldsonville, na Louisiana, para permitir que o CO₂ capturado nas suas operações possa ser transportado via rede de gasodutos.

Atualmente, existem 15 hubs CCUS no mundo, em vários estágios de desenvolvimento. Um estudo da McKinsey sugere que cerca de 700 clusters poderiam ser estabelecidos globalmente.

Direção mais verde

No que depender do novo diretor de Transição Energética da Petrobras, Maurício Tolmasquim, o plano da companhia para reduzir sua pegada de carbono nos próximos anos levará à diversificação do investimento em renováveis – além das eólicas offshore – e à busca de parcerias com outras empresas.

“Sem dúvida a gente tende a diversificar o portfólio de renováveis e não ficar apenas na eólica offshore”, disse Tolmasquim à agência epbr, em sua primeira entrevista após assumir a pasta, durante a Offshore Technology Conference (OTC), em Houston, no Texas (EUA).

Nessa missão, captura de carbono e hidrogênio entram em cena como fortes candidatas. Confira a entrevista completa

Marco legal

Considerado uma tecnologia emergente, o CCS ainda aguarda um marco legal no Brasil e há uma promessa de que essa demanda avance no governo Lula, com a retomada do programa Combustível do Futuro – e o foco que vem sendo dado na agenda de reindustrialização verde.

Durante audiência na Comissão de Minas e Energia da Câmara, nesta quarta (3/5), o secretário de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis do MME, Pietro Mendes, disse que o governo espera apresentar nas próximas semana o projeto de lei do Combustível do Futuro, que tem um capítulo dedicado ao CCS.

O texto permitirá, de forma voluntária, a utilização da tecnologia de captura e estocagem de CO2 por empresas ou consórcios. Também designará à ANP a competência para regular, fiscalizar e conceder as autorizações.

“Hoje, o que trava o desenvolvimento desse programa é não ter especificado qual é a agência responsável pela [regulação da] captura e estocagem geológica de CO2”, disse o secretário.

Além do setor de óleo e gás, o CCS promete ganhos ambientais para bioenergia e térmicas. Segundo Mendes, a produção de etanol pode ter a pegada de carbono negativa com a aplicação da tecnologia.

Cobrimos por aqui:

Curtas

Mercado de carbono florestal

Em votação simbólica, o Plenário do Senado  aprovou na terça-feira (2/5) a medida provisória que muda regras da lei de gestão de florestas públicas por concessão, permitindo a comercialização de créditos de carbono. O texto aprovado ainda permite a outorga de direitos sobre acesso ao patrimônio genético para fins de pesquisa, desenvolvimento e bioprospecção e sobre a exploração de recursos pesqueiros ou da fauna silvestre. Agência Senado

Fake news lucrativa

Estudo de uma coalizão internacional de mais de 50 grupos de defesa ambiental, mostra que o YouTube lucra com vídeos que retratam a mudança climática como uma farsa ou exagero. Os pesquisadores listam 100 vídeos, vistos pelo menos 18 milhões de vezes no total, que violam a própria política do Google.

Além disso, o levantamento encontrou vídeos acompanhados de anúncios de grandes marcas como Adobe, Costco, Calvin Klein e Politico. Até mesmo um anúncio do mecanismo de busca do Google apareceu antes de um vídeo que afirmava não haver consenso científico sobre a mudança climática. Folha

O estudo foi divulgado esta semana, em meio a uma campanha do Google contra o PL das Fake News (PL 2630/2020), que cria medidas de combate à disseminação de conteúdo falso nas redes sociais, como Facebook e Twitter, e nos serviços de mensagens privadas, como WhatsApp e Telegram. Agência Brasil

Em busca de startups

A Eneva está selecionando startups que forneçam soluções para comercialização e monetização de gás e energia. As startups interessadas em participar da chamada podem se inscrever até o dia 15 de junho através do site desafioinovaeneva.com.br. Objetivo é selecionar startups com novas soluções para suportar a Eneva na abertura do mercado livre.

Saindo do carvão

A Alemanha reativou recentemente 8 GW de usinas a carvão para compensar a perda do fornecimento de gás russo. No entanto, isso não significa que a eliminação do carvão do país esteja em risco, analisa o think tank E3G. O governo elevou a meta de renováveis para 80% até 2030, durante a crise energética. A meta mais alta coloca a Alemanha no caminho para um setor elétrico quase totalmente baseado em energia renovável até 2035.