Diálogos da Transição

Para população do G20, governos estão falhando no enfrentamento à crise climática

Apenas um terço de entrevistados concorda que seu governo está fazendo o suficiente para enfrentar as mudanças climáticas, mostra pesquisa

Para população do G20, governos estão falhando no enfrentamento à crise climática (Foto: Audiovisual G20 Brasil)
Na presidência do G20 em 2024, Brasil elenca transição energética justa entre prioridades (Foto: Audiovisual G20 Brasil)

NESTA EDIÇÃO. Entre as maiores economias do mundo, há uma percepção de que as ações humanas estão levando a natureza a um ponto de não retorno e é preciso agir imediatamente, mas seus governos não estão no caminho.

Pesquisa conduzida pela Ipsos UK e encomendada pela Earth4All e Global Commons Alliance (GCA) mostra apoio da população brasileira à criminalização de ações que causem sérios danos à natureza e ao clima.

Ao mesmo tempo, pessoas que vivem em nações emergentes percebem-se mais expostas a secas, inundações e clima extremo. 

E ainda: Carvão no PL das eólicas offshoreDesafios à vista na regulação do hidrogênioPetrobras e Embrapa juntas na química verde.


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Pesquisa com a população de 18 países do G20, além de Áustria, Dinamarca, Quênia e Suécia, mostra que a maioria das pessoas está “muito” ou “extremamente” preocupada com as consequências das ações humanas sobre a natureza e o clima – com os emergentes reconhecendo que estão mais expostos.

Além disso, 59% acreditam que a natureza já está muito danificada para continuar atendendo às necessidades dos humanos a longo prazo e apenas 33% concordam que seu governo está fazendo o suficiente para enfrentar as mudanças climáticas e os danos ambientais.

Os países do G20 representam cerca de 85% do PIB global, 78% das emissões de gases de efeito estufa, mais de 75% do comércio internacional e cerca de dois terços da população mundial, o suficiente para colocar essas economias no centro das soluções – ou dos problemas – para enfrentamento à crise climática.

Cerca de 70% das 22 mil pessoas entrevistadas on-line no início deste ano pela Global Commons concordam que as atividades econômicas estão empurrando a Terra para além dos pontos de inflexão (tipping points) e que é preciso reduzir as emissões de carbono até o fim da próxima década.

  • Tipping points são os pontos de não retorno a partir dos quais os cientistas dizem que a natureza não será mais capaz de se recuperar. Neste cenário, a perda florestal da Amazônia, por exemplo, seria irreversível.
  • Na COP28, em novembro de 2023, mais de 200 cientistas divulgaram um estudo alertando que o mundo está à beira de cruzar linhas perigosas em pelo menos cinco sistemas cruciais para a humanidade.


Nos países do G20 (exceto Rússia), 72% das pessoas concordam que aprovar ou permitir ações que causem sérios danos à natureza e ao clima deve ser considerado um crime – esse percentual sobe para 83% considerando apenas os brasileiros, e cai para 43% entre os japoneses.

A pesquisa chega em meio a mudanças legislativas relacionadas ao tema em diferentes partes do mundo. No início deste ano, a Bélgica reconheceu o ecocídio como um crime federal.

Chile e França também já aprovaram legislações do tipo, enquanto Itália, México, Holanda, Peru e Escócia, entre outros, discutem o tema.

No Brasil, o PL 2933/2023 do deputado Guilherme Boulos (Psol/SP), atual candidato à prefeitura de São Paulo, tipifica o crime de ecocídio. O texto foi aprovado em novembro pela Comissão de Meio Ambiente e aguarda designação de relator na de Constituição e Justiça (CCJ). 

Pessoalmente, a maioria dos entrevistados da pesquisa do G20 expressou otimismo sobre seu próprio futuro (62%), o que contrasta com as expectativas em relação ao do planeta: apenas 38% se dizem otimistas sobre o futuro do mundo.

“Em geral, os entrevistados no G20 estavam céticos de que a tecnologia pode resolver problemas ambientais – apenas 39% concordaram que as novas tecnologias podem resolver problemas ambientais sem que os indivíduos tenham que fazer grandes mudanças em suas vidas”, diz a pesquisa.

Mas há diferenças regionais marcantes. As pessoas que vivem em nações emergentes percebem-se mais expostas a choques ambientais e climáticos, como seca, inundações e clima extremo.

A preocupação com o estado da natureza hoje foi maior no Brasil, Turquia, Argentina, Indonésia, México, África do Sul, Índia e Quênia do que em países de alta renda na Europa, além de Japão e Arábia Saudita.

Outro dado obtido no levantamento é que aqueles expostos a ameaças climáticas e aqueles que se interessam por política têm mais probabilidade de se preocupar com a natureza e o planeta.

No geral, mulheres, pessoas com menos de 24 anos, e/ou com filhos também demonstraram maior inquietação com o futuro.

Cerca de 74% das mulheres defendem ações imediatas para lidar com as questões ambientais e climáticas, ante 68% dos homens. Elas também são significativamente menos propensas a acreditar que a tecnologia pode resolver problemas ambientais sem que os indivíduos tenham que fazer grandes mudanças no estilo de vida (35% em comparação com 44% dos homens).


Carvão no PL das eólicas offshore. O secretário de Meio Ambiente Urbano e Qualidade Ambiental do Ministério do Meio Ambiente, Adalberto Maluf, criticou a tentativa, via Congresso, de prorrogar até 2050 os contratos de usinas a carvão situadas na região Sul. Segundo ele, seria melhor fazer uma transferência direta de renda às famílias impactadas, distribuindo recursos e fechando as usinas.

Hidrogênio natural. A ocorrência conjunta de hidrogênio e gás natural é um dos aspectos técnicos que precisa receber atenção especial, segundo relatório divulgado pela ANP. Entenda a discussão na coluna de Gabriel Chiappini.

Hub de bioeconomia. O Centro de Bionegócios da Amazônia (CBA) receberá o primeiro hub de inovação em bioeconomia da região Norte, em uma parceria da ABDI com Sebrae e Fundação Amazonas Sustentável. Uma área no CBA, projetada há 22 anos para ser um hotel, mas que nunca funcionou como tal, será transformada em um espaço para startups e aceleradoras voltadas à bioeconomia.

Parceria Petrobras e Embrapa. Termo de cooperação assinado na sexta (6/9) mira estudos técnicos em matérias-primas renováveis para a produção de biocombustíveis, química verde e fertilizantes. A parceria envolve o desenvolvimento pela Petrobras de soluções tecnológicas e a implantação de unidades para produção de biocombustíveis e bioprodutos.

Financiamento climático. O Tesouro Nacional fará o primeiro leilão para que os bancos possam tomar uma linha de crédito subsidiada para financiar projetos da economia verde. Trata-se do primeiro passo concreto do Eco Invest, programa criado no primeiro semestre para atrair capital privado internacional para financiar a transição da economia do país para baixo carbono. (Reset)

Laranja com crédito de carbono. A Embrapa quantificou quanto seria o preço de uma tonelada de carbono retirado ou não emitido pela citricultura no Brasil: US$ 7,72. O estudo mostra que cada hectare de citros chega a estocar duas toneladas de carbono por ano, o que pode ampliar a renda dos produtores com a venda dos créditos gerados. (Estadão

Hidrogênio na África do Sul. A União Europeia prometeu nesta segunda (9/9) dar à África do Sul dois subsídios no valor de cerca de US$ 35 milhões para acelerar seus planos de hidrogênio verde. Serão 140 milhões de rands (US$ 7,8 milhões) para ajudar a estatal Transnet com custos de infraestrutura, apoiando ferrovias, portos, oleodutos e outras áreas logísticas. Outros 25 milhões de euros (US$ 27,6 milhões) serão para ajudar no desenvolvimento da cadeia de valor de hidrogênio verde. (Reuters)