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Diálogos da Transição
Editada por Nayara Machado
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O papel do governo federal é induzir, sem impor, o setor privado a adotar a agenda de descarbonização, defendeu na quinta (18/4) o secretário-executivo do Ministério dos Transportes, George Santoro.
Santoro participou do painel de encerramento da gasweek 2024, produzida pela agência epbr, sobre o espaço do gás na transição energética.
Durante o evento, o secretário deu alguns exemplos de como o ministério está trabalhando para incentivar que as empresas do setor de transportes no Brasil abracem a agenda de redução de emissões e sustentabilidade.
Um deles é o novo modelo de concessão de rodovias, que prevê a destinação de 1% da receita obtida pela concessionária para projetos de mitigação ou adaptação climática.
A previsão é movimentar R$ 300 milhões por ano em ações sustentáveis.
Segundo o secretário, as concessionárias têm liberdade para escolher a solução que mais faz sentido para seus negócios – podendo ir desde proteção de florestas até investimentos em redes de carregamento elétrico ou infraestrutura para corredores de caminhões a gás.
A renovação da frota para substituir os veículos a diesel que fazem transporte pesado de longa distância por caminhões a gás é outra frente de trabalho do ministério.
Santoro conta que a recente autorização da Senatran (Secretaria Nacional de Trânsito) para que veículos movidos a GNL pudessem ter um tamanho maior do que o permitido até pouco tempo é mais um passo em direção a descarbonização do setor e algumas montadoras já estão de olho nesse novo mercado.
Pelas estimativas do Ministério dos Transportes, se todo o diesel consumido no frete fosse trocado por GNL, a redução de emissões poderia chegar a 44 milhões de toneladas de CO2 ano.
Transição à brasileira
Os caminhões a gás abrem caminhos para que um outro combustível ganhe mercado no Brasil: o biometano.
Produzido a partir da purificação do biogás, a molécula do biometano é idêntica à do gás natural derivado de petróleo, mas tem uma série de atributos socioambientais.
O combustível tem como matéria-prima os resíduos agropecuários e também de aterros sanitários.
“O marco do saneamento deu visibilidade ao biogás, e tem muitas empresas pensando em investimentos de longo prazo”, conta Hugo Nery, diretor-presidente da Marquise Ambiental, que também participou do painel de transição.
Segundo Nery, as empresas precisam agora de segurança jurídica para realizar os investimentos.
Em parceria com a MDC, a Marquise opera a GNR Fortaleza – primeira e única planta de biometano do Nordeste, que já corresponde a até 20% de todo o gás natural comercializado pela Companhia de Gás do Ceará (Cegás).
O grande mercado hoje é a indústria, mas políticas como o Combustível do Futuro – que estabelece um percentual obrigatório de aquisição do biometano pode ajudar a expandir o leque de consumidores.
A Associação Brasileira do Biogás (Abiogás) espera que o Brasil chegue a 2030 produzindo cerca de 30 milhões de metros cúbicos de biometano por dia, o que poderia atender parte da demanda brasileira por diesel, que em 2023 foi de 65,5 bilhões de litros no total.
Mapeamento da Abiogás entre as empresas associadas identificou um volume entre 800 mil e 1 milhão de m3/dia para entrar em operação até o final de 2024, chegando na casa dos 6 milhões de m3/dia até 2029, com 86 plantas de produção.
A visão do setor é que, na medida em que as políticas públicas vão preparando o caminho para novos combustíveis, incentivando a demanda e dando segurança jurídica, essas soluções vão ganhando escala e se tornando mais acessíveis ao consumidor.
Além disso, enxergam no biometano uma estratégia para interiorizar a distribuição de gás no Brasil, já que as plantas de biogás estão espalhadas pelo interior do país.
“O Brasil deve desenvolver o seu modelo de transição, observando os custos, para que a transição energética seja justa”, observa Ludmilla Cabral, coordenadora de Relações Institucionais e Governamentais da ABiogás.
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