NESTA EDIÇÃO. Reunião copresidida por Brasil e Japão discute estratégia para quadruplicar combustíveis sustentáveis até 2035.
Ocorre às vésperas da COP30 e da sessão da Organização Marítima Internacional para definir mecanismo de descarbonização dos navios.
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Um grupo de 34 países divulgou esta semana um conjunto de ações necessárias para quadruplicar a produção e uso de combustíveis sustentáveis até 2035, com base nos níveis de 2024, incluindo etanol, biodiesel e biometano, mas também SAF (aviação), metanol e amônia (navios).
Um dos focos é reduzir custos. Para isso, apostam na colaboração e diversificação de matérias-primas, tecnologias e mix de combustíveis.
Na segunda (15), o grupo se reuniu pela primeira vez na Reunião Ministerial sobre Combustíveis Sustentáveis, em Osaka, no Japão, copresidida pelo Brasil e pelo país anfitrião.
Sede da COP30 este ano, o Brasil abraçou a bandeira dos biocombustíveis como solução para substituir combustíveis fósseis no setor de transportes, aproveitando sua vocação já consolidada na produção de etanol e biodiesel.
Dois setores, em particular, estão despertando a atenção da indústria: aviação e navegação.
Muito mais difíceis de eletrificar, eles precisam de combustíveis líquidos de baixo carbono para substituir querosene e bunker derivados de petróleo e cumprir suas metas net zero até 2050. Mas a oferta é escassa.
O transporte aéreo emite cerca de 2% dos gases de efeito estufa (GEE) globais e, já a partir de 2027, será obrigado a mitigar ou compensar suas emissões. O SAF é uma das principais estratégias para reduzir as emissões, mas a produção limitada desafia o setor.
A expectativa da Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata, em inglês) é que a oferta do combustível sustentável alcance 2,5 bilhões de litros ou 0,7% do consumo total de combustível das companhias aéreas em 2025.
Já a navegação, responsável por cerca de 3% das emissões globais, é 98% abastecida por combustíveis fósseis convencionais. Os outros 2% (2357 navios) usam alternativas de menor emissão, como GNL, motores híbridos com baterias, GLP, metanol, amônia e hidrogênio.
Esta indústria tem reunião marcada para outubro, na Organização Marítima Internacional (IMO), para bater o martelo sobre seu mecanismo net zero.
Diversificar para escalar
Para escalar a produção dos novos combustíveis, o grupo de países — incluíndo Alemanha, Austrália, Coreia do Sul, Croácia, Itália e Nova Zelândia — lista uma série de medidas necessárias, como apostar em múltiplas alternativas e “redobrar os esforços e a colaboração” para diversificar matérias-primas, inclusive aproveitando infraestruturas existentes, e reduzir custos.
O SAF é um exemplo dessa necessidade de diversificação. Embora existam sete rotas de produção reconhecidas internacionalmente, apenas uma fornece o combustível em escala comercial hoje: a de Ácidos Graxos e Ésteres Hidroprocessados (HEFA, em inglês), que utiliza óleos e gorduras.
E ela deve continuar predominante nos próximos dez a quinze anos, até que as de querosene parafínico sintético (FT-SPK) e de alcohol-to-jet (ATJ) ganhem mercado.
A navegação é outro. Enquanto combustíveis derivados de hidrogênio verde, como metanol e amônia, não ganham escala, opções já disponíveis como biodiesel e etanol podem começar a abastecer os navios, entregando resultados de mitigação.
Em ambos os casos, é preciso desenvolver e certificar novas matérias-primas sustentáveis.
No resumo sobre a reunião de Osaka, o Ministérios das Relações Exteriores menciona também a necessidade de considerar diferentes pontos de partida e circunstâncias nacionais e faz menções aos motores flex fuel e híbridos.
Ao mesmo tempo, defende colaboração para reduzir custos de tecnologias como captura, utilização e armazenamento de carbono (CCUS) para combustíveis sustentáveis.
Cobrimos por aqui
Curtas
Tarifa social. Nomes expressivos da direita na Câmara dos Deputados votaram contra a MP 1300/2025, do programa do governo federal “Luz do Povo”, que prevê tarifa gratuita para cerca de 60 milhões de brasileiros de baixa renda. A MP foi aprovada na última quarta (17/6) na Câmara e no Senado e seguiu para sanção do presidente Lula (PT).
Empregos ameaçados. O setor de energia limpa adicionou 100.000 empregos em 2024, crescendo 2,8% e empregando mais de 3,5 milhões de pessoas, de acordo com o grupo de defesa ambiental E2. Mas o relatório da organização alerta que muitos deles podem desaparecer devido aos esforços do governo Trump para bloquear as energias renováveis. (Reuters)
Demanda elétrica. O consumo de eletricidade no Brasil deve crescer cerca de 3,3% ao ano até 2035, segundo estimativas do Plano Decenal de Expansão de Energia 2035 (PDE 2035), e alcançar 939 TWh. A maior expansão média deve ser registrada pelo setor de comércio e serviços, com 4,7%.
Medidores inteligentes. O Ministério de Minas e Energia (MME) abrirá, na segunda-feira (22/09), a consulta pública sobre as diretrizes para implantação de medidores inteligentes no Brasil. A consulta inclui a implantação no curto prazo de medidores inteligentes adicionais em 4% das unidades consumidoras de suas áreas de concessão.
Olimpíada de Eficiência Energética. Termina no dia 30 de setembro o prazo para que professores do 8º e 9º ano do ensino fundamental se inscrevam para a Olimpíada Nacional de Eficiência Energética (ONEE) 2025. A iniciativa premiará alunos e professores.
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O que pensam os “CEOs do hidrogênio”? Apesar das turbulências e revisão de projetos, executivos seguem confiantes de que o energético terá papel central na descarbonização global, escreve Gabriel Chiappini
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Inovação e contratação de talentos estrangeiros: o desafio do compliance em novos cenários Novos arranjos regulatórios expõem vácuos jurídicos e reforçam a necessidade de diálogo entre governo e empresas na contratação internacional, escreve Diogo Kloper