Diálogos da Transição

Países ricos seguem aumentando produção de fósseis

Apenas produtores menores terminaram – ou se comprometeram a encerrar – a produção de petróleo e gás, aponta CAT

E&P e indústria têm trilhões a ganhar em cenários de transição. Na imagem: cavalos-de-pau para exploração onsore de petróleo e turbina eólica (Foto: Wiki Commons)
Mesmo com a redução do consumo de combustíveis fósseis, mundo ainda dependerá de investimentos em exploração e produção de petróleo e gás ao menos até 2050 (Foto: Wiki Commons)

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Diálogos da Transição

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Editada por Nayara Machado
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Uma análise da plataforma Climate Action Tracker (CAT), que rastreia a ação climática de governos, mostra que mesmo países ricos como Estados Unidos, Noruega, Canadá e Austrália continuam aumentando a produção e as exportações de petróleo, gás e carvão, enquanto despejam subsídios no setor.

Embora todos eles tenham metas de emissões líquidas zero até meados do século e estejam aportando recursos em energias renováveis e tecnologias de baixo carbono, o CAT alerta que nenhum dos maiores produtores de combustíveis fósseis do mundo se comprometeu a encerrar novos investimentos em petróleo e gás, em vez de expandi-los.

“Apenas produtores muito menores terminaram – ou se comprometeram a encerrar – a produção de petróleo e gás. Alguns governos, como a Noruega, são creditados por suas metas razoavelmente boas de redução de emissões domésticas, mas continuam com exportações massivas de petróleo e gás”.

De acordo com o levantamento, os EUA, maior produtor mundial de petróleo e gás, mais do que dobraram a produção de petróleo desde 2010 e aumentaram a de gás em 60%.

Até 2021, as exportações de O&G representaram cerca de 1,6 bilhão de toneladas de CO2 (GtCO2) de emissões. E sua produção está projetada para continuar aumentando.

Austrália, maior exportadora mundial de GNL, projeta um crescimento de 11% na produção entre 2020 e 2030, visando exportar 88 milhões de toneladas anuais até o final da década.

A fabricação e combustão desse volume provocam emissões de cerca de 275 MtCO2 equivalente por ano, calcula o CAT.

Já as exportações de combustíveis fósseis da Noruega são cerca de dez vezes maiores do que as emissões domésticas.

“Um acordo de eliminação gradual de petróleo e gás é o que devemos ver saindo da COP28, juntamente com o acordo de uma meta global para energia renovável para permitir isso”, defende Mia Moisio, do NewClimate Institute.

Acordo que está bem longe de ocorrer. O presidente da conferência do clima da ONU deste ano, Ahmed al-Jaber, tem declarado que o encontro tem que decidir pela “eliminação gradual das emissões de combustíveis fósseis”.

Ao colocar o foco nas emissões, a pressão migra para adoção de alternativas que descarbonizem a indústria fóssil, como as tecnologias de captura e armazenamento de carbono (CCS), ao invés de acabar com todo um setor.

Ahmed al-Jaber é CEO da petroleira dos Emirados Árabes Adnoc, país que sediará, em novembro, o principal evento mundial sobre clima. E está cercado de animosidade por sua relação com o O&G.

Segurança energética versus climática

O sultão claramente não está sozinho. O G7 – grupo dos sete países mais industrializados do mundo – adotou uma linguagem flexível em relação ao papel dos combustíveis fósseis na matriz global, especialmente considerando aspectos de segurança energética.

E a Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês) aponta que óleo, gás e carvão terão lugar na matriz energética até 2050, assim como indica que será preciso acelerar o investimento em CCS.

O CAT, por outro lado, critica essa abordagem, por entender que os principais produtores de petróleo e gás estão desviando a atenção da necessidade real de reduzir pela metade as emissões de gases de efeito estufa até 2030 – o que significa reduzir a produção global de combustíveis fósseis.

“É necessária uma meta global de energia renovável mais ambiciosa (…) um valor superior a 1 TW de capacidade adicionada por ano, em média, a partir de hoje e nas próximas décadas. Isso apoiará a eliminação completa dos combustíveis fósseis no setor elétrico”, pedem os cientistas.

Transição justa?

As maiores companhias petrolíferas ocidentais pagaram US$ 110 bilhões em dividendos e recompras de ações em 2022. Valor que supera a meta de US$ 100 bilhões dos países ricos que prometeram financiamento para nações emergentes fazerem sua transição, compara o CAT.

O grupo também observa que, apesar dos apelos urgentes das COPs anteriores para fortalecer as metas climáticas nacionais em 2022 e 2023, nenhum país importante o fez este ano. As estimativas de temperatura sob as metas de 2030 permanecem em 2,4°C até 2100 – a meta é 1,5°C.

Cobrimos por aqui:

 

Curtas

Lula diz que Brasil vai exportar hidrogênio verde

“Vamos investir mais em eólica, em solar e continuar em biomassa. Vamos ser produtor de hidrogênio verde, porque o mundo está necessitando e o Brasil pode ser exportador para o mundo todo. Estamos no centro do mundo quando se discute a transição energética”, disse o presidente em live na segunda-feira.

Acordo para proteção dos oceanos

A ONU adotou o primeiro tratado do mundo para proteger o alto mar e preservar a biodiversidade marinha em águas internacionais O acordo estará aberto para assinatura em Nova York por dois anos a partir de 20 de setembro. Ele entrará em vigor depois que 60 países ratificarem. Reuters

Mineração em alto mar

Enquanto isso, o governo norueguês propôs nesta terça-feira (20/6) abrir suas águas para a mineração em alto mar, sob protesto de ativistas e alguns governos preocupados com impactos ambientais.

A Noruega, cujas vastas reservas de petróleo e gás o tornaram um dos países mais ricos do mundo, assumiu um papel de liderança na corrida global para explorar o fundo do oceano em busca de metais que estão em alta demanda à medida que os países se afastam dos combustíveis fósseis. Reuters

Opep investe em renováveis

O Fundo OPEP para o Desenvolvimento Internacional (Fundo OPEP) assinou acordo com a Agência Internacional de Energia Renovável (Irena) para dar até US$ 250 milhões até 2030 para projetos de energia renovável nos seus países parceiros.

Eletrificando 1

A Raízen, empresa de bioenergia licenciada da marca Shell, iniciou a operação de abastecimento de aeronaves utilizando um caminhão 100% elétrico da Volkswagen no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos (SP).

O veículo e-Delivery será recarregado em uma estação da Shell Recharge, com potência de 60 kW, instalada dentro da área de operações do aeroporto, que permitirá uma recarga completa do veículo em cerca de uma hora. A eletricidade virá de fonte 100% renovável, fornecida pela Raízen.

Eletrificando 2

A DP World Santos, um terminal privado do porto de Santos, está eletrificando seus guindastes de movimentação de contêineres para reduzir o consumo de diesel nas operações. A companhia tem meta global de neutralizar as emissões de carbono até 2040.

O projeto prevê a adaptação de 22 equipamentos. A primeira máquina já está em funcionamento, outras quatro devem ser eletrificadas até o final de 2023 e o restante em 2024. Com investimento de mais de R$ 80 milhões, a DP World espera reduzir o consumo de diesel do terminal em até 60%.

Derretendo

As geleiras do Himalaia Hindu Kush, na Ásia, podem perder até 75% de seu volume ao final do século devido ao aquecimento global, causando inundações perigosas e escassez de água para 240 milhões de pessoas que vivem na região montanhosa, de acordo com um novo relatório.

Uma equipe internacional de cientistas apontou que a perda de gelo na região, que abriga os famosos picos Everest e K2, está 65% mais rápida em comparação com a década anterior. Agência Brasil