Diálogos da Transição

Países africanos pedem imposto global sobre o carbono

Pedido integra a Declaração de Nairóbi, em que nações da África reafirmam meta de 300 GW de energia renovável até 2030

Países africanos querem imposto global sobre carbono (Foto: Africa Climate Summit)
Presidente do Quênia, Williams Ruto, e chefes de Estado africanos na divulgação da 'Declaração de Nairobi dos Líderes Africanos sobre Alterações Climáticas e Apelo à Acção' (Foto: Africa Climate Summit)

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Editada por Nayara Machado
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A primeira Cúpula do Clima da África terminou nesta quarta (6/9) com um apelo aos países responsáveis pela maior parte das emissões de gases do efeito estufa para que apoiem um imposto global sobre combustíveis fósseis, transporte marítimo e aviação.

O pedido integra a Declaração de Nairóbi, que recebeu o nome da cidade do Quênia onde os líderes africanos se reuniram com chefes de Estado e ministros do clima do resto do mundo para debater a transição justa africana no início da semana.

O continente é rico em minerais críticos à transição energética e está na mira de economias industrializadas que precisam desses insumos para sua indústria de renováveis e veículos elétricos.

Mas os países africanos têm suas próprias urgências.

Com 43% do continente (600 milhões de pessoas) ainda sem acesso à energia, serão necessários investimentos de US$ 25 bilhões por ano para expandir o fornecimento de eletricidade – e descarbonizada.

De onde virão os recursos é uma questão crucial.

Na Declaração de Nairobi, os líderes do continente de 1,3 mil milhões de pessoas cobram os US$ 100 bilhões prometidos por países ricos e pedem reformas financeiras para ajudar a transição energética, argumentando que, para dobrar o investimento em energia requer medidas urgentes capazes de reduzir os custos de financiamento e aumentar o acesso ao capital.

Transição justa pede financiamento

O documento deve basear a posição das nações africanas nas negociações climáticas da COP28, no final do ano, nos Emirados Árabes.

O país sede da conferência climática da ONU, aliás, anunciou US$ 4,5 bilhões para energias renováveis na África. Ao todo, as promessas feitas esta semana por governos, setor privado e bancos multilaterais somam US$ 23 bilhões.

Mas a declaração alerta que desbloquear o crescimento verde em todo o continente “numa escala que possa contribuir significativamente para a descarbonização da economia global” exige um aumento maciço do financiamento.

“Exigimos condições justas para que os nossos países tenham acesso ao investimento necessário para desbloquear o potencial e traduzi-lo em oportunidades”, disse o presidente queniano William Ruto.

Em suas redes sociais, Ruto celebrou o comunicado como um marco dos esforços coletivos dos países africanos, com “um apelo urgente à comunidade internacional para que dê prioridade às necessidades econômicas e ecológicas da humanidade”.

300 GW de energia limpa até 2030

Essa é a meta expressa pelos africanos no encerramento da cúpula de Nairóbi, e demandará US$ 600 bilhões em investimentos nos próximos sete anos para ser cumprida. Em 2022, o continente alcançou 56 GW em instalações renováveis.

Publicado também nesta quarta, relatório da Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês) mostra que, embora a África represente quase 20% da população mundial e tenha amplos recursos (como os minerais da transição), é o destino de apenas cerca de 2% dos gastos globais com energia limpa.

De acordo com o documento (.pdf em inglês) o custo de capital para projetos de energia limpa no continente é pelo menos duas a três vezes superior ao dos países ricos.

“Isto impede os investidores de avançarem com projetos comercialmente viáveis ​​que possam fornecer soluções energéticas acessíveis”, observa a IEA.

A pandemia de covid-19 e a guerra na Ucrânia pioraram o custo de capital. Mas historicamente o continente é negligenciado.

A crise climática começa a mudar o olhar internacional. Segundo a IEA, para que o mundo cumpra o Acordo de Paris e mantenha o aumento da temperatura abaixo de 1,5ºC, o investimento em energia no continente precisa mais do que dobrar até 2030, com quase dois terços destinados às renováveis.

Junto com o Banco de Desenvolvimento Africano (AfDB), a agência conclui que é preciso disponibilizar mais financiamento nas fases iniciais dos projetos e reduzir riscos de investimentos para atrair capital.

“Isto exigirá um forte envolvimento dos setores público e privado, bem como o apoio de instituições estrangeiras e nacionais”, completa.

Cobrimos por aqui:

Curtas

Reforma financeira também na Cúpula da Colômbia

Esta semana também foi marcada pela Cúpula Finanças em Comum na Colômbia, com mais de 100 organizações assinando um documento que convoca os bancos de desenvolvimento a adotarem ações tangíveis que priorizem e protejam as pessoas.

O chamado à ação enfatiza que para concretizar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e o Acordo de Paris, os bancos públicos de desenvolvimento devem mudar para uma abordagem baseada em direitos humanos e que priorize o envolvimento liderado pela comunidade.

O encontro encerrou nesta quarta com um novo plano focado em combater a poluição nos oceanos e uma reformulação na iniciativa global de títulos verdes. A discussão da reforma dos bancos de desenvolvimento será retomada na reunião anual do Banco Mundial e do FMI em Marrakesh, no mês que vem. As informações são do Climainfo.

No Brasil, títulos soberanos poderão financiar energia e combustíveis renováveis

O governo federal lançou na terça (6/9) o conjunto de regras que vai permitir a emissão de três alternativas de títulos soberanos sustentáveis. A ideia é carimbar a captação de recursos para bancar o orçamento público com critérios de sustentabilidade social ou ambiental.

Recordes ruins

A Terra acaba de ter os três meses mais quentes já registrados, de acordo com o serviço meteorológico europeu Copernicus. O mês passado foi o agosto mais quente da história por uma larga margem – e o segundo mês mais quente desde sempre, depois de julho de 2023.

Combustível de glicerina para aviação

A Agência de Cooperação Alemã (GIZ) e o Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER) inauguram uma planta piloto no Rio Grande do Norte para produção de combustível sustentável de aviação (SAF, sigla em inglês), utilizando hidrogênio verde da glicerina – subproduto do biodiesel.

Vapor de biomassa

A ComBio anunciou hoje que recebeu um aporte da Lightrock, gestora global de private equity, e da SPX Capital para expandir os projetos de geração de vapor a partir da queima de biomassa.

A empresa brasileira tem uma carteira de nove projetos em operação e um em implementação em plantas industriais, além de 13 caldeiras em operação e evitou emissões de 437 mil toneladas de CO2 na atmosfera em 2022. Em 2024, a perspectiva é de que esse corte nas emissões chegue a 800 mil toneladas.