newsletter
Diálogos da Transição
APRESENTADA POR
Editada por Nayara Machado
[email protected]
Os Emirados Árabes Unidos apresentaram na semana passada a terceira atualização da sua Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC, em inglês) para cortar emissões e ajudar o planeta a limitar o aquecimento a 1,5°C até 2100, mas o plano ainda é insuficiente, segundo cientistas do Climate Action Tracker (CAT).
O país foi escolhido para sediar, em novembro deste ano, a 28ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP28) e é um dos primeiros a apresentar uma nova NDC à ONU.
Embora o governo tenha aumentado sua ambição climática, o CAT observa que há “muito pouca ação na economia real”, já que o plano é continuar aumentando a produção e consumo de combustíveis fósseis.
De acordo com relatório publicado hoje (20/7), as emissões continuarão aumentando até 2030, quando deveriam cair 35% abaixo dos níveis de 2021 para serem compatíveis com 1,5°C.
“Por causa de sua nova e mais forte meta NDC, a classificação geral do CAT para os Emirados Árabes Unidos melhorou de ‘Altamente insuficiente’ para ‘Insuficiente’, mas com incertezas sobre como planejam atingir a meta, seus desenvolvimentos planejados de combustíveis fósseis também o tornariam inatingível”, explica o documento.
A nova NDC estabelece uma meta de redução de emissões para 185 MtCO2e até 2030 (excluindo mudança de uso da terra e silvicultura), uma redução de 14% em relação à meta anterior e 13% abaixo dos níveis atuais.
O CAT classifica esse objetivo como “Quase suficiente” no cenário doméstico e “Altamente insuficiente” em comparação com a parcela justa do país em relação às demais economias – ambas as subclassificações melhoraram com a nova NDC.
Estratégia de energia
A atualização da Estratégia de Energia para 2050 do sétimo maior produtor de petróleo do mundo inclui meta de 30% de capacidade de “energia limpa” até 2030 e investimentos de US$ 54 bilhões em energias renováveis nos próximos sete anos.
“No entanto, a estratégia ainda prevê um grande papel para o gás fóssil em 2050, o que está em desacordo com a meta declarada dos Emirados Árabes Unidos de atingir emissões líquidas zero até então”, observa o CAT.
Concorrendo com a ambição climática está a meta de alcançar a autossuficiência de gás natural e aumentar as exportações de O&G.
O país tem investido fortemente na produção de gás offshore, após a descoberta de campos de até 57 bilhões de m3.
A empresa nacional de petróleo dos Emirados Árabes Unidos (Adnoc) – cujo CEO é o presidente designado da COP28 – estabeleceu um plano de investimento de US$ 150 bilhões para a expansão de petróleo e gás.
Entre as estratégias para avançar com o O&G de forma menos agressiva ao clima está o desenvolvimento de projetos de captura e armazenamento de carbono e captura direta de ar. Falta, no entanto, especificar a escala de reduções e remoções de CO2 que esses investimentos pretendem alcançar.
Incompatíveis com 1,5°C
Os Emirados Árabes não estão sozinhos. O CAT rastreia 39 países e a União Europeia, cobrindo cerca de 85% das emissões globais e nenhum deles conseguiu a classificação de compatível.
O Brasil está no quadro dos insuficientes. A última atualização da NDC foi apresentada em abril de 2022, ainda durante a gestão de Jair Bolsonaro (PL), com revisões que organizações ambientais classificaram de ‘pedaladas climáticas’ – as metas ficaram mais fracas que as originais apresentadas em 2016.
Com a mudança de governo, há uma grande expectativa de que o Ministério do Meio Ambiente, comandado por Marina Silva (Rede), corrija a pedalada.
Enquanto isso não ocorre, a NDC brasileira mais recente contribui para elevação de temperatura acima de 3°C no final do século. Desmatamento e previsão de expansão da geração térmica a gás natural estão entre os principais fatores elencados pelo CAT.
Cobrimos por aqui:
- G7 pede compromissos net zero até 2050 enquanto flexibiliza políticas fósseis
- COP27 e o descompasso entre discurso e ação
- Segurança energética versus climática: os dois cenários da Shell
- Ondas de calor e chuvas extremas evidenciam urgência de mais ações climáticas, alerta agência da ONU
Curtas
Novos mercados para o etanol
O etanol brasileiro quer conquistar mercados na Ásia e na África e se posicionar como uma alternativa à eletrificação em economias emergentes com características semelhantes às do Brasil.
Esta semana, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), foi à Índia com uma comitiva que inclui empresários do setor em busca de novos negócios na área de biocombustíveis. O foco é exportar as tecnologias de etanol e veículos híbridos flex.
Menos de seis anos
Esse é o prazo até que o orçamento de carbono da Terra se esgote. Neste sábado (22/7), o Relógio do Clima chega ao Brasil e será projetado no Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, entre 17h e 21h, marcando, pela primeira vez, menos de seis anos. Neste sábado, ele passará de 6 anos 0 dias 00:00:00 para 5 anos 364 dias 23:59:59.
Desenvolvido por um grupo internacional de cientistas e ativistas, o marcador mostra que resta pouco tempo para manter o aumento médio da temperatura terrestre em níveis minimamente seguros para a humanidade.
Carros voadores no Brasil
A fabricante Eve Air Mobility, subsidiária da Embraer, anunciou nesta quinta (20/7) a instalação da primeira fábrica de veículos elétricos de pouso de decolagem vertical (eVTOL, na sigla em inglês) em Taubaté, no interior de São Paulo. Os primeiros modelos dos “carros voadores” estão previstos para entrar em operação em 2026.
Chamada para artigos
A Revista Tempo do Mundo, editada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), está recebendo submissões de artigos para a 32ª edição, com o tema Segurança, Integração e Transição Energética Justa. O prazo final para envio é 31 de julho de 2023. Mais informações podem ser encontradas no site do Ipea.
Shell Startup Engine está com as inscrições abertas
O programa de aceleração recebe inscrições até o dia 11 de agosto pelo formulário do site. Podem participar startups em estágio inicial a médio de maturidade, que atuem com as temáticas de soluções baseadas na natureza, agricultura e florestas sustentáveis; descarbonização em upstream; soluções energéticas (plataformas e marketplaces) e tecnologia social.