Diálogos da Transição

Os três obstáculos à economia de baixo carbono na América Latina

Assim como seus vizinhos latinos, Brasil ainda precisa resolver alguns problemas estruturais para melhorar produtividade e integração global

Mercado de carbono é fundamental para transição energética, diz CEO da Abeeólica (Foto: Divulgação/Banco do Nordeste)
Indústria defende celeridade na definição de marcos legais que incentivam investimentos em descarbonização no Brasil (Foto: Divulgação/Banco do Nordeste)

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Editada por Nayara Machado
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Educação, infraestrutura e custo de capital são os três principais obstáculos para a América Latina destravar seu potencial e surfar a onda da economia de baixo carbono, a exemplo de mercados ricos, como Estados Unidos e Europa, mostra um relatório (.pdf) do Banco Mundial publicado esta semana.

Rica em insumos fundamentais para tecnologias de transição energética, América Latina e Caribe (ALC) têm pela frente o desafio de converter esses recursos em desenvolvimento tecnológico e industrial e riqueza para sua população.

É uma preocupação presente nos discursos do governo brasileiro, por exemplo. Com políticas como a reforma tributáriaNova Indústria Brasil e Plano de Transformação Ecológica, a gestão de Lula 3 tenta traçar uma rota de desenvolvimento verde.

Mas, assim como seus vizinhos latinoamericanos, ainda precisa resolver alguns problemas estruturais para melhorar sua produtividade e integração global.

De acordo com o Banco Mundial, a ALC avançou significativamente na estabilização econômica nas últimas décadas, mas o crescimento está estagnado e é preciso agir – urgente – para reverter esse cenário.

A previsão é que o PIB regional cresça 1,6% em 2024, e 2,7% e 2,6% em 2025 e 2026, taxas mais baixas em comparação com todas as outras regiões do mundo.

“O baixo crescimento persistente não é apenas uma estatística econômica, é uma barreira para o desenvolvimento. Se traduz em serviços públicos reduzidos, menos oportunidades de emprego, salários deprimidos e maior pobreza e desigualdade. Quando as economias estagnam, o potencial de seu povo é limitado”, comenta Carlos Felipe Jaramillo, vice-presidente do Banco Mundial para a ALC.

Baixos níveis de investimento e consumo doméstico, juros elevados e altos déficits fiscais, queda nos preços das commodities e incerteza nas perspectivas de importantes parceiros como os EUA, China, Europa e outros países do G7 contribuem para manter as taxas no chão.

Tensões geopolíticas, interrupções de remessas pelo Canal de Suez e os impactos do El Niño sobre a produtividade enfraquecem ainda mais as perspectivas.

É possível superar

O relatório defende que políticas e instituições de competição poderiam alavancar essas economias.

Com a inflação recuando na região – exceto Argentina e Venezuela – ficando em uma média de 3,5%, em comparação com 5,7% nos países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), a recomendação é “enfrentar desafios de longa data”, como reformas em infraestrutura, educação e comércio.

“Uma agenda que impulsiona o crescimento é aquela que aborda essas lacunas seriamente. Caso contrário, a região permanecerá estagnada e não será capaz de atrair investimentos ou aproveitar novas oportunidades, como o nearshoring  ou a economia de baixo carbono”, defende William Maloney, economista-chefe do Banco Mundial para a ALC.

O estudo faz três recomendações voltadas a fomentar a competição. “Quando a competição é sustentada por políticas sólidas, instituições e estruturas, as empresas inovam, tornam-se mais eficientes e fornecem avanços tecnológicos”, diz.

Isso também se refletiria em preços mais baixos para os consumidores – um ponto fundamental para incentivar a transição para produtos com menor intensidade de carbono.

  • Fortalecer as agências de competição: inclui garantir sua independência e fazer cumprir sua capacidade de implementar regulamentações antitruste e pró-competitivas, especialmente para grandes empresas. Isso também envolve promover práticas sólidas de gestão pública e treinar funcionários.
  • Apoio a políticas de inovação: políticas complementares que estimulem as empresas a inovar e as movam na escada tecnológica, para que possam competir, adotar novas técnicas e crescer.
  • Aprimoramento de habilidades gerenciais: isso deve ocorrer junto com uma agenda para melhorar a educação em todos os níveis, preparando estudantes e a força de trabalho para prosperar em ambientes competitivos.

Países endividados

Um dos entraves para países de renda média e baixa resolverem seus problemas estruturais e, consequentemente, ganharem competitividade é a situação fiscal.

São mercados que enfrentam mais dificuldades em conseguir empréstimos e pagar suas dívidas, porque são submetidos a juros mais altos.

Segundo as Nações Unidas, 52 economias de baixa e média renda estão em sobreendividamento ou em alto risco de sobreendividamento, representando mais de 40% das pessoas mais pobres do mundo.

É neste cenário que a reforma das instituições financeiras globais vai ganhando cada vez mais espaço nas discussões sobre transição energética justa. Como exigir que países que ainda estão lutando contra a fome tenham o mesmo nível de investimento em descarbonização que nações ricas?

Um primeiro passo foi dado no ano passado, durante a COP28, com a criação do tão aguardado fundo para a recuperação das nações mais vulneráveis aos impactos da crise climática.

Mas faltam trilhões de dólares ainda.

Nesta sexta (12/4), o presidente do Banco Mundial, Ajay Banga, disse que a instituição está trabalhando em uma nova iniciativa de titularização que poderia atrair grandes quantidades de capital privado para os emergentes.

“Estamos no início de um esforço de anos para construir uma plataforma de titularização para os mercados emergentes, tornando mais fácil para os investidores institucionais – fundos de pensões, companhias de seguros e fundos soberanos – trazerem uma parte dos US$ 70 trilhões sob sua gestão para esses países em desenvolvimento”, afirmou Banga à Reuters.

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