NESTA EDIÇÃO. Em 2023, o mundo perdeu cerca de US$ 2,29 trilhões com desastres. De acordo com a ONU, a cifra atual é 10 vezes maior do que a estimada anteriormente.
Pequenos países em desenvolvimento sentem mais os prejuízos e precisam desembolsar quase metade do PIB para lidar com eventos climáticos.
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Relatório divulgado nesta terça (27/5) pela agência da ONU para redução de riscos de desastres (UNDRR) alerta que as estimativas atuais sobre os impactos econômicos de emergências naturais como terremotos, deslizamentos de terra e inundações são subestimadas e o valor real já está próximo de US$ 2,3 trilhões.
Em 2023, o mundo perdeu cerca de US$ 2,29 trilhões com desastres. No ano anterior, US$ 1,9 trilhão. Em 2020, a despesa era de US$ 248 bilhões.
De acordo com a ONU, a cifra atual é 10 vezes maior do que a estimada anteriormente (US$ 200 bilhões), com efeitos de longo alcance em saúde, moradia, educação e emprego.
E reforça que eventos climáticos estão ficando cada vez mais frequentes: uma pessoa nascida em 1990 tem 63% de chance de vivenciar uma inundação catastrófica, algo que ocorre uma vez a cada século, durante sua vida. Para uma criança nascida em 2025, essa probabilidade sobe para 86%.
“Esses eventos estão afetando a todos nós”, resume Jenty Kirsch-Wood, chefe de análise de risco global da UNDRR.
A precificação desses danos é importante para dar perspectivas quando o mundo está prestes a renegociar a implementação de suas ambições climáticas.
Marcada para novembro de 2025, em Belém (PA), a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30) será destinada a discutir as metas definidas pelas mais de 190 nações signatárias do Acordo de Paris para cortar emissões de gases de efeito estufa até 2035.
Além de mitigação, a presidência da cúpula – que este ano está com o Brasil – também elencou como prioridade os indicadores do Objetivo Global de Adaptação (GGA), incluindo questões como avaliação de impactos, vulnerabilidade e riscos, planejamento, implementação e monitoramento.
Segundo a UNDRR, as perdas financeiras causadas por desastres dobraram nas últimas duas décadas, dado que demonstra urgência na colaboração entre a comunidade internacional para mobilizar investimentos capazes de criar resiliência a desastres futuros e aliviar a pressão sobre as finanças públicas.
Para Kirsch-Wood, a maior parte dos danos causados por eventos climáticos pode ser evitada. O desafio é alinhar os sistemas de financiamento e usar investimentos públicos e privados para reduzir a pressão sobre as contas dos governos.
Algumas conclusões do relatório:
- Quase 240 milhões de pessoas foram deslocadas por desastres entre 2014 e 2023.
- China e Filipinas relataram mais de 40 milhões de pessoas deslocadas cada, enquanto Índia, Bangladesh e Paquistão tiveram números variando de 10 a 30 milhões.
- Os altos custos associados aos eventos climáticos — e a dívida que eles geram — afetam desproporcionalmente os países em desenvolvimento e as populações vulneráveis.
Tamanho importa
Tempestades, secas, calor extremo e até grandes terremotos têm impactos financeiros mais significativos em países menores, embora o valor global seja maior em grandes economias.
O relatório traz como exemplo a América do Norte versus a Micronésia, uma nação insular da Oceania, composta por cerca de 607 ilhas que se estendem por cerca de 2,9 mil km.
Em 2023, a América do Norte registrou US$ 69,57 bilhões em perdas diretas relacionadas a desastres — mais do que qualquer outra região — mas isso representou apenas 0,23% do PIB da região, aponta a ONU.
Em contraste, a Micronésia sofreu apenas US$ 4,3 bilhões em perdas, mas isso significou 46,1% de seu PIB.
“Quando desastres ocorrem repetidamente, o crescimento econômico frequentemente desacelera e a dívida aumenta. Os países em desenvolvimento, particularmente os pequenos Estados insulares, enfrentam o duplo desafio de maior exposição a riscos e acesso limitado a recursos para redução de riscos”, explica o relatório.
Sem prevenção, mais dinheiro acaba sendo gasto em respostas humanitárias, em uma bola de neve que vai ficando cada vez maior, conforme os eventos se tornam mais frequentes.
Cobrimos por aqui
Curtas
Foz do Amazonas 1. O MPF recomendou a exclusão dos 47 blocos na bacia da Foz do Amazonas, que farão parte do próximo leilão de concessão, marcado para 17 de junho. Entre as justificativas para a exclusão dos blocos, os procuradores listam a dificuldade de licenciamento do bloco FZA-M-59, o indeferimento da licença pelo Ibama e a elevada sensibilidade ambiental.
Foz do Amazonas 2. A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, afirmou que a criação de quatro unidades de conservação na Margem Equatorial, no Norte brasileiro, não impede a exploração econômica da região.
- Em audiência pública no Senado na manhã desta terça-feira (27/5) Marina disse que, ao contrário de apontamentos feitos durante a sessão, o Ibama não está atrasando análises de forma proposital. “O Ibama não facilita ou dificulta, cumpre a lei”, afirmou.
Outras fronteiras. A ANP anunciou na segunda (26/5) que se uniu à Marinha numa iniciativa para reivindicar, junto à ONU, a expansão dos limites da plataforma continental brasileira na região da Margem Oriental/Meridional.
- O trabalho, iniciado este mês, busca o direito de soberania de áreas submersas do litoral Sul, Sudeste e Nordeste – num movimento semelhante ao que resultou, em março, no reconhecimento da ONU sobre a ampliação da plataforma na Margem Equatorial (Norte/Nordeste).
Novo perfil de consumo. Até 2060, data centers, hidrogênio e carros elétricos devem passar de 2% para 16% da demanda de energia do Brasil, segundo a Aurora Research. A consultoria concluiu que os novos projetos podem diminuir o curtailment de usinas do Nordeste em até 55% em 35 anos.
Eletronuclear pede nova suspensão de dívidas. A Eletronuclear já solicitou a nova suspensão do pagamento de dívidas com a Caixa e BNDES até dezembro de 2026, afirmou o presidente da estatal nuclear, Raul Lycurgo, nesta terça-feira (27/5). Sem uma solução do governo para a remuneração e financiamento da construção de Angra 3, a companhia conta com a renegociação dos juros das dívidas, como mostrou a agência eixos, em abril.
Renovações de concessões. A diretoria da Aneel confirmou nesta terça o aval à renovação de contrato de quatro distribuidoras: EDP São Paulo, CPFL Piratininga, Equatorial Maranhão e Neoenergia Pernambuco. Cabe agora ao Ministério de Minas e Energia formalizar os termos aditivos.
Fronteira de carbono. Os países da União Europeia aprovaram nesta terça-feira (27/5) a redução do alcance do mecanismo de ajuste de fronteira de carbono do bloco. A mudança ainda precisa passar pelo Parlamento. Se for adiante, o mecanismo se limitará a apenas 10% das empresas cobertas pelo esquema, que são responsáveis por mais de 99% das emissões abrangidas pelo programa.
Vendas da Tesla caem na Europa. As vendas da Tesla caíram 49% em 32 países da Europa, em abril, apesar da aceleração do crescimento do mercado de carros elétricos, de acordo com levantamento do setor. No total, foram 7.261 veículos entregues, ante 14.228 no mesmo mês em 2024, o que indica uma reação negativa contra o CEO da montadora, Elon Musk, por suas posições políticas.
Ações da BYD caem em Hong Kong. As ações da montadora chinesa despencaram 8,6% na segunda-feira (26/5) após o início de uma nova rodada de cortes de preços na China. A medida reacendeu a guerra de preços no setor, pressionando também os papéis de concorrentes como a Leapmotor, que caiu 8,4%.