NESTA EDIÇÃO. Responsáveis por 40% das emissões globais, oito setores mais difíceis de descarbonizar precisam avançar com investimentos para substituir combustíveis fósseis.
Segundo Fórum Econômico Mundial, quase metade das reduções de emissões necessárias podem ser alcançadas com tecnologias comercialmente viáveis já disponíveis.
E ainda: Missão 5 do Nova Indústria Brasil escolhe diesel verde, SAF, hidrogênio e biometano como prioridades.
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Aço, alumínio, cimento, produtos químicos primários, petróleo e gás, aviação, transporte marítimo e rodoviário precisarão de US$ 30 trilhões em investimentos adicionais para atingir o zero líquido até 2050, de acordo com estimativas divulgadas nesta quinta (12/12) pelo Fórum Econômico Mundial (WEF, em inglês).
Desse total, US$ 13 trilhões em financiamento direto das indústrias e US$ 17 trilhões para um ecossistema mais amplo, como fornecedores de energia para essas companhias.
Juntos, esses oito setores respondem por quase 40% das emissões globais de gases de efeito estufa e são cruciais para alinhar a economia às ambições de limitar o aumento da temperatura a 1,5°C até o fim do século.
A boa notícia: entre 2022 e 2023, essas indústrias alcançaram uma redução de 0,9% nas emissões absolutas, enquanto as emissões globais relacionadas à energia aumentaram 1,3% no mesmo período, mostra o Net Zero Industry Tracker 2024.
A má: elas ainda estão muito longe do ritmo para atingir o zero líquido até 2050.
“Alcançar o net zero até 2050 exigirá colaboração sem precedentes e inovação financeira em todos os setores para levantar o capital necessário. No entanto, já possuímos muitas das tecnologias e estruturas de políticas para agir agora”, analisa Roberto Bocca, chefe do Centro de Energia e Materiais do WEF.
O relatório conclui que quase metade das reduções de emissões necessárias podem ser alcançadas com tecnologias comercialmente viáveis já disponíveis. Prova disso é que essas soluções contribuíram com uma queda de 4,1% na intensidade de carbono desses setores chamados hard to abate (difíceis de abater).
O WEF pontua ainda que a formulação de políticas mais fortes serão cruciais para desbloquear o potencial das tecnologias emergentes e avançar com a transição industrial.
Rota de descarbonização
Mesmo com um aumento médio de 9,2% na demanda geral dos oito setores difíceis de abater entre 2019 e 2023, cinco deles – alumínio, cimento, produtos químicos, aviação e transporte rodoviário – reduziram sua intensidade de emissão.
Esse desempenho é resultado de maior uso de energia de baixo carbono, menor consumo de carvão, maior eficiência energética e mais metais reciclados.
Mas ainda precisam superar barreiras como altas taxas de juros, incertezas políticas, restrições comerciais e disponibilidade limitada de novas tecnologias de energia limpa.
O WEF aponta, por exemplo, que as infraestruturas de hidrogênio renovável e captura, armazenamento e utilização de carbono (CCUS, em inglês) atualmente atendem a menos de 1% dos requisitos do setor.
Neoindustrialização brasileira mira novos combustíveis
Por aqui, diesel verde e combustível sustentável da aviação (SAF); hidrogênio de baixa emissão de carbono; biometano; aço e cimento verde; aerogeradores; e painéis solares serão as seis cadeias prioritárias para investimentos na Missão 5 do programa Nova Indústria Brasil (NIB) do governo federal.
Elas foram definidas nesta quinta (12/12) pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI) e anunciadas durante a 4ª Reunião Plenária do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável – o Conselhão, no Palácio do Itamaraty, em Brasília.
O governo brasileiro está empolgado com a possibilidade de aproveitar sua matriz renovável para inaugurar um novo ciclo de investimentos na indústria nacional. Também nesta quinta, foram anunciados R$ 468,38 bilhões, entre recursos públicos e privados, para bioeconomia e descarbonização na Missão 5 da NIB.
Vem aí o mercado de carbono
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sancionou nesta quinta (12/12) a lei 15.042/2024, que institui o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SBCE), sem vetos e respeitando os acordos fechados no Congresso Nacional.
A legislação cria o mercado brasileiro de carbono, que passará a ser regulado por meio de um sistema de cap-and-trade, em que fontes emissoras deverão respeitar limites de emissão ou compensar por meio da aquisição de créditos de carbono.
O sistema abrange atividades, fontes e instalações em todo o território nacional, com exceção da produção primária agropecuária.
Estarão sujeitos à regulação os operadores responsáveis por instalações e fontes que emitam acima de 10.000 tCO2e por ano para fins de monitoramento e relato, e acima de 25.000 tCO2e por ano para fins de conciliação de obrigações.
Na retrospectiva 2024:
Curtas
Veto às térmicas. O líder do governo no Congresso Nacional, Randolfe Rodrigues (PT/PA), anunciou que o governo vetará as emendas que incluem termelétricas no projeto de lei que regulamenta a exploração de energia eólica offshore no Brasil (PL 576/2021). A declaração foi feita durante a sessão plenária do Senado, nesta quinta-feira (12/12). O texto foi enviado à sanção.
Clima e energia no Brics. Segundo a ministra Paula Barboza, chefe da Coordenação-Geral de Negociações Comerciais Extrarregionais do Itamaraty, responsável pela cúpula do Brics no ano que vem, o Brasil pretende aproveitar a oportunidade para alcançar um alinhamento entre os compromissos nacionais dos países-membros, a fim de garantir a meta de limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C.
Hidrogênio brasileiro em plataforma internacional. O Acelerador de Transição Industrial (ITA, na sigla em inglês) divulgou nesta quinta (12/12) a seleção de mais três empreendimentos brasileiros de produção de hidrogênio verde para seu Programa de Apoio a Projetos. European Energy, Fortescue e Green Energy Park se juntam à Atlas Agro, selecionada em outubro. Juntos, eles somam mais de US$9,5 bilhões em investimentos previstos.
Yara de olho nos incentivos. A companhia norueguesa do setor de fertilizantes avalia investimentos em hidrogênio de baixo carbono em larga escala no Brasil visando a produção de amônia. Segundo Daniel Hubner, vice-presidente de Soluções Industriais da Yara, a empresa está de olho na janela de incentivos para o hidrogênio, que prevê mais de R$ 20 bilhões entre 2028 e 2032.
Piloto de hidrogênio na Bahia. O Senai Cimatec e Galp planejam inaugurar, em agosto de 2025, uma planta piloto de hidrogênio verde para pesquisa e inovação em Camaçari, na Bahia. Com investimento superior a R$ 40 milhões, está prevista a construção de uma microrrede para geração de energia renovável, planta de produção de hidrogênio, estação de abastecimento veicular e laboratório para testes de combustão e de conversão do hidrogênio.
Transição justa. O texto do Programa de Aceleração da Transição Energética (Paten), aprovado pelo Senado na terça-feira (10/12), contém um dispositivo que destina recursos de eficiência energética para custear sistemas de geração de energia em comunidades quilombolas, ribeirinhas, povos tradicionais e comunidades isoladas. Concessionárias deverão aplicar 0,5% das receitas operacionais líquidas em programas de eficiência energética.
R$ 40 bi de CDE. O orçamento da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) para 2025 fixado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) subiu 9,24% em relação ao ano atual. O acréscimo se deve à alta nos valores destinados a programas sociais e ao crescimento dos subsídios a fontes incentivadas.
Lixo importado. A Comissão de Meio Ambiente (CMA) aprovou, nesta quarta-feira (11/12), o projeto de lei que proíbe a importação de determinados resíduos sólidos, como papel, plástico, vidro e metal (PL 3.944/2024). Esse projeto, que teve origem na Câmara dos Deputados, segue em regime de urgência para análise no plenário do Senado.
Zonas de risco. A Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados aprovou projeto de lei que obriga os municípios a avaliarem periodicamente as zonas de risco de deslizamento e alagamento. A intenção é permitir a adoção de medidas preventivas e de planejamento para garantir a segurança da população e a sustentabilidade ambiental. (Agência Câmara)