NESTA EDIÇÃO. Acelen Renováveis inicia extração de óleo de macaúba em escala industrial em Minas Gerais.
Companhia planeja produzir 1 bilhão de litros de diesel verde e combustível sustentável para aviação a partir de 2027.
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A Acelen Renováveis, empresa de energia criada pelo fundo Mubadala Capital, anunciou nesta sexta (7/2) a primeira extração de óleo em fluxo contínuo em escala industrial de macaúba no Acelen Agripark, em Montes Claros (MG).
Com investimentos de R$ 314 milhões, em parte financiados pelo BNDES, o centro está sendo projetado para germinar até 1,7 milhão de sementes por mês e produzir 10,5 milhões de mudas por ano.
O objetivo é garantir matéria-prima para produção de 1 bilhão de litros de diesel verde e combustível sustentável para aviação (SAF, em inglês) na biorrefinaria de US$ 3 bilhões que o grupo vai construir na Bahia.
A macaúba é fruto de uma palmeira nativa do Brasil que pode ser até 10 vezes mais produtiva que a soja. Hoje, o óleo de soja é o principal insumo para o SAF no mundo, mas sua disponibilidade tem se mostrado um gargalo para expandir a produção do combustível que terá um papel crucial de descarbonização da aviação a partir de 2027.
O anúncio da Acelen chega com a promessa de uma alternativa para fornecer óleo novo ao biorrefino no futuro, mas ainda serão necessárias algumas horas de voo.
Esse não é o primeiro projeto que tenta escalar a macaúba para protagonizar a nova era da bioenergia.
Em dezembro 2020, o município mineiro de Juiz de Fora lançou a Plataforma de Bioquerosene e Renováveis da Zona da Mata, uma parceria entre setor público e privado para chegar a 2031 com uma produção anual de 226 milhões de litros de SAF de macaúba.
A iniciativa integrou mais de 40 cidades da região, além de empresas e universidades e tinha um plano definido: começar pelo biodiesel com óleo de cozinha reciclado para abastecer a frota municipal e a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), migrar para a produção de um milhão de litros de SAF e diesel verde de macaúba em 2023 e chegar a 2027 fornecendo 25 milhões de litros/ano.
Só a produção de biodiesel para a frota local saiu do papel. O plano da Zona da Mata contava com a aprovação de um marco legal para incentivar a demanda pelos novos combustíveis, o que não ocorreu a tempo de iniciar a produção em 2023.
Mas não foi só isso que atrapalhou o andamento do projeto. À época, fontes consultadas pela Diálogos da Transição relataram a dificuldade de conseguir óleo de macaúba em escala.
Demanda tem, falta a escala
Do ponto de vista da demanda, o horizonte hoje é mais favorável em comparação com os primeiros idos de 2020, quando foi lançada a plataforma da Zona da Mata.
Nos planos da Acelen está a exportação, a partir de 2027, quando entra em vigor a fase obrigatória do acordo de descarbonização da aviação internacional (Corsia).
Além disso, a sanção do marco do Combustível do Futuro, em outubro de 2024, trouxe a perspectiva de criação de uma demanda doméstica, também a partir de 2027, quando as companhias aéreas nacionais terão que descarbonizar 1% das suas operações com SAF.
Além disso, metas corporativas já vêm mostrando o apetite do mercado pelo combustível que pode reduzir em até 80% as emissões quando comparado ao querosene de petróleo.
Segundo a Associação Internacional dos Transportes Aéreos (Iata, em inglês), todo o SAF produzido nos últimos dois anos foi adquirido pelo setor. Em 2024, foram 1,9 bilhão de litros produzidos e consumidos, cobrindo apenas 0,53% da demanda global por querosene.
Falta mesmo é escala, justamente uma das questões que o projeto no Agripark tenta solucionar no caso da macaúba.
No mês passado, a companhia iniciou o plantio das primeiras 85 mudas, como parte do ciclo de avaliação agronômica, que testará o desenvolvimento das plantas em condições reais de campo.
“O Agripark será o grande laboratório a céu aberto para a domesticação da macaúba, viabilizando uma cultura estratégica para descarbonização e a produção de bioenergia em larga escala”, comenta Victor Barra, diretor de Agronegócios da Acelen Renováveis.
Cobrimos por aqui
Curtas
Fronteira de carbono. A Comissão Europeia pode considerar reduzir sua taxa sobre o carbono de fronteira para apenas 20% das empresas cobertas pelo esquema, porque elas são responsáveis por quase todas as emissões envolvidas, disse o chefe de política climática da UE na quinta (5/2). A medida é parte das tentativas de aliviar a carga regulatória sobre as empresas do bloco. (Reuters)
Sustentabilidade na indústria química. O setor tenta emplacar, no Congresso, uma nova política de incentivo ao setor, diante das perspectivas de encerramento do Regime Especial da Indústria Química (Reiq). O presidente da Frente Parlamentar da Química, o deputado federal Afonso Motta (PDT/RS), apresentou esta semana um projeto de lei propondo a criação do Programa Especial de Sustentabilidade da Indústria Química (Presiq).
Financiamento verde. O diretor executivo sênior para as América do Sul e Central do Banco Japonês para Cooperação Internacional (JBIC, em inglês,), Masayuki Hamamatsu, esteve no Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), esta semana, para discutir com o secretário executivo da pasta, Márcio Elias Rosa, a possibilidade de financiamento de projetos de transição energética e economia verde.
Hidrogênio de baixo carbono. A comissão especial sobre transição energética e produção de hidrogênio verde da Câmara dos Deputados discute na terça-feira (11/2) proposta de criação do Programa de Desenvolvimento do Hidrogênio de Baixo Carbono (PHBC).
Expansão da matriz. A oferta de potência instalada pode crescer 9.950 megawatts (MW) em 2025, estima a Aneel. Se confirmada, a expansão ficará ligeiramente abaixo das observadas em 2023 (10.316 MW) e em 2024 (10.853 MW). Em janeiro deste ano, o crescimento foi de 1.350 MW e 26 novas usinas entraram em operação comercial.
Mercado livre de energia. A migração no Brasil bateu recorde e chegou a 26.834 consumidores em 2024. Mais empresas de menor porte e pessoas físicas passaram ao ambiente de contratação livre (ACL), depois da abertura para toda a alta tensão em janeiro do ano passado.
Infraestruturas críticas. O Comitê Nacional de Segurança de Infraestruturas Críticas (CNSIC), vinculado ao Gabinete de Segurança Institucional da presidência da República (GSI), instituiu nesta sexta (7/2) grupo de trabalho para a atualização da estratégia e do plano nacional sobre essas infraestruturas. A última versão aprovada do plano é de setembro de 2022.
PD&I para transição. A TotalEnergies e a QatarEnergy anunciaram na segunda-feira (3/2) o lançamento do MARES, seu terceiro projeto conjunto de Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) no Brasil desde o início da parceria em 2023. Os três projetos preveem até R$ 48 milhões em investimentos, com foco na redução de emissões de gases de efeito estufa, energias de baixo carbono e biodiversidade.
Artigos da semana
“Green, baby, green!”: Europa reforça papel do hidrogênio na sua estratégia Europa avança mostrando que a transição para uma economia verde não é apenas viável, mas essencial para a própria economia, analisa Gabriel Chiappini
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As termelétricas a hidrogênio e a confiabilidade do sistema elétrico ONS alerta para fragilidade do sistema e defende mais flexibilização; leilão de reserva de capacidade deve priorizar diversidade energética, escreve Edvaldo Santana
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