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O que está em jogo na Cúpula para os Oceanos?

Conferência da ONU sobre o Oceano discute como enfrentar o colapso dos ecossistemas marinhos e do planeta

O que está em jogo na Cúpula para os Oceanos? (Foto: UN Ocean Conference)
Abertura da UNOC3, na manhã de 9 de junho de 2025, em Nice (Foto: UN Ocean Conference)

NESTA EDIÇÃO. Em Nice, na França, líderes globais discutem como evitar colapso no ecossistema marinho.

ONU alerta para riscos atrelados a poluição plástica e mineração no fundo do mar.

E Brasil promete ratificar Tratado do Alto Mar ainda este ano.


EDIÇÃO APRESENTADA POR

Começou em Nice, na França, a Conferência da ONU sobre o Oceano, que reúne líderes globais, cientistas, e representantes da sociedade civil para enfrentar o colapso dos ecossistemas marinhos e do planeta.
 
O cenário escolhido para o encontro, no Mar Mediterrâneo, não foi à toa. Ele está esquentando 20% mais rápido do que a média global. 
 
Na cerimónia de abertura, o secretário-geral da ONU, António Guterres, lembrou que o “oceano gera metade do oxigênio que respiramos”. 
 
“Contudo, estamos falhando com ele”, disse Guterres, ressaltando que o ambiente marinho alimenta três bilhões de pessoas e sustenta o meio de vida de outras 600 milhões.
 
“A economia azul mais do que dobrou nos últimos 30 anos”, disse. Ainda assim, “os estoques de peixes estão colapsando” e “a poluição plástica está sufocando os ecossistemas”.
 
Segundo o secretário-geral, 23 milhões de toneladas de lixo plástico são despejadas nos oceanos todos os anos.
 
“As emissões de carbono estão causando acidificação e aquecimento dos oceanos — destruindo recifes de corais e acelerando a elevação do nível do mar”, advertiu.
 
O secretário também alertou para a responsabilidade dos países que iniciaram suas corridas em direção à mineração em alto-mar. 
 
“As profundezas do oceano não podem virar um novo Velho Oeste”.



Em Nice, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que a conservação e o uso sustentável do oceano terão ênfase na COP30 e também chamou a atenção para os riscos da mineração em alto mar sem os devidos cuidados.

“Coibir uma corrida predatória por minérios requer apoio à firme atuação da Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos, dirigida hoje pela cientista brasileira Letícia de Carvalho”, ressaltou. 

O presidente também anunciou algumas ações voluntárias

Uma delas será a ratificação do Tratado do Alto Mar ainda este ano, “para assegurar a gestão transparente e compartilhada da biodiversidade além das fronteiras nacionais”. 

Lula reiterou ainda que, além de zerar o desmatamento até 2030, irá “ampliar de 26% para 30% a cobertura de áreas marinhas protegidas”, em cumprimento à meta do Marco Global para a Biodiversidade.

“O oceano está febril”, destacou o presidente Lula. 

Ele também anunciou a implementação de programas dedicados à preservação dos manguezais e dos recifes de corais e a formulação de uma estratégia nacional contra a poluição por plásticos no oceano.

No dia anterior, durante o Fórum sobre Oceanos, em Mônaco, o presidente voltou a cobrar os países ricos por mais financiamento climático.  

Lula lembrou que os oceanos movimentam US$ 2,6 trilhões por ano — valor comparável à quinta maior economia do mundo —, mas o financiamento para protegê-los é mínimo.

E pontuou que o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 14, focado na vida marinha, é um dos mais negligenciados da Agenda 2030. 

Segundo ele, o déficit anual de financiamento é de US$ 150 bilhões.

Um dos objetivos é justamente garantir fontes de recursos. O encontro quer aumentar o financiamento para economias azuis

Para frear as milhões de toneladas de plástico  que entram no oceano a cada ano, os delegados esperam avançar num acordo global para enfrentar a poluição plástica em sua origem.

A cúpula em Nice também busca impulsionar a meta de proteger 30% do oceano até 2030 e lançar um roteiro para descarbonizar o transporte marítimo.

Considerando que os estoques pesqueiros dentro de limites biologicamente seguros caíram de 90% nos anos 1970 para apenas 62% em 2021, a conferência espera ainda abrir caminho para um novo acordo internacional sobre pesca sustentável.

Como pano de fundo, um novo estudo científico trouxe dados mais alarmantes sobre a acidificação dos oceanos.
 
Chamada de “gêmeo maligno” da crise climática, ocorre quando o dióxido de carbono é rapidamente absorvido pelo oceano, onde reage com moléculas de água, levando à queda do pH da água do mar. 
 
A pesquisa, liderada por instituições como o Plymouth Marine Laboratory e a NOAA, aponta que já ultrapassamos um “limite planetário de segurança”.
 
A absorção de CO2 pelos oceanos reduziu os níveis de carbonato de cálcio — essencial para a formação de conchas e esqueletos — em mais de 20% em relação à era pré-industrial. Em profundidades de 200 metros, esse patamar já foi cruzado em 60% das áreas monitoradas.
 
Isso significa que habitats como os recifes de corais, inclusive os de águas profundas, estão em risco extremo. Espécies calcificantes como plâncton, moluscos e corais enfrentam dificuldades de crescimento, reprodução e sobrevivência.


NDC azul. Ao lado da França, o Brasil lançou, nesta segunda (9/6), uma iniciativa internacional que propõe, entre outros objetivos, a “eliminação gradual da produção de petróleo e gás” no mar. O anúncio ocorreu na Conferência das Nações Unidas sobre os Oceanos (UNOC), em Nice, França.

  • O chamado Desafio NDC Azul recebeu apoio de ambientalistas, embora contraste com a política energética brasileira que prevê leilões de novos blocos no pré-sal brasileiro e exploração de novas fronteiras na Margem Equatorial.

Por falar nos oceanos… O banco de desenvolvimento da América Latina e do Caribe (CAF) vai investir US$ 2,5 bilhões até 2030 para contribuições a economia azul sustentável na região. A intenção é apoiar projetos de preservação, desenvolver tecnologias limpas e energias oceânicas renováveis, descarbonizar portos e o transporte marítimo, entre outros.
 
E30 e B15 no segundo semestre. O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), defendeu o aumento imediato da mistura de etanol e biodiesel nos combustíveis vendidos no país. “Até julho, teremos a reunião. Se não for no fim de junho, será em julho”, disse nos bastidores do Fórum Econômico Brasil-França, em Paris, em referência ao encontro do CNPE.
 
Troca no MME. O governo federal exonerou na sexta (6/6) o secretário nacional de Transição Energética e Planejamento do MME, Thiago Barral. Ele será substituído por Gustavo Cerqueira Ataide, chefe de gabinete do presidente da EPE. Barral era responsável pelo planejamento dos leilões de energia, entre eles a concorrência voltada à contratação de potência.
 
Os gases do futuro. A integração do hidrogênio verde e biometano pode representar uma oportunidade única para descarbonizar setores intensivos em emissões, como a indústria e o transporte pesado, além de impulsionar a reindustrialização sustentável do Brasil. Leia na coluna Hidrogênio em Foco

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