NESTA EDIÇÃO. Em Nice, na França, líderes globais discutem como evitar colapso no ecossistema marinho.
ONU alerta para riscos atrelados a poluição plástica e mineração no fundo do mar.
E Brasil promete ratificar Tratado do Alto Mar ainda este ano.
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Começou em Nice, na França, a Conferência da ONU sobre o Oceano, que reúne líderes globais, cientistas, e representantes da sociedade civil para enfrentar o colapso dos ecossistemas marinhos e do planeta.
O cenário escolhido para o encontro, no Mar Mediterrâneo, não foi à toa. Ele está esquentando 20% mais rápido do que a média global.
Na cerimónia de abertura, o secretário-geral da ONU, António Guterres, lembrou que o “oceano gera metade do oxigênio que respiramos”.
“Contudo, estamos falhando com ele”, disse Guterres, ressaltando que o ambiente marinho alimenta três bilhões de pessoas e sustenta o meio de vida de outras 600 milhões.
“A economia azul mais do que dobrou nos últimos 30 anos”, disse. Ainda assim, “os estoques de peixes estão colapsando” e “a poluição plástica está sufocando os ecossistemas”.
Segundo o secretário-geral, 23 milhões de toneladas de lixo plástico são despejadas nos oceanos todos os anos.
“As emissões de carbono estão causando acidificação e aquecimento dos oceanos — destruindo recifes de corais e acelerando a elevação do nível do mar”, advertiu.
O secretário também alertou para a responsabilidade dos países que iniciaram suas corridas em direção à mineração em alto-mar.
“As profundezas do oceano não podem virar um novo Velho Oeste”.
Ponte para Belém
Em Nice, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que a conservação e o uso sustentável do oceano terão ênfase na COP30 e também chamou a atenção para os riscos da mineração em alto mar sem os devidos cuidados.
“Coibir uma corrida predatória por minérios requer apoio à firme atuação da Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos, dirigida hoje pela cientista brasileira Letícia de Carvalho”, ressaltou.
O presidente também anunciou algumas ações voluntárias.
Uma delas será a ratificação do Tratado do Alto Mar ainda este ano, “para assegurar a gestão transparente e compartilhada da biodiversidade além das fronteiras nacionais”.
Lula reiterou ainda que, além de zerar o desmatamento até 2030, irá “ampliar de 26% para 30% a cobertura de áreas marinhas protegidas”, em cumprimento à meta do Marco Global para a Biodiversidade.
“O oceano está febril”, destacou o presidente Lula.
Ele também anunciou a implementação de programas dedicados à preservação dos manguezais e dos recifes de corais e a formulação de uma estratégia nacional contra a poluição por plásticos no oceano.
No dia anterior, durante o Fórum sobre Oceanos, em Mônaco, o presidente voltou a cobrar os países ricos por mais financiamento climático.
Lula lembrou que os oceanos movimentam US$ 2,6 trilhões por ano — valor comparável à quinta maior economia do mundo —, mas o financiamento para protegê-los é mínimo.
E pontuou que o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 14, focado na vida marinha, é um dos mais negligenciados da Agenda 2030.
Segundo ele, o déficit anual de financiamento é de US$ 150 bilhões.
O que Nice pretende entregar?
Um dos objetivos é justamente garantir fontes de recursos. O encontro quer aumentar o financiamento para economias azuis.
Para frear as milhões de toneladas de plástico que entram no oceano a cada ano, os delegados esperam avançar num acordo global para enfrentar a poluição plástica em sua origem.
A cúpula em Nice também busca impulsionar a meta de proteger 30% do oceano até 2030 e lançar um roteiro para descarbonizar o transporte marítimo.
Considerando que os estoques pesqueiros dentro de limites biologicamente seguros caíram de 90% nos anos 1970 para apenas 62% em 2021, a conferência espera ainda abrir caminho para um novo acordo internacional sobre pesca sustentável.
Os riscos da acidificação dos oceanos
Como pano de fundo, um novo estudo científico trouxe dados mais alarmantes sobre a acidificação dos oceanos.
Chamada de “gêmeo maligno” da crise climática, ocorre quando o dióxido de carbono é rapidamente absorvido pelo oceano, onde reage com moléculas de água, levando à queda do pH da água do mar.
A pesquisa, liderada por instituições como o Plymouth Marine Laboratory e a NOAA, aponta que já ultrapassamos um “limite planetário de segurança”.
A absorção de CO2 pelos oceanos reduziu os níveis de carbonato de cálcio — essencial para a formação de conchas e esqueletos — em mais de 20% em relação à era pré-industrial. Em profundidades de 200 metros, esse patamar já foi cruzado em 60% das áreas monitoradas.
Isso significa que habitats como os recifes de corais, inclusive os de águas profundas, estão em risco extremo. Espécies calcificantes como plâncton, moluscos e corais enfrentam dificuldades de crescimento, reprodução e sobrevivência.
Cobrimos por aqui
Curtas
NDC azul. Ao lado da França, o Brasil lançou, nesta segunda (9/6), uma iniciativa internacional que propõe, entre outros objetivos, a “eliminação gradual da produção de petróleo e gás” no mar. O anúncio ocorreu na Conferência das Nações Unidas sobre os Oceanos (UNOC), em Nice, França.
- O chamado Desafio NDC Azul recebeu apoio de ambientalistas, embora contraste com a política energética brasileira que prevê leilões de novos blocos no pré-sal brasileiro e exploração de novas fronteiras na Margem Equatorial.
Por falar nos oceanos… O banco de desenvolvimento da América Latina e do Caribe (CAF) vai investir US$ 2,5 bilhões até 2030 para contribuições a economia azul sustentável na região. A intenção é apoiar projetos de preservação, desenvolver tecnologias limpas e energias oceânicas renováveis, descarbonizar portos e o transporte marítimo, entre outros.
E30 e B15 no segundo semestre. O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), defendeu o aumento imediato da mistura de etanol e biodiesel nos combustíveis vendidos no país. “Até julho, teremos a reunião. Se não for no fim de junho, será em julho”, disse nos bastidores do Fórum Econômico Brasil-França, em Paris, em referência ao encontro do CNPE.
Troca no MME. O governo federal exonerou na sexta (6/6) o secretário nacional de Transição Energética e Planejamento do MME, Thiago Barral. Ele será substituído por Gustavo Cerqueira Ataide, chefe de gabinete do presidente da EPE. Barral era responsável pelo planejamento dos leilões de energia, entre eles a concorrência voltada à contratação de potência.
Os gases do futuro. A integração do hidrogênio verde e biometano pode representar uma oportunidade única para descarbonizar setores intensivos em emissões, como a indústria e o transporte pesado, além de impulsionar a reindustrialização sustentável do Brasil. Leia na coluna Hidrogênio em Foco