NESTA EDIÇÃO. Ferramenta de regeneração da natureza, a economia circular é um modelo produtivo que deve ser aplicado também à indústria de biocombustíveis.
Em entrevista à agência eixos, a diretora executiva para a América Latina da Fundação Ellen MacArthur, Luisa Santiago, chama a atenção para a inclusão de conceitos da economia circular como um componente central da bioeconomia.
E ainda: o que entrou e o que saiu do capítulo do CCS no Combustível do Futuro.
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Publicados esta semana pelo G20, os princípios inéditos para bioeconomia incluíram conceitos para economia circular que alcançam diferentes setores industriais, inclusive, a produção de energia e combustíveis renováveis.
Para a diretora executiva para a América Latina da Fundação Ellen MacArthur, Luisa Santiago, o texto reflete como economia circular e bioeconomia se complementam no contexto da sustentabilidade ambiental e regeneração da natureza.
E expande a compreensão de circularidade, muitas vezes restrita à ideia de reciclagem e reaproveitamento de materiais.
Uma das diretrizes do documento diz que a bioeconomia deve “promover padrões sustentáveis de consumo e produção e o uso eficiente e circular de recursos biológicos, promovendo a restauração e regeneração de áreas e ecossistemas degradados”.
“É quando a gente olha para como uma economia circular regenera a natureza. E aí entra a produção de biocombustível, por exemplo, que precisa ser feita de uma maneira que regenere a natureza”, explica Santiago.
Ela destaca a importância das energias renováveis e a produção de biocombustíveis no Brasil, como o etanol e o biodiesel, que são cruciais para uma matriz energética mais limpa e para a indústria.
Combinado ao design circular, que abrange a seleção de materiais e métodos de produção sustentáveis desde o início da cadeia produtiva, essa indústria pode adotar padrões cada vez mais elevados para atender exigências ambientais e climáticas – e fugir do estigma de agro que desmata.
“Temos que garantir que a demanda da indústria, não seja uma demanda depredadora. Quando você pensa no método produtivo que regenera a natureza, você tem benefícios muito maiores de captura de carbono, de renovação de biodiversidade, e de fazer frente às grandes crises planetárias, como a biodiversidade e a crise climática”. Leia na cobertura de Gabriel Chiappini
Resíduos como matéria-prima
Há um enorme mercado a ser explorado pelo Brasil no cenário internacional, com a oferta de combustíveis de baixo carbono para aviação e transporte marítimo.
São agendas que têm dominado os discursos do governo Lula, especialmente nos ministérios de Minas e Energia (MME), Meio Ambiente (MMA), Indústria (MDIC) e Fazenda.
Estimativas da indústria apontam que o país tem potencial para produzir 12 bilhões de litros/ano de biocombustíveis a partir de resíduos para a aviação.
Esse volume é suficiente para atender a demanda doméstica (o Brasil consome cerca de 7 bilhões de litros/ano de querosene fóssil) e exportar.
A conversão de resíduos em combustíveis de baixo carbono é um exemplo de como o conceito de circularidade funciona no setor.
CCS no Combustível do Futuro
O projeto de lei do Combustível do Futuro (PL 528/2020), aprovado esta semana (11/9) pela Câmara dos Deputados e encaminhado para sanção presidencial, trouxe definições importantes para a atividade de captura e armazenamento de carbono (CCS), mas deixou questões importantes para a regulamentação.
Uma das principais alterações aprovadas pela Câmara e que foi recebida de maneira positiva pelo setor foi a retirada da exigência do contrato de permissão para o exercício das atividades de CCS, que constava no texto vindo do Senado.
Agora, essas atividades deverão ser realizadas mediante autorização da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
Já os critérios e como serão resolvidas possíveis disputas por áreas destinadas ao armazenamento de carbono ficaram para a regulamentação.
A transferência de titularidade, considerada essencial pelo setor para diminuir os riscos dos operadores na atividade de CCS, também saiu do texto, ficando a cargo da ANP definir as condições. Entenda
Cobrimos por aqui
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- Acelen faz plantio experimental de macaúba para combustível sustentável de aviação
- Biodiesel a bordo: biocombustível deve ganhar espaço na descarbonização de navios
Curtas
Hidrogênio na Espanha. Em visita à China, o primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, assinou um memorando de entendimento, na última quarta (11/9), com a empresa chinesa Envision Energy, que espera investir US$ 1 bilhão em uma planta de fabricação de eletrolisadores na no país europeu.
Também nesta quinta, a petroleira bp e a Iberdrola anunciaram a decisão final de investimento para a construção de uma planta de hidrogênio verde, que irá abastecer a refinaria de Castellón, na Espanha – hoje operada pela bp.
Constrained-off de eólicas. A Aneel vai analisar um novo pedido da New Energy Options para receber R$ 16,9 milhões de indenização por meio de contratos do Proinfa. É mais uma discussão envolvendo o constrained-off de geradores com parques eólicos no Nordeste.
Edital apoia pesquisadores negros e indígenas em projetos de tranição energética. Objetivo é incentivar nova geração de pesquisadores a pensarem em soluções baseadas em ciência e tecnologia que atendam às necessidades de suas comunidades. Em sua terceira edição, o Projeto Mukengi (lê-se: muquêngui) prevê a seleção de 20 pessoas com mestrado ou doutorado nas áreas de ciências exatas, da vida ou da saúde, em curso ou já concluídos, com foco em economia verde. As inscrições são gratuitas e vão até 20 de setembro.
Transição para PMEs. Pequenas e Médias Empresas, que enfrentam os desafios das crescentes exigências globais na transição para a economia de baixo carbono, têm uma ferramenta importante à disposição: o Policy Paper Relatórios de Sustentabilidade na era digital: Superação de desafios para PMEs e EMEDs. Elaborado por ITS e FGV Direito SP, com apoio do iCS, o documento foi publicado pelo Grupo de Trabalho de Finanças Sustentáveis do G20 (SFWG).