Diálogos da Transição

O combustível do transporte de CO2 será descarbonizado?

Falta de redes de transporte e armazenamento disponíveis para os projetos começa a se tornar um obstáculo à medida que eles avançam, indica um estudo da Rystad Energy

Começa o armazenamento de CO2 no Mar do Norte. Na imagem: FPSO para exploração offshore de petróleo e embarcação de abastecimento de plataformas (Foto: Divulgação Ineos)
O gás injetado em Greensand ficará armazenado a uma profundidade de cerca de 1.800 metros abaixo do fundo do mar (Foto: Divulgação Ineos)

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Editada por Nayara Machado
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A tecnologia de captura, armazenamento e utilização de carbono (CCUS, em inglês) está ganhando território. Até 2030, mais de 200 novas instalações devem entrar em operação no mundo, capturando mais de 220 milhões de toneladas CO2/ano, de acordo com a Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês).

No ano passado, 159 novos projetos foram anunciados – mais de três vezes o total de empreendimentos em operação atualmente.

A solução que empolga setores intensivos em carbono como óleo e gás e siderúrgicas ainda precisa, no entanto, encontrar algumas respostas.

Muito se fala sobre a captura e o armazenamento, mas entre eles existe uma etapa que também demandará investimentos e energia: o transporte.

falta de redes de transporte e armazenamento disponíveis para os projetos começa a se tornar um obstáculo à medida que eles avançam, indica um estudo da Rystad Energy.

Até 2030, a empresa de pesquisa estima que 330 gasodutos estarão operacionais para o transporte terrestre do gás até 2030.

No offshore, os oleodutos vão desempenhar um papel importante no segmento, mas o transporte marítimo será uma peça chave por ser a solução mais flexível para transportar emissões de carbono por longas distâncias a um custo relativamente baixo.

E é aí que entra a questão: com qual combustível?

Considerando os projetos já anunciados, a Rystad prevê que mais de 90 milhões de toneladas por ano (tpa) de CO2 serão transportadas até ao final da década, volumes que requerem uma frota de 55 transportadores até 2030.

Só que a indústria naval depende de derivados de petróleo com elevadas emissões, como o diesel marítimo ou o óleo combustível com baixo teor de enxofre (LSFO), colocando em xeque o impacto ambiental do processo.

O combustível ideal

Pelos cálculos da consultoria, as emissões de gases com efeito de estufa (GEE) em distâncias mais curtas – como as rotas planejadas na Europa podem ser relativamente baixas.

Mas o impacto aumenta rapidamente em viagens mais longas, como os mais de 5.000 km previstos entre Japão, Malásia e Austrália. Ou a mais longa anunciada até agora, entre a Coreia do Sul e a Arábia Saudita, cuja viagem só de ida tem pelo menos 12 mil km.

Analisando as rotas de transporte de CO2 que poderão entrar em operação em 2030, a Rystad estima que os navios que viajam longas distâncias poderão emitir até 5% do total de CO2 transportado.

Mudar para o GNL poderia reduzir as emissões em 18%, enquanto o metanol azul (cujo processo envolve o CCS) resultaria numa queda de 20%. A redução real viria com o uso de amônia azul, cujo impacto chega a 80%.

“O transporte marítimo de dióxido de carbono é um mercado emergente agora, mas deverá desempenhar um papel significativo na solução climática global nos próximos anos. No entanto, permanecem questões sobre o impacto ambiental do processo”, comenta Lein Mann Bergsmark, vice-presidente de pesquisa da cadeia de suprimentos da Rystad Energy.

“Num mundo ideal, os navios-tanque de CO2 utilizariam combustíveis renováveis ​​sem emissões associadas. No entanto, estes combustíveis são demasiado caros para serem economicamente viáveis”, completa.

Conheça alguns projetos de CCS:

Para aprofundar

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