Diálogos da Transição

Novos combustíveis precisam abastecer um terço do mercado global até 2050

Para implementar os compromissos da COP28, consumo global de biocombustíveis avançados e derivados de hidrogênio precisa chegar a 10 milhões de boe/d até 2050

Do etanol às algas, United planeja triplicar uso de querosene sustentável em 2023. Na imagem: Parte de trás de avião da United abastecido com mistura de SAF (Foto: Divulgação/United)
Terceira maior companhia aérea dos Estados Unidos, a United consumiu 10 milhões de galões de SAF em 2023 (Foto: Divulgação United)

NESTA EDIÇÃO. Análise de implementação dos compromissos da COP28 indica que o consumo de biocombustíveis avançados e derivados de hidrogênio precisa chegar a 10 milhões de boe/d até 2050.
 
Isso vai depender fortemente de como os projetos de hidrogênio de baixo carbono se desenvolverão até a próxima década. Por enquanto, só 5% da capacidade anunciada de eletrólise chegou à FID.
 
E ainda: No Brasil, EPE calcula que projetos de biorrefino da Petrobras, Acelen e BBF conseguem suprir demanda doméstica por SAF criada no Combustível do Futuro.


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Combustíveis de baixa emissão têm um papel particularmente importante a desempenhar na indústria pesada, aviação e transporte marítimo – onde a eletrificação é mais desafiadora – e os governos precisam se empenhar em políticas que incentivem sua produção em escala, recomenda a Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês) em seu relatório para implementação completa dos acordos assumidos na COP28.
 
A missão é fazer uma transição para longe dos combustíveis fósseis, o que em muitos casos será viável com a eletrificação alimentada por renováveis e nuclear, mas em outros requer investimentos em alternativas que ainda estão tentando ganhar mercado.
 
É o caso dos combustíveis sustentáveis para aviação (SAF, em inglês) e navegação (amônia e metanol verdes).
 
Segundo a IEA, até 2050, 10 milhões de barris de óleo equivalente por dia de biocombustíveis líquidos de segunda geração (que usam resíduos como matéria-prima) e derivados de hidrogênio serão consumidos globalmente – isto é, pouco mais de um terço do consumo global de combustíveis líquidos em 2050.
 
Além disso, biogás, biometano e hidrogênio de baixo carbono substituiriam 80% do gás de origem fóssil.
 
Isso, é claro, se todo mundo cumprir o que assinou em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, no final de 2023.



Esse futuro repleto de SAF, metanol e amônia depende, no entanto, do ritmo de desenvolvimento dos projetos de hidrogênio de baixo carbono – por enquanto, lento.
 
No Caso de Implementação Completa da COP28, a IEA enxerga o hidrogênio de baixa emissão e seus derivados sendo cada vez mais usados ​​pelos setores de aço, transporte e aviação, de forma a reduzir 4% das emissões globais até 2050.
 
Falta muito pra chegar lá, porém. A produção de hidrogênio ficou em 97 milhões de toneladas (Mt) em 2023, sendo menos de 1 Mt de baixa emissão. 
 
Para atender a demanda de descarbonização, o volume precisa alcançar 65 Mt até 2030, sendo cerca de três quartos derivados da eletrólise e o restante gás natural com captura de carbono (CCUS). 
 
Para que isso ocorra, a capacidade instalada de eletrolisadores precisa se expandir de pouco mais de 1 GW em 2023 para 560 GW em 2030.

Segundo a IEA, os projetos anunciados até agora são quase suficientes para esse nível, mas apenas 5% dos projetos de eletrolisadores tomaram uma decisão final de investimento (FID) ou estão em construção.
 
“Há um risco de uma grande lacuna de implementação. Os formuladores de políticas precisam tentar evitar isso colocando em prática medidas para criar uma demanda previsível por hidrogênio de baixa emissão, reduzir seus custos de produção, apoiar a construção mais rápida de projetos anunciados, agilizando a autorização e mantendo a clareza regulatória, e avançar os esforços de certificação, inclusive em nível internacional”, recomenda o relatório.

Os três projetos anunciados no Brasil para produção de combustíveis sustentáveis de aviação (Petrobras, Acelen e BBF) são capazes de atender, em média, 38% da demanda doméstica, de acordo com estudo divulgado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE).
 
O relatório leva em conta a perspectiva de consumo entre 2027 e 2037, considerando as metas de redução de emissões de carbono definidas pelo Combustível do Futuro, aguardando sanção do presidente Lula (PT), e do Corsia, acordo internacional da indústria.
 
A produção está prevista para alcançar 1,1 bilhão de litros por ano em 2030, o que representará cerca de 12% da demanda de combustível para aviação no período de 2030 a 2033. E pode chegar a 3,7 a 8 bilhões de litros/ano em 2037, dependendo das rotas tecnológicas escolhidas e da expansão dos projetos anunciados até agora.
 
O volume é suficiente para atender integralmente às metas de redução de emissões estabelecidas no Combustível do Futuro. No entanto, para atender à demanda internacional que busca cumprir as metas do Corsia, serão necessários novos investimentos e projetos adicionais.
 
“Temos espaço e apetite para novos investimentos em novas plantas”, diz Heloisa Borges, diretora de Estudos do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis da EPE, em entrevista à agência eixos.


SAF precisa de apoio. O custo Brasil é um fator determinante para a atração de novos investimentos para o país, tanto para refinarias quanto para a produção de biocombustíveis avançados, na visão do diretor de Downstream para a América Latina da S&P Global Commodity Insights, Felipe Pérez. Em entrevista ao estúdio eixos na terça (24/9), Pérez afirmou que o Brasil pode se posicionar para criar as condições para atrair esses investimentos.
 
Regulação é diferencial para transição energética. As agências reguladoras precisarão responder às demandas da sociedade na transição energética com senso de urgência, sob o risco de a competitividade brasileira no setor de energia ficar comprometida, avalia o CEO da Origem Energia, Luiz Felipe Coutinho. “A agilidade regulatória das nações vai ser um diferencial competitivo para suas sociedades em torno da competitividade de energia”. Assista.
 
FID para hidrogênio verde no Ceará. Até o final de 2025, a Casa dos Ventos espera chegar à decisão final de investimento (FID) para a planta de produção de hidrogênio verde no Porto do Pecém, no Ceará, disse à agência eixos o chefe de Novos Negócios de Power to X, José Augusto Campos. O plano é iniciar a exportação de amônia verde para a Europa em 2029.
 
Hidrogênio em térmicas flutuantes. A Karpowership, que tem 560 megawatts (MW) de capacidade instalada no país, em térmicas flutuantes, conhecidas como Powerships, no Porto de Itaguaí (RJ), está desenvolvendo projetos para utilizar hidrogênio na geração elétrica. A empresa entende que é possível empregar a matéria-prima obtida de fontes renováveis (hidrogênio verde), mas também a partir de captura e estocagem de carbono (hidrogênio azul). 
 
Gás no transporte rodoviário. A política para investimentos em sustentabilidade incluída no programa de concessões de rodovias do governo federal vai ajudar a destravar recursos para investimentos no uso do gás natural no transporte, segundo o ministro dos Transportes, Renan Filho (MDB). Em entrevista ao estúdio eixos, o ministro defendeu a necessidade de ampliar o uso do gás sobretudo em caminhões
 
Clima extremo no oceano. A Organização Meteorológica Mundial (WMO, em inglês) e a Organização Marítima Internacional (IMO) pediram, na terça (24/9), uma colaboração mais forte entre países e setor privado para lidar com condições climáticas extremas no mar. Segundo a secretária-Geral Adjunta da WMO, Ko Barrett, os impactos das mudanças climáticas no setor marítimo vão desde o aumento do nível do mar nos portos, até ciclones cada vez mais intensos que colocam marinheiros em risco.