NESTA EDIÇÃO. Lançada na COP30, iniciativa adapta seis eixos do Plano Nacional de Transformação Ecológica.
São 47 propostas e 324 ações prioritárias para usar o potencial renovável da região para o desenvolvimento de indústrias verdes.
O consórcio de governadores do Nordeste lançou nesta terça (11/11) em Belém (PA), um plano para desenvolver a indústria regional, aproveitando a capacidade de geração de energia solar e eólica. São 47 propostas e 324 ações prioritárias para a região.
O objetivo é surfar a onda da transição energética e atrair investimentos para fornecer ao mundo produtos com selo de sustentabilidade — e receber um “prêmio verde” por isso.
O lançamento do Plano Brasil Nordeste de Transformação Ecológica ocorreu durante a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), no dia dedicado a discussões sobre governos locais, infraestrutura, bioeconomia e inteligência artificial.
Todos temas no radar do Consórcio Nordeste, que articula a formação de hubs industriais para hidrogênio, combustíveis sustentáveis e data centers.
O nome, em alusão ao pacote do Ministério da Fazenda voltado para políticas relacionadas à agenda climática e ambiental, não foi escolhido ao acaso.
A iniciativa está adaptando os seis eixos do Plano Nacional de Transformação Ecológica à realidade dos nove estados que compõem o grupo.
Entre eles energia renovável e justa e neoindustrialização verde.
O documento incorpora a meta global de triplicar a capacidade instalada de geração solar e eólica até 2030, adicionando que esse movimento deve promover empregos verdes e garantir justiça energética.
Já a neoindustrialização buscará transformar o potencial energético local em vantagem competitiva para setores estratégicos, como hidrogênio verde, química verde e fertilizantes sustentáveis.
Powershoring no Nordeste
A indústria brasileira está de olho em discussões sobre mercado de carbono e novos combustíveis, que podem destravar investimentos e remunerar produtos por suas características sustentáveis — inaugurando uma nova era.
Nos dois primeiros dias da COP30, um tema recorrente em espaços de organizações da indústria e de governos subnacionais foi o powershoring, palavra em inglês combina energia (power) e escoramento (shoring) para designar as estratégias ancoradas na oferta de energia.
“Não dá para continuar exportando commodities, como fizemos no passado. Exportamos algodão e compramos tecido. Exportamos cacau e compramos chocolate. Não dá para exportar vento e sol e depois comprar produtos industrializados”, disse à eixos o governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT).
“Nós vamos montar um esforço para que, onde tenha energia solar, biomassa e hidrogênio verde, possamos ter também nossas indústrias”, completou.
Transição justa na agenda
A transição justa entrou na agenda aprovada para as negociações nas próximas semanas em Belém.
O tema é o nono item de uma lista de 145 tópicos que conseguiram consenso entre os delegados — pelo menos o suficiente para entrar na agenda — e uma pauta cara à presidência brasileira, inclusive em outros fóruns internacionais como G20 e Brics.
As discussões serão orientadas por um programa de trabalho dos Emirados Árabes Unidos, cujo foco é adaptação e resiliência às mudanças climáticas no contexto da transição energética. Veja a íntegra (.pdf)
E dialogam com uma série de macrotemas: dos compromissos para triplicar renováveis e afastar a dependência de combustíveis fósseis, até o financiamento (adiado) e a estruturação de novas cadeias de valor no Sul global, a partir da demanda por minerais críticos e energia limpa.
A agregação de valor local e desenvolvimento de novas indústrias em países da América Latina e África, aliás, é uma das grandes questões colocadas na mesa.
“Uma transição justa precisa contribuir para reduzir as assimetrias entre o Norte e o Sul Global, forjadas sobre séculos de emissões. A emergência climática é uma crise de desigualdade. Ela expõe e exacerba o que já é inaceitável”, discursou o presidente Lula (PT) na abertura da conferência na segunda (10/11).
Cobrimos por aqui
Curtas
Diálogos na COP 1. O deputado Arnaldo Jardim (Cidadania/SP) afirmou à eixos que o Brasil “não é algoz ambiental” e deve transformar a agenda climática em oportunidade para liderar a economia de baixo carbono. “Nosso agro é sustentável, nós vamos mostrar isso ao mundo”, defendeu.
Diálogos na COP 2. O vice-presidente da Siemens Energy, André Clark, afirmou que o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF) é inovador por incluir o capital privado no financiamento climático. Para ele, empresas e bancos de desenvolvimento devem atuar juntos para ampliar esses recursos.
Segundo episódio. Diálogos da Transição na COP30 desta terça-feira (11/11) vai debater aumento do apoio à exploração de óleo e gás na Margem Equatorial e expectativa por mais empregos verdes. Assista na íntegra!
Aliança energética. Celac e União Europeia anunciaram plano para ampliar a cooperação em energia renovável, segurança alimentar e inovação tecnológica. Em comunicado conjunto, reafirmaram compromisso com os princípios da Carta das Nações Unidas, como soberania, integridade territorial e solução pacífica de conflitos.
Rota Sustentável. Veículos movidos com biocombustível 100% emitiram cerca de 65% menos CO2equivalente do que os abastecidos com diesel B15, segundo teste da Be8 e da Mercedes-Benz. A iniciativa Rota Sustentável COP30, levou dois caminhões e dois ônibus de Passo Fundo (RS) a Belém (PA) para medir o impacto da substituição total do diesel fóssil pelo Be8 BeVant.
Financiamento público. A Finep lançou três novas linhas de investimento que somam R$ 460 milhões, incluindo o edital Pró-Amazônia 2025, com R$ 150 milhões voltados a iniciativas sustentáveis na região (veja a nota em .pdf). Entre 2023 e 2025, a agência do MCTI investiu R$ 12 bilhões em 640 projetos de transição energética — seis vezes mais que entre 2019 e 2022 — e anunciou novos aportes durante a COP30.
- Nas outras frentes, a Finep destinou R$ 250 milhões a projetos de preservação e digitalização de acervos e lançou um edital de R$ 60 milhões para até dois fundos voltados a empresas de bioeconomia e sustentabilidade.
Aposta verde. Três em cada quatro brasileiros acreditam que a transição para uma economia sustentável vai gerar novos empregos, aponta pesquisa da ABDI e da Nexus. Para 54%, o movimento criará “muitos empregos”; outros 21% esperam “poucos”. Apenas uma minoria não vê novas oportunidades na mudança para um modelo mais verde.
- A pesquisa da ABDI e da Nexus também revela quem duvida que a transição verde criará novas oportunidades de trabalho.
Do setor privado, inclusive. A Amazônia Legal pode gerar receitas de até US$ 320 bilhões em 30 anos com o mercado de carbono, segundo o Legacy Report da Sustainable Business COP (.pdf), iniciativa do empresariado que debate o papel das empresas para alcançar as metas climáticas.
- O desenvolvimento sustentável amazônico poderia aumentar em 19% os estoques de carbono, além de criar 312 mil empregos
Autoestima. O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), rebateu na segunda (10/11) as críticas sobre uma suposta contradição entre a exploração de petróleo na Margem Equatorial e a realização da COP30. Durante conversa com jornalistas em Belém (PA), afirmou ser “aplaudido por ambientalistas de bom senso”.
Etanol. O preço médio do etanol hidratado subiu 0,23% na semana de 2 a 8 de novembro, para R$ 4,28 o litro, segundo a ANP. Houve queda em dez estados, alta em nove e no Distrito Federal, e estabilidade em seis. O biocombustível mostrou-se mais competitivo (paridade de 69,37%) em relação à gasolina em quatro estados no período.
Coluna do Gauto. Com uma matriz elétrica renovável e um setor agroindustrial diversificado, o Brasil tem potencial para liderar o mercado global de SAF. O coprocessamento nacional de matérias-primas renováveis simboliza uma transição inteligente, justa e competitiva, escreve Marcelo Gauto, gerente de Modelos de Negócios e Certificação de Produtos da Petrobras.

