Necessidade de compensar CO2 deve ser menor, à medida que empresas avançam em planos de redução de emissões

Iniciativa tenta organizar reivindicações climáticas com créditos de carbono. Na imagem: Floresta amazônica vista de cima
Floresta amazônica vista de cima

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Diálogos da Transição

eixos.com.br | 26/08/21
Apresentada porlogotipo eneva

Editada por Nayara Machado
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“Nosso propósito não é ficar apenas compensando emissão”. Assim, Janaina Dallan resume a proposta da Aliança Brasil NBS, associação de empresas que atuam com soluções ambientais e climáticas baseadas na natureza, lançada este mês.

A própria criação do grupo, que busca uma representação organizada, é reflexo do amadurecimento do mercado no Brasil, onde as florestas são vistas como uma fonte promissora (e competitiva) de soluções de compensação de carbono, por empresas de diversos setores, incluindo petróleo e gás.

“O propósito é fazer uma transição para uma economia de baixo carbono. Nessa transição a compensação vai direcionar recursos, por exemplo, para a floresta, que é um dos grandes emissores no Brasil”, afirma Janaina Dallan.

Além de primeira presidente da Aliança Brasil NBS, ela é a CEO da Carbonext, que desenvolve projeto de neutralização de emissões para empresas, com foco na Amazônia.

Na agenda do setor, está a articulação com o governo federal.

Os sinais trocados da gestão Bolsonaro nesses quase três anos de governo mostram que não há coordenação nacional quando o assunto é o mercado de carbono e a regulação de sistemas de compensação.

E em jogo, está a atratividade para o capital necessário para vencer a barreira da destruição florestal como alternativa de desenvolvimento econômico.

É preciso dinheiro, seja na forma de ‘exportação’ de créditos ou atração de financiamento climático para mover as políticas ambientais brasileiras e deixar a floresta em pé.

Às vésperas da COP26, quando se espera avançar em negociações definitivas do Artigo 6 e chegar a um acordo, nada fácil, sobre o papel dos países ricos no comércio global de créditos, o assunto está na ordem do dia de quem vende e compra NBS e precisa abater emissões.

“Começamos a enxergar o mercado ESG em ebulição, as empresas fazendo suas estratégias de carbono neutro, várias iniciativas surgindo…A Aliança é composta por empresas tradicionais, que fazem esses projetos há mais de dez anos, preocupadas com esse novo momento do mercado de carbono”, diz Janaina.

Um risco é virar uma bagunça. Hoje, há discussões setoriais, caso do mercado de energia, no governo e no Congresso Nacional, onde também tramitam projetos para criação de mercados nacionais organizados e outras soluções de descarbonização. Não se tem, contudo, um plano unificado.

Com a queda de Ricardo Salles, o ministro que levará as propostas brasileiras para a COP26, Joaquim Pereira Leiteé um entusiasta das soluções florestais.

Ele comandava a área da pasta, por exemplo, que atualizou regulações para pagamento de serviços ambientais e criou o programa Floresta+, que tem um dos seus eixos voltados para compensações voluntárias, o Floresta+ Carbono.

É também um defensor do agronegócio e incorpora o discurso dominante do governo, isto é, que o Brasil tem uma matriz limpa, emite pouco e não deve ser cobrado nos fóruns internacionais.

Chegou a falar recentemente em “tropicalizar” os inventários, uma medida para comprovar que o país é mais limpo do que se imagina.

“Vamos utilizar a melhor ciência para mostrar ao mundo que se tropicalizar – a melhor ciência, a ciência real – se a gente conseguir, via tropicalização desses relatórios, a gente teria uma forma de mostrar ao mundo que produzir no Brasil pode contribuir com as mudanças do clima”, diz o ministro.

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A COP26 está marcada para novembro.

“Precisamos organizar e trazer um ambiente de negócios seguro para o Brasil. Mostrar que existe uma legitimidade e histórico de bons projetos, de créditos de carbono de alta qualidade”, diz Janaina.

Até porque, acredita a executiva, este é um mercado que deve servir à transição para uma economia de baixo carbono e não sustentar a manutenção de emissões.

“A necessidade das empresas por compensação tende muito a diminuir com os planos de redução e troca de tecnologia. As empresas que fazem seus compromissos de carbono neutro precisam de um plano de redução e ele tem que acompanhar essa compensação”, explica.

Em tempo, relatório divulgado nesta quarta (25) pelo Conselho Consultivo de Crise Climática (CCAG, em inglês) adverte que chegar a zero emissões de gases de efeito estufa até 2050 agora é “tarde demais” e não será possível atingir as metas do Acordo de Paris para limitar o aquecimento global a 1,5°C, até o final do século.

Com base no mais recente relatório do IPCC, os cientistas afirmam que as metas de emissões globais atuais são inadequadas e que estratégias de emissões negativas são necessárias.

E o Brasil pode ser um ator relevante nesse cenário, mas precisa que a governança ambiental seja reconstruída com responsabilidade.

“A conservação e restauração dos ecossistemas naturais, em particular na região tropical, e o manejo adequado dos sistemas agropecuários oferecem oportunidades significativas para contribuir com o esforço global de limitar os impactos das mudanças do clima”, afirma Mercedes Bustamante, pesquisadora da Universidade de Brasília e do CCAG, em entrevista à agência Bori.

Curtas

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, adiou para hoje (26) o julgamento da tese do marco temporal, que trata sobre a demarcação de terras indígenas. O assunto deveria ser analisado ontem…

…Defendido por ruralistas e setores políticos interessados na exploração de reservas indígenas, o marco temporal define que as etnias só tenham direito a reivindicar terras que ocupavam antes da Constituição de 1988. Correio Braziliense

“Terras indígenas não comprometem áreas disponíveis e produção agropecuária”, escrevem Eloy Terena e Sonia Guajajara em artigo no El País. Argumentam que o Brasil é campeão em concentração fundiária.

Baterias d’águaEm artigo, a engenheira Flávia Silveira discute a necessidade crescente de sistemas de armazenamento para manter o equilíbrio entre fornecimento e demanda elétrica, e explica como as usinas hidrelétricas reversíveis podem ser uma solução para flexibilidade do sistema brasileiro.

A Volkswagen terá uma diretoria de Sustentabilidade a partir de 1º de setembro. Integrada à diretoria de Assuntos Corporativos e Relações com a Imprensa, será liderada por Priscilla Cortezze. Objetivo é fortalecer fatores ESG na estratégia de negócios.

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