Diálogos da Transição

Brasil entre os países mais alinhados com Net Zero, mas fica para trás no hidrogênio

Cenário zero líquido da BNEF mostra que há uma chance de 67% de manter o aquecimento global em 1,75 °C até o fim do século

Com atuais planos climáticos (NDCs), Brasil está entre os países mais alinhados com Net Zero, mas fica para trás no mercado de hidrogênio, projeta BloombergNEF. Na imagem: Vista aérea vertical de usina solar, com fileiras de painéis fotovoltaicos dispostos lado a lado (Foto: Barney Elo/Pixabay)
Ambientes políticos favoráveis e crescente atratividade econômica impulsionam aceleração de instalações renováveis (Foto: Barney Elo/Pixabay)

newsletter

Diálogos da Transição

APRESENTADA POR

Logo AKH (Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha)

Editada por Nayara Machado
[email protected]

Os atuais planos climáticos (Contribuições Nacionalmente Determinadas – NDCs) do Brasil, França, Reino Unido, EUA e Austrália são os mais alinhados com o cenário de emissões líquidas zero projetado pela BloombergNEF em relatório divulgado esta semana.

Com o tempo para ação esgotando, a análise traz indicativos de como o mundo ainda pode alcançar parte dos objetivos do Acordo de Paris e ficar abaixo de 2°C.

Embora cientistas do IPCC apontem que o ideal é limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C até 2100, o cenário net zero da BNEF mostra que há uma chance de 67% de manter o aquecimento global em 1,75 °C.

Nele, a demanda por petróleo, gás e carvão atinge o pico rapidamente e sofre um declínio acentuado a partir do ano que vem (2025).

“Os setores de energia, transporte, indústria e edifícios estão transacionando em velocidades diferentes e de acordo com as tecnologias disponíveis para sua descarbonização, mas logo todos veem as emissões começando a cair imediatamente. Estas mudanças de curto prazo só ocorrem graças a uma rápida expansão das tecnologias de energia limpa”, destaca o documento.

A simulação considera que a capacidade global de energia renovável triplica até 2030, a rápida adoção de veículos elétricos reduz o mercado de carros a gasolina e diesel até 2034 e as tecnologias de tecnologia de captura de carbono, armazenamento de energia e geração nuclear dão um salto antes de 2030.

Quase metade das emissões evitadas entre hoje e 2050, em todo o mundo, virá da descarbonização do setor de energia elétrica.

Enquanto um quarto depende da eletrificação dos setores de uso final, como transporte rodoviário, edifícios e indústria.

O quarto restante é considerado o mais desafiador: inclui biocombustíveis no transporte marítimo e aéreohidrogênio na indústria e no transporte; e captura e armazenamento de carbono na indústria e na geração de energia.

Nem todo mundo está alinhado

A BNEF avalia que as NDCs da Alemanha, Coreia do Sul, Japão e Índia estão no meio do caminho e precisam aumentar a ambição para entrar na rota net zero.

Enquanto China, Indonésia e Vietnã estão mais distantes, com maior margem para elevar a ambição em suas próximas Contribuições Nacionalmente Determinadas.

Corrida do hidrogênio

Outro estudo da BNEF publicado recentemente aponta, em contrapartida, o Brasil ficando para trás na atração de projetos de hidrogênio de baixo carbono – apesar de todo o seu potencial de fornecimento de eletricidade renovável.

Com políticas de apoio mais robustas, China, Europa e EUA poderão responder por mais de 80% do fornecimento global de hidrogênio limpo até 2030, calcula a consultoria.

Já regiões como América Latina e Austrália, apesar de terem grandes projetos em andamento, podem desempenhar um papel menor devido ao fraco apoio político.

Espera-se que os EUA sozinhos se tornem o maior produtor individual de hidrogênio limpo até o fim da década, respondendo por quase 37% da oferta global. Em grande parte por conta dos incentivos que o governo norte-americano vem dando à indústria local, contidos na Lei de Redução da Inflação (IRA, em inglês) e na Lei Bipartidária de Infraestrutura (BIL).

Além disso, a estimativa é que, globalmente, apenas 30% dos 1,6 mil projetos anunciados até agora saiam do papel, resultando em um total de 477 projetos em operação até o final da década.

Ainda assim, a BNEF espera que o fornecimento global de hidrogênio de baixo carbono aumente em 30 vezes, saltando de 500 mil toneladas, hoje, para 16,4 milhões de toneladas por ano, até 2030. Leia na matéria de Gabriel Chiappini

Cobrimos por aqui:

Curtas

Statkraft aposta em usinas híbridas

A empresa norueguesa confirmou à agência epbr que tem intenção de ofertar no leilão de reserva de capacidade o projeto híbrido de geração solar e eólica com armazenamento em baterias do parque que opera no interior da Bahia. A companhia vai transformar os parques eólicos Ventos de Santa Eugênia e Morro do Cruzeiro, no sertão baiano, em projetos híbridos.

Transição nas favelas

A ONG Revolusolar entregou, em maio e abril, dois novos projetos de geração de energia fotovoltaica em comunidades do Rio de Janeiro, em parceria com a TotalEnergies. O primeiro, nas favelas da Babilônia e Chapéu Mangueira, no Leme, conta com 55 painéis solares somando 29 kWp de capacidade para atender 40 famílias.

O segundo, na ONG Anjinho Feliz, na Cidade Nova, tem 7 kWp de capacidade e pretende gerar economia de R$ 700 reais por mês (90%) na fatura de energia da ONG, que atende 400 jovens e adultos em situação de vulnerabilidade. Veja detalhes

Leilões de energia em dezembro

O Ministério de Minas e Energia (MME) colocou em consulta pública, nesta quinta-feira (23/5), os editais dos leilões de energia nova A-4 e A-6, previstos para acontecer sequencialmente, em dezembro. O início do suprimento de energia está previsto para 1º de janeiro de 2028, no A-4, e 1º de janeiro de 2030, para o A-6.

AXS Energia vai construir 14 usinas solares

A empresa do grupo Roca anunciou na quarta (22/5) uma operação de longo prazo no total de US$ 31,3 milhões para financiar a construção de 14 novas usinas solares fotovoltaicas nos estados de Mato Grosso, Minas Gerais, São Paulo e Paraná.

Soluções na natureza

As big techs Google, Meta, Microsoft e Salesforce anunciaram uma coalizão que visa comprar até 20 milhões de créditos de remoção de carbono até 2030. De início, o foco está em projetos de reflorestamento. (Reset)