Diálogos da Transição

Mineração no fundo do mar terá que esperar

Organização filiada às Nações Unidas espera aprovar uma regulamentação para ser adotada em 2025

Negociações da Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos (ISA) terminaram hoje (28/7) sem acordo sobre mineração no fundo do mar em águas internacionais. Na imagem: Vista de ondulações do mar azul e, ao fundo, ilha coberta com vegetação (Foto: Pexels/Pixabay)
Pouco mais de 20 governos manifestaram resistência à mineração no fundo do mar (Foto: Pexels/Pixabay)

newsletter

Diálogos da Transição

APRESENTADA POR

Editada por Nayara Machado
[email protected]

As negociações da Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos (ISA) terminaram hoje (28/7) sem acordo para regular a mineração no fundo do mar em águas internacionais. A decisão foi adiada para novembro, quando os 168 membros se reúnem novamente.

Sem entrar em detalhes, a organização filiada às Nações Unidas afirma que “avançou significativamente nas negociações” e espera aprovar uma regulamentação para ser adotada em 2025.

O que está em jogo é a extração de minerais críticos para a transição energética versus o impacto dessa atividade sobre um ecossistema sensível e pouco explorado.

A demanda por minerais para a transição é o principal argumento das mineradoras. O movimento é liderado pela canadense The Metals Company (TMC), apoiada pela Noruega, a ilha de Nauru e o México.

A indefinição, que se arrasta desde a última sexta, derrubou as ações da TMC no início desta semana. Nasdaq

Mesmo que a ISA tenha um plano e consiga colocar em prática para liberar a mineração em 2025, até lá, a TMC ficará impedida de avançar sobre águas internacionais – e a demanda por metais para produção de baterias seguirá sendo atendida por terra.

Enquanto isso, organizações ambientais, cientistas, grupos de investidores e países cobram mais estudos dos impactos sobre o equilíbrio do ecossistema marinho e o clima global, e se eles anulariam os benefícios de produzir essas tecnologias de transição.

Oposição

Atualmente, pouco mais de 20 governos manifestaram resistência à mineração em águas profundas, pedindo uma pausa. Brasil, Costa Rica, Chile, Vanuatu, Alemanha e Suíça são alguns deles.

Mais de 700 cientistas também assinam uma carta pedindo uma pausa, alertando que a mineração em águas profundas resultará na “perda de biodiversidade e no funcionamento do ecossistema que seria irreversível em escalas de tempo multigeracionais”.

Para dar um exemplo, estudo publicado na Nature afirma que a mudança climática deve aumentar a sobreposição entre a pesca de atum no Pacífico e a indústria emergente de mineração em alto mar.

Além de apresentar um potencial de conflito entre as repercussões ambientais e econômicas, mostra o quanto ainda precisa ser analisado sobre o mar.

Os povos indígenas do Pacífico são outro grupo preocupado com o impacto dessa atividade sobre seus meios de subsistência. Na semana passada, mais de mil indígenas de 34 países assinaram um documento entregue à ISA expondo sua oposição. Greenpeace

O que tem no fundo do mar?

Uma expedição científica dos anos 1870 no Oceano Pacífico descobriu nódulos polimetálicos, pequenas rochas do tamanho de uma batata, compostos principalmente de manganês e ferro, além de metais estratégicos como cobalto, níquel e cobre.

As mais abundantes estão na Zona de Fratura Clipperton, em frente ao litoral mexicano do Pacífico, no centro do Oceano Índico e na bacia do Peru. Essas reservas superam as conhecidas em terra. AFP/UOL

Leia também:

Curtas

Hidrogênio na Alemanha

Alemanha terá que importar até 70% de sua demanda de hidrogênio para alcançar a neutralidade de carbono até 2045, de acordo com um documento estratégico atualizado pelo governo. O país revisou sua estratégia para incluir rotas de produção que utilizam gás natural e resíduos.

G20 reafirma 1,5°C, mas sem acordo de ação climática

Países não conseguiram chegar a um entendimento sobre vários pontos em torno da ação de mitigação, incluindo um cronograma para redução de emissões, corte de emissões não-carbono, como metano, investimento e ampliação de energias renováveis ​​e eficiência energética ou um cronograma para descarbonização. Argus

China triplica investimentos renováveis na América Latina

A região tornou-se destino de um terço dos investimentos do país asiático em energia eólica e solar, mostra um levantamento do Ipea. O acumulado de investimentos diretos de empresas chinesas em energias alternativas subiu de US$ 960 milhões em 2018 para US$ 3,8 bilhões no final de 2022. Agência Brasil

Padrão para mercado de carbono voluntário

A iniciativa global que tenta criar padronizar o comércio de créditos de carbono no mercado voluntário anunciou os critérios que serão usados para o carimbo de aprovação. Mas a categoria de desmatamento evitado (o REDD+), a mais comum no Brasil, ainda “estão sujeitos a um intenso escrutínio”. Capital Reset

Artigos da semana

Corrida com obstáculos Um desafio para a transição energética no Brasil é adequar o arcabouço legal e regulatório, que impacta diretamente na atração de investimentos, escreve Daniele Nunes

Novos decretos sobre mudanças climáticas: mais um passo na descarbonização da economia Novas normas favorecem a adoção de práticas voltadas à descarbonização da economia brasileira, por Guilherme Mota, Gabriela Mello Victoria Weber

Reflexões sobre a reforma tributária e o setor de gás natural Alternativa para o gás natural não sofrer um tratamento tributário mais oneroso seria constar expressamente a sua condição de bem essencial, avaliam Jayme Freitas e Rafaela Canito

A nova concepção da PPSA frente à experiência norueguesa Discussão sobre papel da PPSA levanta dúvidas se o futuro da estatal e, indiretamente, o da Petrobras, será promissor ou danoso na gestão da comercialização do óleo da União, escreve Nathália Pereira Dias