NESTA EDIÇÃO. Com nova demanda e esforços para recuperar reputação, mercados voluntários de carbono devem experimentar uma virada nos próximos anos.
Apesar de estagnação em 2024, número de projetos cresceu e eles indicam maior preocupação com integridade, mostram consultorias.
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As compensações de emissões por meio da compra de créditos de carbono permaneceram estagnadas em 2024, com cerca de 180 milhões de títulos aposentados, quase repetindo o resultado do ano anterior, mas mudanças políticas e esforços corporativos indicam que o momento da virada está próximo, analisa a MSCI.
Relatório da empresa financeira norte-americana sugere que o valor total do mercado voluntário de carbono pode crescer de cerca de US$ 1,5 bilhão em 2024 para entre US$ 7 e 35 bilhões em 2030.
E chegar a 2050 movimentando de US$ 45 e 250 bilhões com o comércio de créditos, caso empresas e governos cumpram seus compromissos climáticos.
Entre os fatores para o otimismo estão o crescente número de empresas assumindo compromissos de descarbonização, melhorias nas metodologias que avaliam a integridade dos projetos, a regulamentação do artigo 6 do Acordo de Paris e o início da fase obrigatória do Corsia, o esquema de compensação de emissões da aviação civil internacional.
Apesar da estagnação nas aposentadorias dos créditos, o número de projetos vem crescendo: mais de 6,2 mil iniciativas de créditos de carbono foram registradas no mundo em 2024, cobrindo 305 milhões de toneladas de CO2 (MtCO2e) no ano passado.
E eles parecem estar subindo a régua da integridade – um dos principais fatores que levaram à desaceleração desse mercado nos últimos anos, aponta a MSCI.
“Para a próxima fronteira, novos projetos que estão sendo desenvolvidos agora também parecem ser, em média, de maior integridade. Este é especialmente o caso de projetos, tanto de engenharia quanto baseados na natureza, que removem dióxido de carbono da atmosfera. Os órgãos de definição de padrões para mercados de carbono também se concentraram na qualidade”, diz o relatório.
Impulso da aviação…
As compensações de emissões serão estratégicas em setores altamente dependentes de combustíveis fósseis, chamados difíceis de abater, porque o custo da transição energética é muito alto e as soluções ainda não estão disponíveis em escala.
É o caso da aviação comercial. O setor responde por cerca de 3% das emissões globais de gases de efeito estufa e precisa investir em eficiência energética e combustíveis sustentáveis (SAF, em inglês) para reduzir sua pegada de carbono.
Mas a oferta de SAF ainda está muito aquém da demanda (0,53% do consumo em 2024) e custa duas a cinco vezes mais que o querosene de petróleo.
Para a MSCI, o Corsia deve ser um dos fatores mais relevantes para o mercado de carbono nos próximos anos.
Com 126 países participando da primeira fase, entre 2024 e 2026, a projeção é que até 140 milhões de toneladas de carbono precisem ser compensadas até 2027.
…e dos impostos de carbono
Conforme a integridade melhora, os mercados nacionais e regionais também começam a aceitar esses títulos, desde que cumpram determinados requisitos.
Caso da Colômbia, por exemplo, que permitiu o uso de créditos para compensar 50% do imposto de carbono doméstico em 2022, e de Cingapura, que em janeiro de 2024 liberou a compensação de até 5% das emissões tributáveis com os títulos.
As remoções aumentarão. Os preços também
Uma grande virada também é esperada nos créditos de remoções. Em 2024, 91% das aposentadorias vieram de projetos de redução de emissões, como energias renováveis e proteção de florestas.
Apenas 9% tiveram como origem os projetos que removem carbono, como os de reflorestamento. Isso porque eles são mais caros e mais escassos.
Relatório da EY (.pdf), observa, no entanto, que o ganho de competitividade das renováveis frente aos fósseis e regulações mais rígidas em relação ao desmatamento tendem a reduzir a adicionalidade de projetos baseados em emissões evitadas, aumentando o papel dos créditos baseados em remoções.
A expectativa é que os créditos de remoção aumentarão para 3-6 vezes os níveis atuais até 2035, e para 6-12 vezes até 2050, em cenários consistentes com 1,5°C (a meta do Acordo de Paris).
Demanda e padrões de qualidade crescentes também terão impactos nos preços.
A EY estima uma média de US$ 75-125 por tonelada até 2035 em cenários consistentes com o Acordo de Paris – em 2024 a média foi de US$ 4,8 por tonelada.
Cobrimos por aqui
Curtas
Foz do Amazonas 1. O presidente Lula (PT) afirmou nesta quarta (12/2), em entrevista à Rádio Diário FM, de Macapá (AP), que o “Ibama é um órgão do governo e parece que atua contra o governo”. A fala é uma crítica à indefinição quanto à licença ambiental e falta de resposta à análise do pedido de reconsideração da Petrobras para a perfuração de poço exploratório na bacia da Foz do Amazonas.
Foz do Amazonas 2. O Instituto Arayara reagiu às críticas de Lula (PT) classificando como “ofensa às autoridades ambientais” a declaração do presidente. Para a Arayara, o pedido de licença não pode se resumir a um “estudo”. A organização enxerga no movimento político um incentivo à expansão da atividade de exploração de combustíveis fósseis no país, indo na contramão dos esforços que precisam ser feitos para limitar a crise climática.
- Leia também: A mensagem do O&G brasileiro para a COP30
Carvão no RS. O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), articula com o governo a edição de uma medida provisória que viabilize o retorno às operações de usinas a carvão, em especial a termelétrica de Candiota, no Sul do estado. Leite está em Brasília e tem reunião marcada com o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD) para tratar da questão.
Mistura de biodiesel. Após especulações sobre o planejamento das distribuidoras de combustíveis para pedir waiver para o mandato de biodiesel, o deputado federal Arnaldo Jardim (Cidadania/SP), relator da lei do Combustível do Futuro na Câmara, disse “não haver cabimento” para não aumentar a mistura de 14% para 15% a partir de março.
E30. O Ministério de Minas e Energia (MME) avalia que a adoção do E30, uma mistura de 30% de etanol anidro na gasolina C, pode eliminar boa parte da dependência do Brasil em relação à importação de gasolina A. Segundo cálculos da pasta, com aumento do percentual de etanol no combustível fóssil de 27% para 30%, a demanda adicional de anidro pode chegar a 1,3 bilhão de litros por ano.
Ônibus elétricos em São Paulo. O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), afirmou nesta terça-feira (11/2), que “não tem como garantir” que até 2028 metade da frota de ônibus da capital seja movida a eletricidade, como prevê lei municipal de 2018, porque a indústria não conseguiria produzir a quantidade necessária de veículos elétricos e porque a Enel, concessionária distribuidora de energia na capital, não teria condições de garantir o abastecimento desses veículos.