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Diálogos da Transição
Editada por Nayara Machado
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* Com colaboração de Gabriel Chiappini e Hanrrikson de Andrade
O novo ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin, anunciou nesta quarta (4/1) a criação da Secretaria de Economia Verde, Descarbonização e Bioindústria, que trabalhará em parceria com o Ministério do Meio Ambiente, de Marina Silva.
Segundo Alckmin, a agenda é prioritária para assegurar a competitividade da produção brasileira no mercado internacional.
O foco em economia verde atende uma demanda da indústria.
Ontem, a CNI entregou ao vice-presidente um plano com 14 ações para os primeiros 100 dias de governo, entre elas “elaborar e comunicar claramente as medidas específicas a serem tomadas para implementação da Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) brasileira” e aprovar a lei que regulamenta o mercado de carbono.
Em seu discurso de posse como ministro nesta quarta, Alckmin afirmou que o Brasil pode ser protagonista na descarbonização da economia global, com investimentos em inovação.
E disse que a sociobiodiversidade será o ponto de partida da nova política industrial.
“É imperativa a redução da emissão de gases de efeito estufa, no estabelecimento de uma política de apoio a uma economia de baixo carbono, privilegiando tecnologias limpas e dando início a um processo de acesso produtivo eficiente, seguro e sustentável”.
A nova secretaria irá explorar frentes como energias renováveis, hidrogênio verde e mobilidade, de olho na atração de investimentos internacionais.
“Economia verde é duplamente importante. Primeiro, porque o Brasil pode sofrer sanções nas suas exportações por desmatamento. (…) Então, é importante, de um lado, a agenda ambiental, a agenda contra a mudança climática, para evitar que o Brasil sofra retaliação. Que haja protecionismo utilizando a questão climática”, comentou o ministro.
“De outro, uma grande oportunidade para o Brasil atrair investimentos. Energia limpa, energia verde, bioeconomia, novos produtos, a biodiversidade que o Brasil tem… o biodiesel”, completou.
No caso do hidrogênio, por exemplo, o Brasil já vem atraindo diversos acordos de intenções de investimento para instalação de projetos bilionários em portos. Mas falta regulação.
Mercado de carbono, eólicas offshore, corredores para gás e biometano e novos combustíveis, como diesel verde e combustível sustentável de aviação (SAF, em inglês) são outros projetos com potencial de alavancar a economia brasileira, ainda pendentes de um marco legal.
Cobrimos por aqui
- Bioeconomia pode adicionar US$ 284 bi à indústria brasileira até 2050
- Brasil mais perto de um marco para as eólicas offshore
- Combustível do Futuro fecha proposta para a aviação
- Hidrogênio será o combustível da próxima década, diz presidente da Eletrobras
Agenda transversal
Economia verde e mudança climática prometem ganhar força e ocupar diversas pastas na Esplanada. Veja quais ministérios já anunciaram estruturas ligadas ao clima e meio ambiente:
Ministério dos Povos Indígenas:
— Secretaria de Direitos Ambientais e Territoriais Indígenas
— Secretaria de Gestão Ambiental e Territorial Indígena
- Departamento de Gestão Ambiental, Territorial e Promoção ao Bem Viver Indígena
- Departamento de Justiça Climática
Ministério da Fazenda
— Subsecretaria de Financiamento ao Desenvolvimento Sustentável
— Subsecretaria de Política Agrícola e Negócios Agroambientais (já existia)
Ministério da Justiça e Segurança Pública
— Diretoria da Amazônia e Meio Ambiente
Ministério de Minas e Energia
— Assessoria Especial de Meio Ambiente (já existia)
— Secretaria de Planejamento e Transição Energética
- Departamento de Transição Energética
— Departamento de Desenvolvimento Sustentável da Mineração (já existia)
Ministério da Agricultura e Pecuária
— Secretaria de Inovação, Desenvolvimento Sustentável, Irrigação e Cooperativismo (já existia)
- Departamento de Produção Sustentável e Irrigação
- Departamento de Reflorestamento e Recuperação de Áreas Degradadas
Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços
— Secretaria de Economia Verde, Descarbonização e Bioindústria
- Departamento de Patrimônio Genético e Cadeias Produtivas dos Biomas e Amazônia
- Departamento de Descarbonização, Finanças Verdes e Novas Economias
Ministério das Cidades
— Departamento de Adaptação das Cidades à Transição Climática e Transformação Digital
Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação
— Subsecretaria de Ciência e Tecnologia para a Amazônia
— Departamento para o Clima e Sustentabilidade
— Departamento de Regulação e Negociações Socioambientais
No clima global, alguns números para observar em 2023:
7 anos
Este é o tempo que nos resta para cortar as emissões necessárias para limitar o aquecimento do planeta a 1,5°C. Caso contrário, o aumento de enchentes, fome e impactos econômicos da crise climática chegará a patamares desconhecidos — e possivelmente irreversíveis.
O grupo de cientistas do IPCC alerta que as emissões precisam ser cortadas em cerca de 50% até 2030 para evitar níveis perigosos de aquecimento. Mas as promessas climáticas até agora nos levam a um aumento de 10% nas emissões até 2030.
US$ 2,4 trilhões
Em entrevista ao The Guardian, o enviado climático dos EUA, John Kerry, observa que o financiamento climático (ou a falta dele) será uma característica dominante de 2023.
Na COP27, em novembro, a ONU apresentou um relatório (.pdf) estimando que os países emergentes precisam gastar coletivamente US$ 2,4 trilhões por ano até 2030 na transição para uma economia verde. Metade disso deve vir de recursos domésticos, a outra, de aportes internacionais. Mas até agora pouco foi feito.
2,7°C
As temperaturas médias em 2023 provavelmente serão 1,08-1,32°C mais altas do que os níveis pré-industriais, de acordo com o Met Office do Reino Unido — o décimo ano consecutivo acima de 1°C.
As políticas governamentais atuais estão em 2,7°C, de acordo com o Climate Action Tracker e dez impactos climáticos extremos até o ano passado causaram danos de mais de US$ 3 bilhões cada, calcula o Christian Aid.
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Copo meio cheio…
Empréstimos verdes superam combustíveis fósseis pela primeira vez. O dinheiro levantado nos mercados de dívida para projetos favoráveis ao clima foi maior do que para empresas de combustíveis fósseis no ano passado.
Aproximadamente US$ 580 bilhões foram arranjados em 2022 para energia renovável e outros empreendimentos ambientalmente responsáveis, enquanto as indústrias de petróleo, gás e carvão recorreram a credores e subscritores por cerca de US$ 530 bilhões, segundo dados compilados pela Bloomberg.