Diálogos da Transição

Maersk introduz taxa de combustíveis fósseis

Transportadora dinamarquesa se prepara para transição energética no setor marítimo

Indústria já tem mais de 100 encomendas de navios a metanol verde. Na imagem: Navio de cargas da Maersk com containers navegando em alto mar (Foto: Divulgação Maersk)
Viagem inaugural do primeiro navio a metanol verde está prevista para setembro de 2023 (Foto: Divulgação Maersk)

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Editada por Nayara Machado
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A dinamarquesa Maersk divulgou nesta sexta (31/5) que passará a unificar duas sobretaxas relacionadas ao bunker em uma Taxa de Combustível Fóssil (FFF, em inglês), que futuramente também poderá englobar regulamentações que obriguem o uso de novos combustíveis.

Em comunicado aos clientes, a transportadora explica que a intenção é simplificar custos. Atualmente, existem dois tipos de sobretaxas relacionadas ao combustível para frete marítimo: o Fator de Ajuste de Bunker (BAF) e a Sobretaxa de Baixo Teor de Enxofre (LSS).

A partir de 1º de julho de 2024, todas as novas cotações contratuais com validade superior a três meses vão considerar o FFF.

A companhia se prepara para um cenário que vem se desenhando no mercado internacional.

Com uma frota envelhecida e funcionando quase exclusivamente com combustíveis fósseis, o frete marítimo é hoje responsável por mais de 80% do volume de comércio mundial e quase 3% dos gases de efeito estufa (GEE) lançados na atmosfera. Na última década, o setor registrou um aumento de 20% nas suas emissões.

Para alinhar essa indústria aos objetivos globais de limitar o aquecimento do planeta – reduzindo o consumo de fósseis – será preciso mudar a energia utilizada para atravessar o oceano transportando carga.

“Se forem introduzidas regulamentações que obriguem o uso de um novo tipo de combustível, teremos que repassar o custo ao cliente na forma de novas sobretaxas, aumentando a complexidade”, explica o comunicado divulgado pela Maersk.

Imposto global

Um regulamento internacional para induzir o uso de novos combustíveis está a caminho. Governos e iniciativa privada discutem na Organização Marítima Internacional (IMO, em inglês) a criação de um imposto global sobre emissões do frete marítimo e compor um fundo destinado a acelerar a adoção de alternativas de baixo carbono.

A intenção é reduzir a diferença significativa de custos entre os combustíveis zero carbono e os fósseis, recompensando financeiramente as embarcações pelas emissões evitadas a partir do uso de metanol ou amônia verdes, por exemplo.

Segundo a agência da ONU sobre comércio (Unctad), será preciso investir de US$ 28 bilhões a US$ 90 bilhões por ano até 2050 para descarbonizar o setor, e as despesas anuais com combustíveis podem aumentar entre 70% e 100% – por isso a necessidade de mecanismos capazes de incentivar o desenvolvimento dessas cadeias o quanto antes.

Em março deste ano, a IMO chegou a um “esboço possível de uma estrutura de zero líquido” para os navios. A próxima reunião será entre 30 de setembro e 4 de outubro de 2024, onde se espera avançar com o desenho do mecanismo de preços – que deve ficar pronto até o ano que vem.

Embora ainda não existam parâmetros para precificar as emissões marítimas, há uma proposta para estabelecer um valor fixo de US$ 150/tonelada de gases de efeito estufa (GEE).

Navios a metanol

Amônia verde e azul, biodiesel, gás natural liquefeito (GNL), e-metanol, biometanol, biometano e e-metano são algumas das várias possibilidades para descarbonizar este setor.

Em fevereiro deste ano, a Maersk começou a operar o primeiro dos seus 18 navios de grande capacidade movidos a metanol verde. A embarcação bicombustível – que pode usar metanol, biodiesel e bunker convencional – faz a rota comercial AE7, que conecta a Ásia e a Europa.

Como o metanol verde ainda não é produzido em escala e é mais caro que o combustível marítimo convencional, a transportadora dinamarquesa também está firmando contratos de fornecimento com produtores ao redor do mundo, em uma estratégia que busca reduzir riscos de fornecimento.

No final de 2023, a companhia anunciou o primeiro contrato em larga escala da indústria de navegação para aquisição do derivado de hidrogênio com a chinesa Goldwind.

Com os primeiros volumes esperados para 2026, o acordo prevê o fornecimento de 500 mil toneladas do combustível a base de hidrogênio renovável para abastecer 12 embarcações de grande porte.

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