Diálogos da Transição

Latam: Aviação precisa de mercado de carbono confiável como solução de médio prazo

Para o CEO da Latam, Jerome Cadier, a aviação precisará de mercados de carbono no médio prazo para viabilizar o SAF

LATAM quer usar 5% de SAF até 2030, com preferência de produção da América do Sul  
(Foto: Latam/Divulgação)

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Para o CEO da Latam, Jerome Cadier, a aviação precisará de mercados de carbono no médio prazo para viabilizar o SAF.

É preciso avançar, no entanto, com regulações para garantir custo confiável dos créditos e regras de compensação diferenciadas para países emergentes.


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A indústria de aviação precisa de mercados de carbono com custos confiáveis para viabilizar parte da sua transição, e o Brasil pode ter um papel decisivo neste sentido, na visão do CEO da Latam, Jerome Cadier
 
“A gente precisa pensar num mercado de carbono muito mais com custo confiável e que nos convide a participar de forma mais ativa do que é o caso hoje. A gente precisa pensar nisso como uma solução de médio prazo absolutamente necessária para qualquer transição que a gente queira fazer para o SAF (combustível sustentável de aviação) no longo prazo”.
 
O SAF ainda representa 0,2% da demanda global de combustíveis de aviação, diz Cadier, e só será uma solução viável, de fato, em duas ou três décadas.
 
O executivo participou na última quarta (28/8) de um evento de transição energética promovido pelo G20 Brasil, em Brasília.
 
Para o CEO, o Brasil poderia aproveitar seu protagonismo internacional para ajudar a construir um mercado de carbono latinoamericano, ampliando o leque de opções para descarbonizar o setor aéreo.

“Por que só pensar em compensar aqui no Brasil, se eu posso ter uma empresa ou uma companhia aérea na Colômbia, compensando aqui no Brasil e vice-versa? E essa construção desse mercado, eu diria, comecemos com a América Latina, é um papel que cabe ao Brasil, pela sua influência dentro da região”.
 
“Podemos fazer com que o mercado seja muito maior do que simplesmente um país, que é o que se vê hoje”. 
 
Ele conta que a Latam, companhia que opera em mercados brasileiro, chileno e peruano, só tem um projeto de compensação dentro desses países. 
 
“Eu estou buscando um projeto no Brasil, mas acho que ajudaria muito se tanto fizesse, ou tivesse claras as regras de produção e utilização de créditos entre os países dentro da América Latina”, observou Cadier.



No cenário internacional, a indústria de aviação é signatária de um acordo, na Organização Internacional da Aviação Civil (Icao, em inglês), que busca a neutralidade de emissões até 2050 – o Corsia. Este mecanismo também define quais as rotas de SAF e os mercados voluntários de carbono são válidos para cumprir as metas.
 
O objetivo dessas restrições é evitar o greenwashing e, no caso do mercado de carbono, incentivar que as empresas adotem tecnologias mais limpas, ao invés de apenas compensar emissões.
 
Sem fazer menção direta ao Corsia, o CEO da Latam defendeu ainda que o Brasil, enquanto presidente rotativo do G20 este ano, apresente uma proposta que seja adequada para desenvolver o setor aéreo, ao mesmo tempo em que faz a transição energética.
 
Um dos grandes desafios está em evitar que o custo de voar se torne proibitivo, inviabilizando as viagens para uma parcela significativa da população.

“É preciso reconhecer que os países no mundo inteiro têm situações muito diferentes entre si. E pensar em soluções que funcionam como cobertor para todo mundo vai trazer uma profunda desigualdade em cada um dos países que estão embaixo desse cobertor”.
 
Cadier aponta que, enquanto no Brasil a taxa de viagens por habitantes é de 0,5/ano (100 milhões de passageiros/ano), na Espanha, esse número é 3,5 viagens por habitante por ano. Nos Estados Unidos 2,5. No Chile é 1,2. Na Colômbia é 0,8.
 
“Se formos em uma onda de ter um cobertor em medidas de compensação iguais para todos os países, estamos provocando uma tremenda discussão em países como o Brasil, que vão ter um freio muito grande no seu desenvolvimento aeronáutico, se tiverem que adotar as [mesmas] regras que os países mais avançados, que já emitiram muito mais gases [de efeito estufa]”, critica.

Em tempo: o diretor-presidente substituto da Anac, Tiago Sousa Pereira, recusou, por razões de contingenciamento orçamentário, um convite para a agência reguladora participar do painel sobre SAF em um evento organizado pela Icao em Nova Delhi, na Índia, no dia 10 de setembro.

  • A Anac planeja realizar em Brasília, nos dias 13 e 14 de novembro, um evento em parceria com a LACAC (Latin-American Civil Aviation Commission) sobre o tema.

Disputa pelo mercado de hidrogênio. Para o assessor internacional da Secretaria de Relações Institucionais, Danilo Zimbres, apesar dos recentes avanços para a introdução do hidrogênio de baixo carbono na matriz energética brasileira, o país deve se preparar para enfrentar uma disputa acirrada no mercado internacional. O diplomata defende investimentos para o Brasil manter a expectativa de alta competitividade nesse setor. (Agência Câmara)
 
Biocarvão no Pecém. A Energia Pecém e a Universidade Estadual do Ceará (UECE) assinaram na quarta (28/8) um memorando de entendimento para desenvolver biocarvão a partir de biomassa de coco. O projeto de PD&I receberá investimentos de R$ 2,5 milhões da termelétrica instalada no Porto do Pecém, no Ceará, e tem previsão de duração de 24 meses. Veja detalhes
 
Risco climático na B3. Os setores de papel e celulose, agronegócio e alimentos e bebidas, e mineração e siderurgia são os mais expostos aos chamados riscos físicos causados pela mudança climática, indicam analistas da XP. Enquanto setores de óleo e gás, transportes e, mais uma vez, mineração e siderurgia são os mais vulneráveis aos chamados riscos de transição – aqueles decorrentes mudanças de mercado e tecnologia, de impactos negativos à reputação ou dos cenários regulatórios. (Reset)
 
Crédito de energia renovável. O Grupo CBO, empresa do segmento de apoio marítimo, fechou contrato com a Enel para compensar emissões de suas embarcações, via créditos de carbono, e de três unidades administrativas no Rio de Janeiro, através de I-RECs. 
 
Transmissão de energia. O negócio de Grid Solutions da GE Vernova fechou contrato com a Eletrobras para fornecer o banco de capacitores série (BCS) que será instalado na subestação de energia Marabá, no Pará. O equipamento utiliza compensação reativa (capacitiva) e tem como principal função maximizar a capacidade, eficiência e confiabilidade de linhas de transmissão de grandes extensões.

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