Diálogos da Transição

Inteligência artificial e ondas de calor: as novas pressões energéticas

Consumo energético de data centers já supera o de veículos elétricos

Torres e linhas de transmissão de energia com turbinas eólicas ao fundo e, no horizonte, o sol se põe (Foto: Peter Schmidt/Terranaut/Pixabay)
Linhas de transmissão de energia com turbinas eólicas ao fundo (Foto: Peter Schmidt/Terranaut/Pixabay)

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Editada por Nayara Machado
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A ascensão da inteligência artificial está colocando o consumo de eletricidade dos data centers em foco, superando a demanda de recarga de veículos elétricos, aponta o mais recente relatório da Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês).

Em 2022, centros de dados em todo o mundo (excluindo criptomoedas) consumiram cerca de 1-1,3% da demanda global de eletricidade e essa participação deve chegar a uma faixa entre 1,5-3% até 2026, projeta a IEA.

Em contraste, os veículos elétricos, apesar de seu rápido crescimento, tiveram uma participação menor, de 0,5% em 2022, e seu consumo está previsto para variar de menos de 1,5% a cerca de 2% até 2026.

Apesar da expansão acelerada, a agência alerta para a ausência de estimativas históricas confiáveis do consumo de eletricidade dos centros de dados em muitas regiões, o que dificulta as projeções futuras aumentando o grau de incerteza.

Ainda assim, observa que há mercados onde a demanda energética dos data centers já representa uma fatia importante do consumo, como Irlanda (18%) e Singapura (7%).

Esse movimento vem acompanhado de uma série de desafios: desde garantir que o abastecimento seja renovável até a disponibilidade de conexão à rede, já que a eletrificação da economia também está acelerando.

“Em algumas regiões, restrições para a instalação de novos centros de dados foram implementadas, incluindo Dublin, que estabeleceu condições de conexão à rede desde o final de 2021. Na Holanda, a partir de janeiro de 2024, novos centros de dados de grande escala são restritos na maioria dos locais devido a limitações da rede, entre outras razões”, exemplifica a agência.

Geração própria

Em meio a esses desafios, os provedores têm investido na geração local. Na China, a empresa de tecnologia Tencent instalou cerca de 10 MW de energia solar em telhados com armazenamento de bateria em seu centro de dados em nuvem em Tianjin.

Nos Estados Unidos, a Amazon Web Services (AWS) adquiriu o centro de dados da Talen Energy conectado à usina nuclear de Susquehanna.

Mas nem tudo é livre de carbono e as térmicas a gás natural também estão no radar. A IEA cita a Gas Networks Ireland que recebeu 20 consultas formais de conexão de centros de dados.

“Uma proposta atual na Irlanda explora a possibilidade de permitir que empresas privadas construam e operem suas próprias linhas de energia, e uma política para avançar nessa questão é esperada até o final de 2024”, aponta o relatório.

Ondas de calor sobrecarregam sistemas de energia

Redes em todo o mundo estão ficando continuamente sobrecarregadas em meio a eventos climáticos extremos.

Vale dizer: maio de 2024 foi considerado o mês mais quente desde o início dos registros globais e o 12º mês consecutivo de temperaturas recordes.

“Índia, México, Paquistão, Estados Unidos, Vietnã e muitos outros países enfrentaram ondas de calor severas com picos de carga devido à maior necessidade de refrigeração”, destaca a IEA.

À medida que mais famílias começam a comprar aparelhos de ar condicionado, a agência avalia que o impacto sobre o consumo elétrico aumentará substancialmente, principalmente em economias emergentes.

“Implementar padrões de eficiência mais altos para ar condicionados será crucial para mitigar o impacto do aumento da demanda de refrigeração nos sistemas de energia. A expansão e o reforço das redes de energia também serão muito importantes para garantir a confiabilidade”, completa.

Carvão resiliente

Em meio a um cenário de expansão do consumo elétrico – previsto para crescer cerca de 4% em 2024, acima dos 2,5% em 2023 – a geração a carvão está prevista para permanecer resiliente.

A IEA aponta que nem mesmo o rápido crescimento das energias renováveis está conseguindo acompanhar a demanda aquecida, especialmente na China e na Índia, e o resultado é mais geração a carvão.

É esperado um aumento de cerca de 1% na geração a carvão em 2024, após ter crescido 2% em 2023.

Esse percentual, no entanto, está fortemente atrelado às condições climáticas que vão permitir ou não uma maior geração hidrelétrica. Um cenário de seca tende a aumentar a necessidade de térmicas fósseis.

A produção global de energia a gás natural também está prevista para crescer em média cerca de 1% durante o período de 2024-2025, com os declínios na Europa compensados pela Ásia e Oriente Médio.

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