Diálogos da Transição

Inflação eleva margens para renováveis em 2022, segundo relatório da Platts

Para analistas, a ironia é que o baixo desempenho das renováveis estaria por trás do aumento nos preços globais da energia

Inflação eleva margens para renováveis em 2022, indica relatório da Platts. Na imagem: Turbinas eólicas sobre montanhas cobertas com vegetação e, ao fundo, sol brilhando se reflete no oceano (Foto: Reprodução Twitter EY)
Colocar o mundo em um caminho para alcançar emissões líquidas zero até 2050 requer aumento substancial de ativos de energia limpa de capital intensivo (Foto: Reprodução Twitter EY)

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Diálogos da Transição

eixos.com.br | 20/12/21

Editada por Nayara Machado
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A inflação da energia elevou as margens das renováveis a níveis historicamente altos e aumentou as perspectivas de um crescimento mais rápido do aumento de capacidade em 2022, diz o S&P Global Platts Analytics Energy Outlook 2022.

Para os analistas, há uma certa ironia nesse cenário, já que o baixo desempenho das energias renováveis estaria por trás do aumento nos preços globais da energia.

E será preciso desenvolver políticas que equilibrem a necessidade de adicionar eletricidade zero carbono à matriz global com o custo da disponibilidade de energia renovável e opções de armazenamento, já que muitas dessas fontes são intermitentes – como solar e eólica.

Apesar de um aumento de 10% nos custos, devido aos preços historicamente altos de insumos e questões trabalhistas, a consultoria espera que as adições de energia solar fotovoltaica aumentem 4% em 2022, enquanto as instalações eólicas onshore avançam 1%.

Por outro lado, o crescimento da capacidade de eólicas offshore deve encolher 25% em 2022, após um salto expressivo em 2021, ano em que subsídios da China expiraram.

“2021 foi um exemplo claro de que a recuperação de eventos perturbadores como a Covid-19 costumam ser exercícios de vários anos”, diz Dan Klein, chefe de Energy Pathways Analytics da Platts.

Isto é, embora a recuperação continue em 2022, é provável que nem todos os mercados de energia estejam de volta ao normal até o final do ano, especialmente porque as necessidades da transição energética exigirão mais interrupções para os negócios convencionais (ou fósseis).

O preço dos biocombustíveis também deve continuar em alta, diante de uma oferta restrita de fertilizantes, na esteira da redução das instalações de produção devido aos altos preços do gás natural em 2021.

Além da previsão de secas trazidas pela La Niña no Brasil, que deve afetar a produção de matéria-prima para combustíveis renováveis como etanol, biodiesel e diesel verde.

“O destino da safra de milho da segunda safra (safrinha) do Brasil terá implicações diretas e grandes nos preços e na demanda das exportações dos EUA. A demanda por diesel renovável de óleo de soja dos EUA aumentará novamente em 2022, enquanto a produção brasileira cobrirá a maior parte do pequeno aumento da demanda da China”, diz o relatório.

As mudanças climáticas são o principal risco para o setor de energia da América do Sul, mostra a pesquisa KPMG 2021 CEO Outlook – recorte energia na América do Sul.

A grande maioria dos líderes sul-americanos do setor de energia entrevistados pela KPMG destacou os riscos associados às mudanças climáticas como o mais importante (36%), seguido pelas regulamentações para a atividade neste setor (23%).

Ameaças cibernéticas (14%), funcionamento da cadeia de suprimentos (9%) e risco associado à disrupção tecnológica (5%) completam a lista.

Além disso, 91% dos executivos do setor de energia sul-americano concordaram que devem manter as conquistas alcançadas em termos de sustentabilidade durante a crise sanitária e 77% deles buscarão focar programas de ESG no componente social.

Em termos de investimento em sustentabilidade, 36% afirmam investir entre 6% e 10% da receita das empresas que lideram em programas que as tornem mais sustentáveis.

Colocar o mundo em um caminho para alcançar emissões líquidas zero até 2050 requer um aumento substancial de ativos de energia limpa de capital intensivo – como eólica, solar fotovoltaica, veículos elétricos e eletrolisadores de hidrogênio – que têm custos de investimento inicial relativamente altos.

O cenário de emissões zero líquidas até 2050 da Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês) estima que cerca de 70% do investimento em energia limpa na próxima década precisará ser realizado por desenvolvedores privados, consumidores e financiadores.

O rápido aumento do investimento em tecnologias limpas também vai depender da melhoria do acesso a financiamento de baixo custo, especialmente em economias emergentes e em desenvolvimento.

“Enquanto as transições de energia limpa dependem de níveis muito mais altos de patrimônio e dívida, as estruturas de capital também dependem da mobilização generalizada de dívida de baixo custo, por exemplo, para novos projetos solares de escala de utilidade e intensivos em capital apoiados por contratos de compra de energia de longo prazo”, explica a agência.

Vale um destaque: a Comissão da União Europeia apresentou na última semana novas regras para facilitar o acesso de gases renováveis e com baixo teor de carbono — como hidrogênio e biometano — à rede de gás existente, eliminando as tarifas das conexões transfronteiriças e reduzindo as tarifas nos pontos de injeção.

Para criar mais espaço para gases limpos no mercado europeu, os legisladores também propõem que os contratos de longo prazo de gás natural não sejam prorrogados para além de 2049.

“A Europa precisa virar a página sobre os combustíveis fósseis e buscar fontes de energia mais limpas. Isso inclui a substituição do gás fóssil por gases renováveis ​​e de baixo carbono, como o hidrogênio”, disse o vice-presidente executivo para o Acordo Verde Europeu, Frans Timmermans.

No Brasil, a Equatorial Energia inaugurou no sábado (18) o primeiro posto de carregamento para carros elétricos do Maranhão.

O projeto, que faz parte de um estudo de mobilidade elétrica do grupo, também disponibiliza dez bicicletas elétricas para uso gratuito da população no Parque do Rangedor, em São Luís

O eletroposto permite o carregamento de até dois carros elétricos simultaneamente, utilizando energia solar como uma das fontes.

A iniciativa é apoiada pelo Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel e conta com o investimento de outras nove empresas do setor elétrico, representadas pela Global Participações em Energia.

O investimento total do projeto em cinco estados da federação é de aproximadamente R$ 19 milhões.