diálogos da transição

IMO: EUA abandonam negociações e Brasil embarca com biocombustíveis

EUA de Trump abandonam negociações sobre taxa de carbono de navios; indústria e cientistas brasileiros tentam provar sustentabilidade de bioenergia

Estratégia brasileira para combustíveis marítimos sustentáveis será lançada até 2025. Na imagem: Navios em corredor de exportação no Paraná (Foto José Fernando Ogura/AEN)
Navios em corredor de exportação no Paraná | Foto José Fernando Ogura/AEN

NESTA EDIÇÃO. Empresários e cientistas tentam provar que não há dilema de competição entre alimentos e bioenergia no Brasil.

Em outra frente, EUA de Trump abandonam negociações, prometem retaliação e incitam boicote a imposto de carbono sobre navios.


EDIÇÃO APRESENTADA POR

Enquanto delegações de 175 países membros da Organização Marítima Internacional (IMO, em inglês) discutem qual será o mecanismo para a descarbonização de navios no horizonte até 2050, representantes da indústria de biocombustíveis e cientistas brasileiros estão mobilizados para comprovar a sustentabilidade da produção agrícola nacional.
 
Na tarde desta quinta (10/4), em Londres, onde ocorre o debate na sede da IMO, a delegação de empresários e pesquisadores apresentou um compilado de mais de 80 estudos internacionais para rebater críticas, especialmente europeias, aos produtos de primeira geração baseados em culturas como cana, milho e soja.
 
O trabalho liderado pela professora da USP e coordenadora do programa de Pesquisa em Bioenergia Fapesp, Glaucia Souza, traz subsídios para a delegação brasileira na IMO, na medida em que rebate uma das principais críticas ao etanol e biodiesel: a concorrência com a produção de alimentos.
 
“Estamos oferecendo evidências de que a produção de biocombustíveis não compete com a produção de alimentos”, conta a pesquisadora que também é líder da Força-Tarefa de Descarbonização do Transporte com Biocombustíveis da Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês).
 
É uma corrida contra o tempo para mostrar ao mundo que existem outras soluções para substituir combustíveis fósseis em navios, além dos derivados de hidrogênio que têm ganhado cada vez mais espaço no debate.
 
Pelo cronograma da IMO, até sexta-feira (11/4) é esperada uma definição sobre o caminho que será adotado para alcançar emissões líquidas zero no setor até 2050. A decisão precisa ser consensual e será obrigatória – muito semelhante ao que ocorreu na aviação civil em 2016.
 
Há duas propostas principais sobre a mesa: uma taxa de carbono para financiar a transição e um mecanismo de conformidade de flexibilidade, para reconhecer quem investe em combustíveis de baixo carbono.
 
Defensor do mecanismo de flexibilidade, o Brasil tem se posicionado contra uma taxação por entender que terá um peso maior sobre o frete de longa distância, com impactos econômicos sobre países emergentes, principalmente no Sul Global. Outro ponto de preocupação é com barreiras aos biocombustíveis.



A mobilização tenta garantir que as especificidades brasileiras e de países emergentes do Sul Global sejam levadas em conta no mecanismo da IMO, evitando acordos que criarão novos custos e mudanças bruscas na produção e consumo desses mercados a partir de uma imposição de tecnologias do Norte.
 
“A indústria da aviação se organizou antes e pegou os biocombustíveis, e o Brasil em geral, um pouco no contrapé. Quando ela determinou as características e as exigências que ela tem como premissa básica, predominou a ótica europeia. Agora, na IMO, estamos conseguindo chegar junto antes de uma decisão”, comenta Camilo Adas, diretor de Transição Energética da Be8 e um dos revisores do compilado.
 
A produtora de biocombustíveis anunciou no final de março uma parceria com a Vast, no Porto do Açu, em busca de clientes para o biodiesel no transporte marítimo.
 
Em entrevista à agência eixos, Adas, que também integra o grupo de trabalho do Ministério da Indústria e Comércio (MDIC) para Transição Energética da Indústria Naval, avalia que o Brasil aprendeu a lição com o esquema da aviação internacional (Corsia) e se reorganizou nos últimos quatro anos para abordar a transição energética justa. Leia a matéria completa

O debate sobre a descarbonização marítima também precisará lidar com o efeito Trump. Na quarta (9/4), os Estados Unidos decidiram se retirar das negociações em Londres, em mais uma medida contra a ação climática do presidente republicano. 
 
O governo norte-americano informou ainda que considerará “medidas recíprocas” para compensar quaisquer taxas cobradas de seus navios e incitou outros países a seguirem seu exemplo. (Um Só Planeta)
 
“Os EUA rejeitam toda e qualquer tentativa de impor medidas econômicas contra seus navios com base nas emissões de GEE ou na escolha do combustível”, informou a administração de Donald Trump, segundo a Reuters
 
“Se uma medida tão flagrantemente injusta for adotada, nosso governo considerará medidas recíprocas para compensar quaisquer taxas cobradas de navios dos EUA e compensar o povo norte-americano por qualquer outro dano econômico decorrente de quaisquer medidas de emissões de GEE adotadas”.


Por falar em biocombustíveis marítimos… A efen e a Wilson Sons anunciaram nesta quinta (10/4) que realizaram o primeiro abastecimento de uma embarcação com diesel verde (HVO) no Brasil. A operação de movimentação do combustível foi realizada no Terminal de Líquidos do Açu (TLA), da Vast Infraestrutura, no final de março.
 
Amônia verde em Goiás. A produtora de biocombustíveis Atvos assinou uma carta de intenções com a startup japonesa Tsubame BHB para desenvolver uma fábrica de amônia aquosa verde em Mineiros (GO), onde está localizada a Unidade Morro Vermelho (UMV), responsável pela produção de etanol. Com investimento de cerca de R$ 70 milhões, a nova planta terá capacidade instalada de 20 mil toneladas por ano.
 
Selo verde. O programa Selo Verde Brasil definiu na terça-feira (8/4) os primeiros produtos que receberão a certificação de sustentabilidade. Sete itens da indústria química foram incluídos no projetos-pilotos, junto com café torrado e chapas laminadas — escolhidos pela baixa pegada de carbono.
 
Leilão de baterias… A portaria do leilão de reserva de capacidade para projetos de armazenamento de energia no Brasil será publicada até o final de maio, disse o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), nesta quinta (10/4). A expectativa é que o primeiro certame para contratar baterias no país ocorra ainda este ano.
 
…e de térmicas. O edital do leilão de reserva de capacidade (LRCAP) deve sair em até 60 dias para que o certame ocorra ainda em 2025, segundo o ministro Alexandre Silveira. Questionado quando o edital precisa ser concluído para a realização do leilão este ano, o ministro afirmou esperar que fique pronto em 60 dias ou menos.
 
Energia de incineração. A geração de energia elétrica a partir da incineração do lixo urbano na região metropolitana do Rio de Janeiro pode atrair até R$ 25 bilhões em investimentos e gerar 25 mil postos de trabalho diretos e indiretos, segundo levantamento da Associação Brasileira de Energia de Resíduos (Abren).
 
Curtailment. O Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) comunicou na quarta (9/4) que até junho o ONS deverá apresentar um estudo para permitir maior escoamento de energia elétrica entre os subsistemas, com a adoção de “critérios diferenciados” de operação do Sistema Interligado Nacional (SIN), em caráter “excepcional e temporário”.
 
Chamada para IA climática. O prazo para inscrição no edital do Instituto Clima e Sociedade (iCS) que selecionará projetos para acelerar soluções para Natureza e Clima, com uso de tecnologias como IA, se encerra em 22 abril. O edital tem apoio de R$ 18 milhões do Google.org. Podem participar organizações e entidades privadas sem fins lucrativos; universidades, institutos e centros de pesquisa públicos ou privados sem fins lucrativos. Clique aqui para acessar o edital e o formulário de inscrição.

Newsletter diálogos da transição

Inscreva-se e fique por dentro de tudo sobre Transição Energética