diálogos da transição

Governo sinaliza próximas metas para política industrial

“Promover a industrialização em novas bases tecnológicas e a descarbonização da economia” é um dos capítulos da mensagem de Lula ao Congresso

Governo sinaliza próximas metas para política industrial (Foto: Ricardo Stuckert/PR)
Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, em encontro com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, e presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta | Foto: Ricardo Stuckert/PR

NESTA EDIÇÃO. Sucesso de indústria verde depende de continuidade da transição energética, avaliam especialistas.
 
COP30: Prazo para países apresentarem suas metas climáticas atualizadas se aproxima do fim, mas grandes emissores devem atrasar entregas.


EDIÇÃO APRESENTADA POR

Após ano dominado por bioenergia, o governo federal sinalizou ao Congresso Nacional quais as próximas metas de construção de políticas industriais.
 
“Promover a industrialização em novas bases tecnológicas e a descarbonização da economia” é um dos capítulos da mensagem da presidência da República para a abertura do novo ano legislativo, listando políticas em andamento que o governo Lula (PT) considera estarem alinhadas à “nova industrialização”.
 
A lista inclui a alteração do custo de captação dos recursos reembolsáveis do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) para Taxa Referencial (TR), o Plano IA para o Bem de Todos e a retomada do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de Semicondutores (Padis).
 
Além do Pró-Amazônia, que investirá, até o final deste ano, cerca de R$ 500 milhões em projetos nas áreas de bioeconomia, cidades sustentáveis, descarbonização de processos produtivos e transformação digital, entre outros. 
 
Na transição energética, aviação e navegação sustentável, hidrogênio de baixo carbono e biogás aparecem como as prioridades na nova indústria.
 
Se fizer o dever de casa, o potencial é grande. O Brasil é um dos quatro países que mostram capacidade para liderar uma indústria verde, ao lado de China, Estados Unidos e Rússia, de acordo um uma análise do Net Zero Industrial Policy Lab (NZIPL) da Universidade Johns Hopkins (EUA).
 
“É preciso um esforço coordenado e uma visão comum do potencial que o Brasil tem de desenvolvimento socioeconômico a partir do desenvolvimento industrial e transição energética”, disse em uma entrevista à agência eixos, no final de janeiro, a gerente de Energia e Indústria do Instituto Clima e Sociedade (iCS), Victoria Santos.
 
“É uma agenda de prosperidade econômica. Isso precisa se refletir, não apenas nessas políticas que estão sendo aprovadas, mas também nos mecanismos financeiros voltados para a indústria que vai gerar uma demanda para esses recursos renováveis”, observa.
 
Embora o ano de 2024 tenha sido de conquistas políticas relacionadas à transição energética, há um longo caminho até o Brasil realmente materializar tudo isso.
 
Santos cita como exemplo o hidrogênio verde e sua função na descarbonização industrial.
 
“A gente precisa pensar que o hidrogênio é um meio para algo. E pensando nele como um produto energético, a gente agrega muito pouco à economia brasileira [se a estratégia for] apenas produção para exportação. É algo que não está sendo tratado diretamente no marco regulatório do hidrogênio verde”.
 
Na ocasião, o iCS estava lançando o primeiro anuário estadual de mudanças climáticas do Brasil, um documento que dá o tom do desafio: a intensa exploração do pré-sal, os processos industriais energointensivos e as emissões residenciais e veiculares nos estados do Sudeste do Brasil colocam a região no topo do ranking de emissões relacionadas à energia.



Também em janeiro, iCS e Itaúsa publicaram um edital com R$ 6 milhões para financiar estudos relacionados a tarifas justas e expansão em renováveis, estudos para novas cadeias industriais de baixo carbono e biocombustíveis e proposição de incentivos para acelerar a economia verde e justa, entre outros temas, com foco no Nordeste.
 
A ideia é justamente encontrar caminhos para conectar as políticas recém aprovadas às realidades de diferentes setores da economia.
 
Head de Sustentabilidade da Itaúsa, Marcelo Furtado explica que apesar de a matriz energética renovável ser uma carta na manga, é preciso garantir a continuidade da transição para assegurar essa vantagem competitiva.
 
“Continuar essa transição significa pensar qual matriz energética o país necessita e deseja, olhando para sua economia do futuro. Enquanto a gente vê toda essa crescente atenção numa área super estratégica, que é a inteligência artificial, a gente também sabe que essa é uma área que também demanda energia”, exemplifica. 
 
“O país deve ser uma sociedade que oferece, inclusive, grandes oportunidades de investimento”, completa.

A mensagem do governo ao Congresso também sugere que a Contribuição Nacionalmente Determinada ao Acordo de Paris (NDC, em inglês) seja tratada com um portfólio de investimentos para atrair recursos para o Brasil. 
 
A NDC mostra como o país pretende descarbonizar sua economia e se adaptar para a mudança do clima, com metas até 2035, e foi depositada na ONU no final do ano passado.
 
Como presidente da COP30 este ano, o Brasil pediu às 192 nações signatárias do Acordo de Paris que entreguem suas metas climáticas até 10 de fevereiro. 
 
Emirados Árabes UnidosReino UnidoJapão, Suíça e Nova Zelândia  também já divulgaram suas ambições para 2035. 
 
Mas grandes emissores como China, Índia e União Europeia devem entregar mais perto da conferência, apostam os analistas. Vale lembrar que os Estados Unidos estão fora do acordo desde que Donald Trump tomou posse em janeiro, deixando o fardo ainda mais pesado para os demais – já que o planeta é um só e o carbono não respeita fronteiras.


Novo secretário de energia dos EUA. Chris Wright foi confirmado para liderar o Departamento de Energia, colocando o fundador de uma empresa de serviços de fraturamento de petróleo e gás no comando da política energética dos EUA. Ele apoia o desejo de Trump de liberar exportações de gás natural liquefeito em meio a um objetivo mais amplo de promover a produção de combustíveis fósseis. (Bloomberg)
 
Guerra comercial. O Ministério do Comércio da China anunciou nesta terça-feira (4/2) a imposição de tarifas sobre diversos produtos fabricados nos Estados Unidos, em contraposição à taxação de bens chineses. O carvão e o gás liquefeito serão taxados em 15% e o petróleo em 10%. A China também ampliou restrições à exportação de minerais estratégicos.
 
APL do lítio. Em Minas Gerais, municípios querem um Arranjo Produtivo Local (APL) para beneficiar o mineral extraído na região que ganhou o apelido de Vale do Lítio. O presidente da Associação Mineira de Municípios (AMM) e vice-presidente da Confederação Nacional de Municípios (CNM), Marcos Vinicius, defende que parte dos impostos arrecadados no Vale do Jequitinhonha seja reinvestido no beneficiamento do mineral.
 
Ceará no mercado livre. O Governo do Ceará está migrando 144 órgãos do estado para o mercado livre de energia, na modalidade varejista. Contrato assinado entre a Secretaria da Infraestrutura do estado e a EDP prevê o fornecimento de 13,4 MW médios (ou 117.000,00 MWh/ano), até 2029. O suprimento, a partir de fontes renováveis, teve início em novembro de 2024 em 17 unidades.
 
Amazonas Energia. O diretor-geral da Aneel, Sandoval Feitosa, disse nesta terça-feira (4/2) que os repasses determinados pela Justiça à Amazonas Energia serão cumpridos. Os valores chegam a cerca de R$ 600 milhões e serão pagos de forma retroativa. A distribuidora está em processo de transferência de controle à Âmbar Energia, do grupo J&F.
 
Captura de carbono. Projeto do Centro de Estudos de Energia e Petróleo (Cepetro) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) está investigando novos materiais que possam ser utilizados na CO2 em plantas industriais. A pesquisa, inteiramente computacional, vai rastrear materiais mais efetivos para adsorver o CO2, levando em conta desde a estrutura atômica até sua viabilidade econômica.
 
2,9 mil km com hidrogênio. A Accelera, segmento de negócios da Cummins, entrou para o Guinness World Records com a maior distância percorrida por um caminhão elétrico pesado movido a célula de combustível de hidrogênio sem reabastecimento. O protótipo H2Rescue projetado para missões críticas completou 2.906 km com uma única carga no último trimestre de 2024, no centro da Califórnia (EUA). 
 
Pacto pela Sustentabilidade. A Ultracargo aderiu à iniciativa lançada no fim de janeiro pelo Ministério de Portos e Aeroportos (MPor) para promover práticas sustentáveis nos setores de portos, aeroportos e hidrovias. O Pacto pela Sustentabilidade é um compromisso voluntário de organizações públicas e privadas com práticas alinhadas à Agenda 2030 da ONU. Desde 2020, o grupo de logística tem metas de sustentabilidade social, ambiental e governança.

Newsletter diálogos da transição

Inscreva-se e fique por dentro de tudo sobre Transição Energética