Agendas da COP

Governo publica revisão da meta de corte de emissões até 2030

Projetos de hidrogênio avançam no Brasil; captura de carbono esbarra na falta de financiamento

Governo brasileiro publica revisão da NDC brasileira – meta de corte de emissões – até 2030. Na imagem: Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, durante coletiva de imprensa em Brasília (DF), em 6/7/2023, fala sobre desmatamento florestal na Amazônia (Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)
Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva (Rede), fala, em coletiva, sobre desmatamento florestal na Amazônia (Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)

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Diálogos da Transição

APRESENTADA POR

Editada por Nayara Machado
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O governo brasileiro publicou nesta quarta (26/10) a atualização da sua contribuição nacionalmente determinada ao Acordo de Paris (NDC, na sigla em inglês), retornando às ambições depositadas na ONU em 2015.

Ao retornar às metas desenhadas oito anos atrás, ainda no governo de Dilma Rousseff, o país corrige a revisão feita pelo ex-ministro bolsonarista Joaquim Leite, que mudou a base de cálculo de emissões abrindo uma janela para permitir que o Brasil emitisse mais.

A resolução publicada no Diário Oficial da União restabelece a ambição da NDC de 2015 nos valores absolutos de gases de efeito estufa (GEE).

Isso significa que a meta agora é chegar a 2025 com emissões absolutas de 1,32 bilhão de toneladas de CO2 (GtCO2e), caindo para 1,2 GtCO2e até 2030.

Em 2021, as emissões brasileiras alcançaram 2,4 GtCO2e – o maior volume desde 2005 – e o país está hoje na quinta posição entre os que mais lançam gases de efeito estufa na atmosfera.

O retorno à NDC original é temporário…

O Ministério do Meio Ambiente (MMA) está trabalhando em uma nova versão do Plano Clima, que trará uma série de ações para descarbonizar os diversos setores econômicos do país.

A partir dessas ações, a intenção é modelar quanto CO2 é possível cortar por setor, definir uma meta global para, então, propor uma nova NDC. Todo esse processo passará por consulta pública, segundo fontes do MMA.

…e chega às vésperas da COP28

Este ano, a Conferência Climática da ONU fará a primeira avaliação sobre o progresso global em suas políticas climáticas para limitar o aquecimento do planeta a 1,5°C até 2100.

A COP marcada para o final de novembro, nos Emirados Árabes Unidos, também tem na agenda a proposta de triplicar a capacidade global de eletricidade renovável e destravar o financiamento para países de renda média e baixa se adaptarem ao clima mais quente e mudarem suas matrizes energéticas.

O governo brasileiro quer chegar ao encontro de líderes marcando sua diferença em relação à gestão passada e recuperar o protagonismo nas discussões sobre meio ambiente e clima.

Há muito trabalho pela frente: do controle do desmatamento (responsável pela maior parte das emissões nacionais) à aprovação de mercado regulado de carbono; passando pelo desenho de políticas para incentivar a indústria verde no Brasil e a delicada decisão sobre explorar ou não petróleo na Amazônia.

Cobrimos por aqui:

Por falar em indústria verde

O hub de hidrogênio do Pecém, no Ceará, recebeu ontem a licença prévia emitida pelo órgão ambiental local.

É mais uma etapa do processo de licenciamento do projeto, que visa transformar o porto cearense em um centro de produção e distribuição de hidrogênio e amônia verde – tanto para as indústrias instaladas na região, quanto para o mercado europeu.

Segundo Hugo Figueirêdo, presidente do Complexo do Pecém, com a licença prévia será possível agilizar o processo para as empresas que estão se instalando no porto, que já soma 33 memorandos de entendimento (MoU) com empresas interessadas em produzir hidrogênio.

Na quarta, a Cactus Energia assinou um pré-contrato para avançar em um projeto de US$ 2 bilhões para instalação de uma unidade fabril que abrigará 1,12 GW de eletrólise para o H2V.

Além da Cactus Energia, FortescueAES Brasil e Casa dos Ventos também já avançaram para a fase de pré-contratos no hub cearense.

Aço verde

Um segmento interessado no novo energético para se descarbonizar é a siderurgia. Nesta quinta, a ArcelorMittal Tubarão anunciou uma parceria com a EDP para avaliar a viabilidade técnica e econômica de uma planta-piloto para a produção e uso de hidrogênio verde no processo de fabricação do aço.

CCUS em crise

Outra promessa para descarbonizar a indústria intensiva, a captura, armazenamento e uso de carbono (CCUS) está esbarrando na falta de financiamento.

Análise da Rystad Energy mostra que restrições econômicas e financeiras são a principal razão para os adiamentos de 49% dos empreendimentos pelo mundo. Atualmente, são 385 projetos em desenvolvimento, que devem entrar em operação até 2030.

Ainda assim, há quem siga otimista com a tecnologia.

Durante discurso na Conferência de Energia entre a Noruega e a União Europeia, na terça (24/10), o ministro norueguês de Petróleo e Energia, Terje Aaslanddefendeu investimentos em projetos de captura de carbono e de hidrogênio azul, feito a partir da reforma de gás natural com CCUS.

O país pressiona a União Europeia para flexibilização em relação às rotas de produção de hidrogênio, para maior aceitação do hidrogênio azul como forma de descarbonização.

Por aqui, Petrobras e Equinor veem oportunidades na captura de carbono a partir de biocombustíveis, o BECCS.

“Acho que o potencial BECCS no Brasil é único. A possibilidade de utilizar os BECCS como um potencial para ter emissões negativas…o Brasil está numa posição única na esfera dos biocombustíveis”, avalia Claudia Brun, vice-presidente da Equinor no Brasil.

Curtas

Calor e consumo de energia

Temperaturas mais elevadas impulsionaram o consumo de energia elétrica nas duas primeiras semanas de outubro em boa parte do país, seguindo as tendências observadas em agosto e setembro deste ano.

Dados preliminares da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), mostram que, no início do mês, o Brasil utilizou 67.627 MW médios, volume 4,2% maior na comparação com o mesmo período do ano passado.

Biodiesel com saldo positivo

PIB da soja e do biodiesel deve crescer mais de 20% este ano frente a 2022, projeta a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove). Segundo a associação, o resultado positivo do PIB da cadeia produtiva no segundo trimestre refletiu o desempenho do PIB da agroindústria, em especial, do biodiesel e do esmagamento e refino.

O PIB da cadeia produtiva para 2023 é estimado em R$ 637 bilhões. As exportações registraram recorde de US$ 26,8 bilhões, impulsionadas pelos maiores volumes embarcados, sobretudo do grão e do farelo de soja.

Cooperação para descarbonizar comércio global

As emissões associadas à produção e distribuição global de bens e serviços contribuem para cerca de um quarto de todas as emissões de CO2 e reduzi-las requer aumentar a cooperação internacional, defende estudo das Nações Unidas.

A agência da ONU para Comércio e Desenvolvimento observa que medidas individuais para o clima, como políticas industriais, fixação de preços do carbono e ajustes de fronteira estão afetando cada vez mais o comércio e investimento, com potenciais impactos para países de renda média e baixa.

Água preocupa

Cerca de 88% dos consumidores brasileiros se preocupam com o acesso à água limpa e segura. Na América Latina, sobe para 92% o percentual de pessoas que estão mais preocupadas com o acesso à água do que com outros problemas relacionados ao clima, como poluição e mudança climática, mostra pesquisa da Ecolab.

O levantamento entrevistou 25 mil consumidores em todo mundo. Para a maioria dos entrevistados, a indústria não tem um plano claro para lidar com a escassez da água, apesar da responsabilidade e importância percebidas. Preocupação mais evidente na China (82%) e América Latina (78%).