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Governo conclui carimbo verde para investimentos: o que vem agora?

Implementação de Taxonomia Sustentável Brasileira será voluntária e gradual, para garantir adaptação de setores envolvidos

Governo conclui carimbo verde para investimentos: o que vem agora? (Foto: Diogo Zacarias/MF)
Cristina Reis, subsecretária de Desenvolvimento Econômico Sustentável do MF (Foto: Diogo Zacarias/MF)

NESTA EDIÇÃO. Publicação de cadernos da TSB está prevista para este mês, marcando o início da fase de testes do instrumento de classificação.

Objetivo é estabelecer referências para investimentos que adotam selos de sustentabilidade.

Será voluntária. Mas há expectativa de um decreto para inserir a taxonomia como um padrão no setor público.


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Aprovada no final de agosto e em fase de revisão para incorporar as mudanças de última hora, a Taxonomia Sustentável Brasileira (TSB) deve ser publicada ainda em setembro pelo Ministério da Fazenda (MF), com diretrizes para classificar atividades econômicas de acordo com seus impactos socioambientais e climáticos.
 
São oito cadernos: agricultura, pecuária, proteção florestal, pesca e aquicultura; indústria extrativaindústria de transformaçãoeletricidade e gás; água, esgoto, resíduos e descontaminação; construçãotransporte, armazenagem e correio; e serviços sociais.
 
Eles passaram por quatro meses de consulta pública que resultaram em mais de cinco mil contribuições.
 
Essa nova classificação é uma parte importante do Plano de Transformação Ecológica do ministro Fernando Haddad (PT), já que o objetivo é nortear investimentos com carimbo verde. Mas as mudanças devem ocorrer aos poucos.
 
Ao contrário do previsto no plano de ação, a TSB não será obrigatória. O governo optou por uma abordagem mais flexível, tomando como lição a experiência europeia, onde as empresas demonstram dificuldades — e custos — na adaptação.
 
“Essa foi uma estratégia importante, porque se ela fosse obrigatória, assim como a da União Europeia, que enfrenta muitos desafios e é muito inflexível, os problemas do processo crescem demais e o próprio instrumento fica desacreditado”, explica a subsecretária de Desenvolvimento Econômico Sustentável do MF, Cristina Reis.
 
Em entrevista à agência eixos, a subsecretária esclarece que primeiro as empresas irão passar por um período de testagem para identificar se o mecanismo é utilizável e os desafios de implementação.
 
“Fizemos voluntário porque há demanda e precisamos que os agentes conheçam os usuários para perceberem a sua importância e o seu uso”, completa.
 
A expectativa do ministério é que setores que precisam de um referencial adotem a TSB na sequência de sua publicação.
 
Já o mercado de capitais, financeiro, sistema nacional de fomento, e instituições financeiras de desenvolvimento, como o BNDES, devem seguir o calendário de monitoramento, relato e verificação (MRV) — em prazos a serem definidos.



Paralelamente, o governo deve preparar um decreto para estabelecer a taxonomia como referência para as políticas públicas, oficializando a TSB como um padrão no setor público.
 
“A ideia do decreto, da coerência com as políticas públicas, vai sugerindo e fortalecendo esse caminho junto ao setor não governamental. E diminui essa pressão também porque a taxonomia não veio para resolver tudo agora”, diz a subsecretária.
 
Um exemplo são os leilões do Eco Invest, que oferecem proteção cambial contra a volatilidade do real para investidores estrangeiros. Usando taxonomia importada, o primeiro leilão (2024) mobilizou uma demanda de R$ 6,8 bilhões, e o segundo (agosto de 2025), R$ 17,3 bilhões.

A música de Dona Ivone Lara escolhida para a introdução do documento indica o ritmo da implementação da TSB, que terá primeiro o cuidado de testar a usabilidade do mecanismo.
 
O cronograma do MRV prevê uma fase de avaliação que começa após a publicação dos cadernos. É para visualizar como as empresas conseguem utilizar a taxonomia. 
 
Neste momento, o governo também trabalha no desenvolvimento de um portal que vai reunir os dados fornecidos pelas empresas na fase seguinte: a pilotagem.  
 
Na pilotagem, as companhias começam a se adaptar a partir do relato do seu portfólio de investimentos. 
 
A própria fase piloto é dividida em etapas: começa pelas empresas de capital aberto, depois escala para instituições financeiras S1 e S2 e, então, gestoras de fundos.
 
Isso dará tempo, também, para que o sistema regulatório nacional e órgãos como Banco Central e CVM possam adaptar seus normativos.
 
“É uma mudança de atuação que tem a ver com processos produtivos e escolhas financeiras grandes. Impor isso, provavelmente, iria gerar muita incoerência, muita inconsistência e até poderia não dar certo. Então, dar essa flexibilidade entendemos que fortalece, no sentido de ela se consolidar daqui uns anos como instrumento referencial”, conclui Reis.


Recuperação eólica. Após queda nas instalações em 2024 e previsão de baixa em 2025 e 2026, a indústria eólica espera recuperação em 2027, com contratos novos e a chegada de empresas chinesas na cadeia produtiva. A análise é da presidente da Abeeólica, Elbia Gannoum, em entrevista à agência eixos.
 
E30. A ANP publicou a resolução que eleva a octanagem da gasolina C de 93 para 94, atendendo determinação do CNPE para o aumento do percentual obrigatório da mistura de etanol anidro. A mistura de etanol à gasolina subiu de 27% para 30% a partir de 1° de agosto.
 
Etanol em alta. Os preços médios do etanol hidratado subiram em 13 estados, caíram em 9 e ficaram estáveis em 4 e no Distrito Federal, na semana de 31 de agosto a 6 de setembro. Dados da ANP mostram que o preço médio do etanol subiu 0,96% na comparação com a semana anterior, de R$ 4,15 para R$ 4,19 o litro.
 
Carbono Oculto. A Operação Carbono Oculto ajudou a revelar o nível de sofistifcação das fraudes no mercado de combustíveis e ressaltou a importância dos monitoramentos da ANP, ressaltou o novo diretor-geral da autarquia, Artur Watt, em entrevista ao estúdio eixos na Rio Pipeline & Logistics na terça-feira (9/9).
 
Tarifa social.  A Medida Provisória 1300 de 2025, que cria a nova tarifa social para energia elétrica, entrou e saiu da pauta da Câmara dos Deputados desta terça (9), após reunião de líderes com o presidente Hugo Motta (Republicanos-PB). 

  • Motta esvaziou a Câmara esta semana, determinando votações remotas e isentando os parlamentares da presença obrigatória, durante a conclusão do julgamento de Jair Bolsonaro no STF. 

Elétricos no Ceará. A General Motors iniciou a produção do seu primeiro SUV 100% elétrico no Brasil, o Chevrolet Spark EUV, no Polo Automotivo do Ceará. O polo prevê investimentos de R$ 400 milhões em sua primeira fase e capacidade de produção de até 80 mil veículos por ano. Além de elétricos, a planta também será voltada aos híbridos.

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