diálogos da transição

Ganhos econômicos da IA justificam crise climática? FMI diz que sim

Expansão da inteligência artificial deve alavancar PIB global a um custo de 1,7 Gt de CO2 até 2030

Diretora-gerente do FMI, Kristalina Georgieva | Foto: IMF Communications Department
Diretora-gerente do FMI, Kristalina Georgieva | Foto: IMF Communications Department

NESTA EDIÇÃO. Relatório do FMI aponta incremento de 1,7 bilhão de toneladas de carbono em cinco anos, com a expansão da inteligência artificial.

Mas minimiza impactos: “ganhos econômicos serão maiores”.

E ainda: governo brasileiro prepara regime especial para atrair gigantes de data centers.


EDIÇÃO APRESENTADA POR

Sob as atuais políticas energéticas, o aumento da demanda por eletricidade impulsionado pela inteligência artificial pode adicionar 1,7 bilhão de toneladas (Gt) às emissões globais de gases de efeito estufa entre 2025 e 2030, aponta o Fundo Monetário Internacional (FMI) em seu mais recente relatório sobre a economia global.
 
O volume é semelhante às emissões de GEE relacionadas à energia da Itália em um período de cinco anos, o que é preocupante. No entanto, o documento examina que o custo social dessas emissões extras é “pequeno em comparação com os ganhos econômicos esperados com a IA”.
 
“Apesar dos desafios relacionados aos preços mais altos da eletricidade e às emissões de GEE, os ganhos da IA ​​para o PIB global provavelmente superarão os custos das emissões adicionais”, diz o relatório.
 
As projeções usam como base o carbono ao preço médio de US$ 39 por tonelada. Isso resultaria em um custo social adicional de cerca de US$ 50,7 bilhões a US$ 66,3 bilhões, o que corresponde a 1,3% a 1,7% do aumento impulsionado pela IA no PIB global entre 2025 e 2030.
 
Mas esses acréscimos no PIB podem não ser distribuídos uniformemente entre os países e entre os diferentes grupos da sociedade, potencialmente exacerbando desigualdades já existentes, alerta.
 
“Os formuladores de políticas e as empresas devem trabalhar juntos para garantir que a IA atinja seu potencial máximo, minimizando os custos sociais”, conclui.
 
Esta semana estão ocorrendo as reuniões de primavera do FMI e do Banco Mundial, pautadas pelas incertezas geopolíticas intensificadas pelas tarifas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em sua guerra comercial.
 
Nesta quinta (24/4), a diretora-gerente do FMI, Kristalina Georgieva, disse que a organização permanecerá “focada” na prevenção de crises de balanço de pagamentos e incorporará as preocupações do governo dos Estados Unidos em suas políticas, mas continuará apoiando os países afetados pelas mudanças climáticas. (CNN)



Nos dois cenários projetados para a expansão da participação da inteligência artificial na economia, o FMI aponta para aumento de emissões relacionadas ao consumo de energia por grandes centros de dados.
 
Na análise que considera as políticas energéticas atuais, o aumento de emissões em 2030 é de 5,5%, 3,7% e 1,2% nos EUA, Europa e China, respectivamente, com um crescimento médio global de 1,2%.
 
Em termos cumulativos, isso se traduz em um aumento global nas emissões de GEE de 1,7 Gt entre 2025 e 2030.
 
Já em um futuro com políticas energéticas alternativas, uma modesta descarbonização do setor elétrico limitaria o aumento total acumulado das emissões globais de GEE a 1,3 Gt até 2030.
 
O clima perde, a economia ganha. Segundo as estimativas, no cenário mais emissor, as transformações trazidas pela IA ​​elevam a taxa média de crescimento anual do PIB global em 0,5 ponto percentual entre 2025 e 2030, em linha com estimativas anteriores do FMI, que variam entre 0,1 p.p e 0,8 p.p.
 
No cenário alternativo, esses ganhos são ligeiramente reduzidos devido às políticas de tarifas feed-in (mecanismo para incentivar renováveis). 
 
“Os custos fiscais totais dessas tarifas variam de 0,3% a 0,6% do PIB em todos os países e são financiados por meio do aumento de impostos fixos, o que reduz ligeiramente o consumo das famílias. No entanto, os benefícios do crescimento da expansão da IA ​​superam em muito esses custos, resultando em um crescimento médio anual do PIB semelhante em ambos os cenários”, analisa o FMI.

O governo federal está fechando os detalhes para enviar ao Congresso Nacional uma proposta de criação de um novo marco legal para data centers, visando antecipar investimentos em infraestrutura e reduzir a dependência brasileira por serviços digitais. 
 
Com uma proposta de desoneração de capex, o governo estima que será possível atrair até R$ 2 trilhões em dez anos, além de fomentar a indústria nacional – incluindo o consumo de energia renovável, que atravessa por uma crise por falta de demanda e desequilíbrios no setor.  
 
O secretário do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Uallace Moreira, antecipou à agência eixos que a proposta está bem avançada e o presidente Lula definirá nos próximos dias se o marco legal será enviado ao Congresso por medida provisória ou projeto de lei. 
 
O diagnóstico é que a indústria nacional vai se beneficiar da demanda por insumos, como os robustos sistemas de refrigeração e o alto consumo por energia necessária para rodar os supercomputadores.


UTE Brasília. A Termo Norte sugeriu ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) a data de 17 de junho para a audiência pública sobre o licenciamento ambiental da Usina Termelétrica Brasília. A audiência é um passo para a usina conseguir o licenciamento ambiental, mas o empreendimento ainda depende de outros debates para sair do papel.
 
Belo Monte. A Norte Energia, controladora de Belo Monte, avalia a possibilidade de construir barragens adicionais na bacia do Rio Xingu. O objetivo é aumentar a capacidade de armazenamento de água, principalmente para os períodos secos.
 
Geração própria. A demanda por fontes renováveis e a busca dos consumidores por menor dependência das distribuidoras devem levar a geração distribuída a um crescimento de 25% no Brasil em 2025, projeta Associação Brasileira de Geração Distribuída (ABGD). Em março, a micro e minigeração distribuída de energia atingiu 5 milhões de unidades consumidoras.
 
Acesso a energia. O senador Cleitinho (Republicanos/MG) defendeu na quarta (23) o corte de recursos do fundo eleitoral e partidário para direcionamento a políticas sociais, como o subsídio da conta de luz para famílias de baixa renda. Cleitinho afirmou que a proposta do governo de beneficiar cerca de 30 milhões de brasileiros com a isenção na conta de energia elétrica tem seu apoio, desde que o custo não recaia sobre o restante da população.
 
Furto de cabos. A Polícia Civil do Rio de Janeiro faz, nesta quinta-feira (24/4), operação para desarticular esquema de furto de cabos. De acordo com a polícia, o grupo criminoso é especializado em furtar cabos de concessionárias de serviços públicos, como empresas de telecomunicações e de energia elétrica.
 
Biobunker. A Petrobras, por meio da Petrobras Singapore (PSPL), testou, na terça-feira (22/04), o abastecimento do navio graneleiro Luise Oldendorff, afretado pela Vale, com 24% de biodiesel adicionado ao bunker.
 
Inovação energética. Startups com soluções disruptivas para o setor de energia podem participar do Global Impact Challenge (GIC), competição internacional que chega ao Brasil com a SingularityU Brazil (parceira da principal universidade do Vale do Silício no Brasil). O objetivo é identificar e impulsionar soluções audaciosas para grandes desafios globais. O foco central da edição será o setor de energia. As inscrições podem ser feitas até junho.

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