NESTA EDIÇÃO. Consórcio Chevron/CNPC desbancou a concorrência da Petrobras/ExxonMobil e saiu como grande protagonista na disputa pelos blocos na Foz do Amazonas.
Brasil e ONU lançam Balanço Ético Global defendendo transição justa e planejada para o fim de combustíveis fósseis e do desmatamento.
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Após mais de uma década, petroleiras internacionais voltaram a comprar blocos na Bacia Foz do Amazonas, no 5º Ciclo da Oferta Permanente de Concessões da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) nesta terça-feira (17/6).
O consórcio Chevron/CNPC desbancou a concorrência da Petrobras/ExxonMobil e saiu como grande protagonista na disputa pelo petróleo da costa do Amapá.
Ao todo, foram negociados 19 blocos na bacia. As petroleiras pagaram R$ 845 milhões em bônus de assinatura pelas concessões.
O leilão desta terça ocorreu num contexto em que o licenciamento ambiental da principal nova fronteira exploratória do país avança na Margem Equatorial.
Enquanto o petróleo era disputado em um hotel na zona oeste do Rio de Janeiro, do lado de fora, cerca de 250 pessoas protestavam contra a concessão.
Líderes de povos indígenas do estado do Mato Grosso, membros de sindicatos da indústria petroleira e representantes da sociedade civil alertam para os riscos ambientais e climáticos envolvidos.
Para Juliano Bueno, diretor técnico do Instituto Internacional Arayara, as aquisições mostram que o governo escolheu avançar sobre biomas ultra sensíveis e territórios indígenas, em um sinal de que a cúpula climática que o Brasil sediará em novembro deste ano será movida por interesses fósseis.
“Infelizmente, teremos uma COP30 do petróleo no Brasil. O governo Lula acha que saiu ganhando, mas o clima, os povos dos mares e da floresta saem parcialmente derrotados”, criticou.
COP30, balanço ético e combustíveis fósseis
Coincidentemente ou não, o ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima comandado por Marina Silva (Rede) e a presidência da COP30 também lançaram nesta terça o Balanço Ético Global (BEG) – chamado mundial à ação climática rumo à conferência do clima marcada para novembro em Belém (PA).
A iniciativa anunciada pelo presidente Lula (PT) e o diretor geral da ONU, António Guterres, é inspirada no primeiro Balanço Global do Acordo de Paris, que avaliou, em 2023, os avanços e desafios para a implementação do tratado.
Agora, a intenção é refletir sobre as implicações éticas relacionadas às negociações climáticas.
E a exploração de petróleo e gás (carvão também) tem tudo a ver com isso.
O documento (.pdf) divulgado hoje traz entre os seus conceitos norteadores o acordo assumido na COP28, em 2023, para transição justa e planejada para o fim de combustíveis fósseis e do desmatamento.
E reforça que o Brasil quer que a sua COP seja reconhecida como a “COP da implementação”.
“O Balanço Ético Global nada mais é do que trazer a dimensão da ética para dar suporte às decisões políticas e aos encaminhamentos técnicos, porque só ela será capaz de nos atravessar para conferir o sentido de urgência dos problemas que estamos enfrentando”, explicou a ministra a jornalistas.
Para Marina, as respostas técnicas para enfrentar a mudança do clima e os problemas sociais já estão dadas. É preciso agora um compromisso ético.
“Precisamos do necessário compromisso ético para colocar nossa técnica e acelerar nossas decisões políticas com o objetivo de que façamos aquilo que, inclusive, já concordamos em fazer”, completou.
Segundo o MMA, o coração da iniciativa é a percepção de que nenhuma solução técnica pode ser verdadeiramente eficaz sem mudança de comportamentos e trajetórias coletivas.
O que significa dizer também que a decisão de interromper investimentos em novas fronteiras de óleo e gás dificilmente terá grandes efeitos na agenda climática se não for global.
Cobrimos por aqui
Curtas
Lula no G7. O presidente Lula (PT) deve reforçar a preocupação com a escalada de conflitos no Oriente Médio, que têm pressões sobre os preços do petróleo no mercado internacional, e alertar sobre a urgência da agenda energética de transição, uma pauta importante para o Brasil e tema central da Cúpula do G7, que chega ao seu último dia no Canadá.
Mudança no MDIC. Rodrigo Rollemberg (PSB/DF), até então secretário de Economia Verde do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços toma posse como deputado federal nesta terça-feira (17/6). A saída do MDIC já era esperada.
Certificação de biocombustíveis. A ANP publicou, nesta terça (17/6), a nova resolução que regulamentará a certificação da produção ou importação eficiente de biocombustíveis e o credenciamento de firmas inspetoras no Renovabio. Aprovado pela diretoria colegiada da agência na última quinta (12/6), o documento é resultado de uma discussão iniciada em 2023.
Contra petróleo russo. A Comissão Europeia apresentou uma proposta para interrupção gradual e eficaz da importação de gás natural e petróleo russo no bloco até o final de 2027. Segundo um comunicado oficial publicado nesta terça-feira (17/6), a medida é útil aos europeus para se tornarem mais independentes em termos energéticos.
Reciclagem de baterias. O senador Jaques Wagner (PT/BA) apresentou um projeto de lei que cria a Política Nacional de Circularidade das Baterias e estabelece regras para reaproveitamento, rastreabilidade e reciclagem dos acumuladores usados em veículos híbridos e elétricos (PL 2.132/2025).
Inverno favorece solar e eólica. As gerações solar e eólica devem ser favorecidas durante o inverno de 2025, devido ao menor volume de chuvas previsto para o Nordeste do que o usual para o período, avalia o sócio-diretor da consultoria de meteorologia Nottus, Alexandre Nascimento.
Transporte de carbono. A Petronas, estatal de óleo e gás da Malásia, anunciou nesta terça (17/6) a criação da Jules Nautica, uma nova joint venture dedicada ao desenvolvimento e operação de navios transportadores de dióxido de carbono liquefeito (LCO2). Além de fornecer soluções logísticas, a nova JV deve apoiar a criação de hubs de CCS.