diálogos da transição

Foz do Amazonas arrematada e Brasil chamando à ação climática

Petroleiras internacionais voltaram a comprar blocos na Bacia Foz do Amazonas, no 5º Ciclo da Oferta Permanente de Concessões da ANP

Lideranças indígenas protestam em frente ao hotel na zona oeste do Rio onde acontece o leilão da 5ª Oferta Permanente de Concessão da ANP, em 17 de junho de 2025 (Foto Flavio Brasil/eixos)
Lideranças indígenas protestam em frente ao hotel na zona oeste do Rio onde acontece o leilão da 5ª Oferta Permanente de Concessão da ANP (Foto Flavio Brasil/eixos)

NESTA EDIÇÃO. Consórcio Chevron/CNPC desbancou a concorrência da Petrobras/ExxonMobil e saiu como grande protagonista na disputa pelos blocos na Foz do Amazonas.

Brasil e ONU lançam Balanço Ético Global defendendo transição justa e planejada para o fim de combustíveis fósseis e do desmatamento.


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Após mais de uma década, petroleiras internacionais voltaram a comprar blocos na Bacia Foz do Amazonas, no 5º Ciclo da Oferta Permanente de Concessões da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) nesta terça-feira (17/6).
 
O consórcio Chevron/CNPC desbancou a concorrência da Petrobras/ExxonMobil e saiu como grande protagonista na disputa pelo petróleo da costa do Amapá.
 
Ao todo, foram negociados 19 blocos na bacia. As petroleiras pagaram R$ 845 milhões em bônus de assinatura pelas concessões.
 
O leilão desta terça ocorreu num contexto em que o licenciamento ambiental da principal nova fronteira exploratória do país avança na Margem Equatorial.
 
Enquanto o petróleo era disputado em um hotel na zona oeste do Rio de Janeiro, do lado de fora, cerca de 250 pessoas protestavam contra a concessão.
 
Líderes de povos indígenas do estado do Mato Grosso, membros de sindicatos da indústria petroleira e representantes da sociedade civil alertam para os riscos ambientais e climáticos envolvidos.
 
Para Juliano Bueno, diretor técnico do Instituto Internacional Arayara, as aquisições mostram que o governo escolheu avançar sobre biomas ultra sensíveis e territórios indígenas, em um sinal de que a cúpula climática que o Brasil sediará em novembro deste ano será movida por interesses fósseis.
 
“Infelizmente, teremos uma COP30 do petróleo no Brasil. O governo Lula acha que saiu ganhando, mas o clima, os povos dos mares e da floresta saem parcialmente derrotados”, criticou.



Coincidentemente ou não, o ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima comandado por Marina Silva (Rede) e a presidência da COP30 também lançaram nesta terça o Balanço Ético Global (BEG) – chamado mundial à ação climática rumo à conferência do clima marcada para novembro em Belém (PA).
 
A iniciativa anunciada pelo presidente Lula (PT) e o diretor geral da ONU, António Guterres, é inspirada no primeiro Balanço Global do Acordo de Paris, que avaliou, em 2023, os avanços e desafios para a implementação do tratado.
 
Agora, a intenção é refletir sobre as implicações éticas relacionadas às negociações climáticas. 
 
E a exploração de petróleo e gás (carvão também) tem tudo a ver com isso.
 
documento (.pdf) divulgado hoje traz entre os seus conceitos norteadores o acordo assumido na COP28, em 2023, para transição justa e planejada para o fim de combustíveis fósseis e do desmatamento.
 
E reforça que o Brasil quer que a sua COP seja reconhecida como a “COP da implementação”. 
 
“O Balanço Ético Global nada mais é do que trazer a dimensão da ética para dar suporte às decisões políticas e aos encaminhamentos técnicos, porque só ela será capaz de nos atravessar para conferir o sentido de urgência dos problemas que estamos enfrentando”, explicou a ministra a jornalistas. 
 
Para Marina, as respostas técnicas para enfrentar a mudança do clima e os problemas sociais já estão dadas. É preciso agora um compromisso ético.
 
“Precisamos do necessário compromisso ético para colocar nossa técnica e acelerar nossas decisões políticas com o objetivo de que façamos aquilo que, inclusive, já concordamos em fazer”, completou.
 
Segundo o MMA, o coração da iniciativa é a percepção de que nenhuma solução técnica pode ser verdadeiramente eficaz sem mudança de comportamentos e trajetórias coletivas
 
O que significa dizer também que a decisão de interromper investimentos em novas fronteiras de óleo e gás dificilmente terá grandes efeitos na agenda climática se não for global.


Lula no G7. O presidente Lula (PT) deve reforçar a preocupação com a escalada de conflitos no Oriente Médio, que têm pressões sobre os preços do petróleo no mercado internacional, e alertar sobre a urgência da agenda energética de transição, uma pauta importante para o Brasil e tema central da Cúpula do G7, que chega ao seu último dia no Canadá.
 
Mudança no MDIC. Rodrigo Rollemberg (PSB/DF), até então secretário de Economia Verde do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços toma posse como deputado federal nesta terça-feira (17/6). A saída do MDIC já era esperada.
 
Certificação de biocombustíveis. A ANP publicou, nesta terça (17/6), a nova resolução que regulamentará a certificação da produção ou importação eficiente de biocombustíveis e o credenciamento de firmas inspetoras no Renovabio. Aprovado pela diretoria colegiada da agência na última quinta (12/6), o documento é resultado de uma discussão iniciada em 2023.
 
Contra petróleo russo. A Comissão Europeia apresentou uma proposta para interrupção gradual e eficaz da importação de gás natural e petróleo russo no bloco até o final de 2027. Segundo um comunicado oficial publicado nesta terça-feira (17/6), a medida é útil aos europeus para se tornarem mais independentes em termos energéticos.
 
Reciclagem de baterias. O senador Jaques Wagner (PT/BA) apresentou um projeto de lei que cria a Política Nacional de Circularidade das Baterias e estabelece regras para reaproveitamento, rastreabilidade e reciclagem dos acumuladores usados em veículos híbridos e elétricos (PL 2.132/2025). 
 
Inverno favorece solar e eólica. As gerações solar e eólica devem ser favorecidas durante o inverno de 2025, devido ao menor volume de chuvas previsto para o Nordeste do que o usual para o período, avalia o sócio-diretor da consultoria de meteorologia Nottus, Alexandre Nascimento.
 
Transporte de carbono. A Petronas, estatal de óleo e gás da Malásia, anunciou nesta terça (17/6) a criação da Jules Nautica, uma nova joint venture dedicada ao desenvolvimento e operação de navios transportadores de dióxido de carbono liquefeito (LCO2). Além de fornecer soluções logísticas, a nova JV deve apoiar a criação de hubs de CCS.

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