NESTA EDIÇÃO. Relatório do NewClimate Institute mostra que metas climáticas das big techs estão ameaçadas pela alta no consumo energético.
Expansão acelerada de data centers e produção de hardware intensificam emissões, enquanto estratégias atuais falham na mitigação.
EDIÇÃO APRESENTADA POR
Amazon, Apple, Google, Meta e Microsoft se comprometeram com a neutralidade de carbono até 2030 ou 2040, mas sua fome energética coloca em questão a capacidade de alcançar reduções significativas nas emissões, analisam o NewClimate Institute e o Carbon Market Watch.
Em um capítulo dedicado às big techs (.pdf), relatório sobre responsabilidade climática corporativa observa que a rápida expansão da inteligência artificial e a crescente demanda por energia dificultam a descarbonização nesta década.
Os dados recentes mostram o tamanho do desafio: todas as cinco principais empresas de tecnologia tiveram rápido avanço nas emissões locais entre 2019 e 2023.
“Constatamos que o setor de tecnologia está enfrentando uma crise na estratégia climática”, aponta o estudo.
“Como a maior parte da pegada de emissões dos setores de tecnologia deriva do uso de eletricidade em data centers e do uso de energia para a produção de hardware a montante, identificamos a eletricidade renovável para data centers e a eletricidade renovável na cadeia de suprimentos como transições fundamentais para o setor”, defende.
Outra oportunidade é aumentar a vida útil dos dispositivos — ou seja, atacar a obsolescência programada —, assim como usar mais componentes reciclados para a produção de hardware.
Apetite voraz
Muito se fala sobre a energia necessária para abastecer centros de dados e alimentar inteligências artificiais, conforme a digitalização ganha cada vez mais espaço na economia global.
Não é pouca coisa: a demanda para data centers aumentou a uma taxa média de 12% ao ano entre 2017 e 2024, e a projeção é de que dobre entre 2024 e 2030.
Mas há uma outra face dessa indústria que também é intensiva em eletricidade e precisa de estratégias claras de transição energética e eficiência.
A estimativa do do NewClimate Institute é que pelo menos um terço da pegada de carbono de empresas do setor de tecnologia advém do uso de energia na cadeia de suprimentos para a fabricação de hardware.
“Uma grande parte das emissões de escopo 3 das empresas de tecnologia provém de materiais e serviços adquiridos, como componentes para dispositivos eletrônicos, e bens de capital, como o hardware de servidores em data centers”, detalha o relatório.
“À medida que a capacidade dos data centers se expande rapidamente para acomodar aplicações de IA, a produção de hardware de servidores também aumenta”, alerta.
“Não computa”
O relatório reconhece que Apple, Google e Microsoft reforçaram seus compromissos nos últimos anos, com a definição de metas específicas de redução de emissões, mas critica o uso indiscriminado das compensações.
Um dos problemas estaria nos créditos de energia renovável (RECs), usados por grandes corporações para cumprir seus objetivos de redução de emissões de escopo 2.
A questão é que elas permanecem usando combustíveis fósseis, o que significa que as emissões reais baseadas na localização continuam crescendo.
“Essa dependência de certificados de energia renovável é significativa porque pode não gerar investimentos adicionais em energias renováveis, comprometendo um dos princípios mais importantes da ação climática: a adicionalidade”, dizem as organizações ambientais.
“Para eliminar esse problema, o investimento em certificados de energia renovável deve ser feito de forma que corresponda ao consumo real em tempo real. Google e Microsoft deram alguns passos nessa direção com a implantação de metodologias de correspondência horária”, completa.
Cobrimos por aqui
Curtas
50% não-fóssil. O governo indiano anunciou nesta segunda (14/7) que o país chegou ao marco de 50% de capacidade instalada de eletricidade a partir de fontes não fósseis — cinco anos antes da meta estabelecida no Acordo de Paris. Dos 484,82 GW instalados na Índia, 48,27% são renováveis e mais 1,81% é nuclear.
Reciprocidade. O vice-presidente e ministro, Geraldo Alckmin, afirmou neste domingo (13/7) que a regulamentação da chamada Lei da Reciprocidade deve ser publicada até terça-feira (15). A legislação, aprovada pelo Congresso Nacional em abril, autoriza o Brasil a adotar medidas tarifárias e não tarifárias contra países que impuserem barreiras às exportações brasileiras.
MP dos vetos. O governo federal publicou na sexta (11/7) a medida provisória que busca conter os impactos sobre as tarifas de energia da derrubada de vetos presidenciais no marco legal das eólicas offshore pelo Congresso Nacional. A MP 1304/2025 vai limitar o impacto nas tarifas ao estabelecer um teto para a CDE.
Seleção de áreas para eólica offshore. O MME abriu, nesta segunda (14/7), uma consulta pública sobre a metodologia para seleção de áreas destinadas à geração de energia eólica offshore no Brasil.
Diretoria da Aneel. O secretário de Leilões da Aneel, Ivo Sechi Nazareno, foi convocado nesta segunda-feira (14/7), para atuar como diretor substituto por 180 dias ou até a data de nomeação de novo titular da diretoria. Nazareno entra no lugar de Ludimila Lima da Silva, que também é servidora da agência reguladora e atuou como diretora substituta.
Biocombustíveis e alimentos. O BNDES aprovou financiamento de R$ 290,2 milhões para a produtora de biocombustíveis Be8 instalar a primeira planta do Brasil voltada à produção de glúten vital. A nova unidade será implantada em Passo Fundo (RS), associada a uma planta de etanol de cereais.
Biometano na Unilever. A fábrica do Grupo Unilever em Vinhedo (SP) passou a operar com biometano este mês, substituindo o uso de gás natural. A transição irá zerar as emissões de mais de 3 mil toneladas de CO2 por ano da caldeira industrial que supre a unidade. O abastecimento de cerca de 2 milhões de m3 de biometano/ano será fornecido pela Ultragaz.
Até R$ 20 mil. Estudos científicos que analisem os impactos das mudanças climáticas sobre a economia brasileira poderão concorrer ao Prêmio iCS de Economia & Clima, cujas inscrições estão abertas até 8 agosto. A primeira edição do Prêmio faz parte das iniciativas do HUB de Economia & Clima. As três publicações mais bem avaliadas receberão prêmios de R$ 20 mil, R$ 10 mil e R$ 5 mil, de acordo com a classificação.