Diálogos da Transição

Financiamento para conter o metano está em um décimo do necessário

Capital para mitigação de emissões de metano somou pouco mais de US$ 11 bilhões em 2019/2020; limitar aquecimento a 1,5°C vai requerer dez vezes mais recursos

Financiamento para redução de metano está em um décimo do necessário. Na imagem, FPSO Pioneiro de Libra com flare aberto, para queima do excesso de gás (Foto: André Ribeiro/Agência Petrobras)
FPSO Pioneiro de Libra com flare aberto, para queima do excesso de gás (Foto: André Ribeiro/Agência Petrobras)

newsletter

Diálogos da Transição

APRESENTADA POR

Editada por Nayara Machado
[email protected]

Responsável por quase metade do aquecimento global líquido até o momento, o metano — gás de efeito estufa mais potente que o CO₂ — tem recebido pouca atenção nos planos de investimento climático.

Um levantamento da Climate Policy Initiative (CPI) descobriu que o financiamento para medidas de redução de metano representou menos de 2% do total de fluxos financeiros climáticos, ou pouco mais de US$ 11 bilhões, em 2019/2020.

Segundo o grupo, para viabilizar a meta de limitar o aquecimento do planeta a 1,5°C até o fim do século, os investimentos necessários na redução do metano são estimados em US$ 110 bilhões — dez vezes mais que o atual.

Além disso, os limitados fluxos de investimento não estão sendo direcionados para as geografias ou setores de maior potencial de redução.

Quase dois terços do financiamento de mitigação de metano foi direcionado para o setor de resíduos, enquanto 82% das emissões antropogênicas de metano originaram-se de atividades nos setores de combustíveis fósseis e agricultura.

A indústria de energia fóssil, inclusive, apresenta a maior “lacuna nas finanças de metano”, alerta a CPI.

Apesar de ter o maior potencial de mitigação até 2030, o investimento rastreado para reduzir as emissões deste setor é inferior a 0,5% do financiamento total para redução de metano — bem abaixo das necessidades de investimento estimadas em mais de US$ 30 bilhões anualmente até 2050.

O relatório traz uma linha de base para medir as necessidades de investimento versus o progresso. E se concentra em soluções de redução estabelecidas em combustíveis fósseis, resíduos (resíduos sólidos e águas residuais) e agricultura. Juntos, esses setores respondem por 95% das emissões de metano produzidas pela humanidade. Veja na íntegra (.pdf)

Por que reduzir as emissões de metano? Embora o dióxido de carbono tenha um efeito mais duradouro, o metano tem 80 vezes o poder de aquecimento do CO₂ nos primeiros 20 anos após as emissões atingirem a atmosfera, o que significa que o metano está definindo o ritmo do aquecimento global de curto prazo.

O Pacto Global do Metano calcula que reduzir as emissões de metano causadas pelo homem em 30% nesta década, a partir dos níveis de 2020, evitaria pelo menos 0,2°C no aquecimento global até 2050.

Já a Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês) alerta que é necessário um corte de pelo menos 75% até 2030. E esse impulso deve acontecer nas operações de combustíveis fósseis — particularmente petróleo e gás — onde os vazamentos podem ser facilmente evitados com pouco ou nenhum custo.

As conclusões da CPI:

  • ‘Severamente subfinanciadas’: a título de comparação, outras soluções também consideradas subfinanciadas, com potencial de mitigação semelhante, como transporte de baixo carbono, receberam 15 vezes o investimento de medidas de redução de metano, enquanto soluções como solar e eólica receberam 26 vezes o investimento.

  • A maior parte do financiamento de redução de metano em 2019/2020 estava concentrada na região do Leste Asiático e do Pacífico, onde são originadas a maior parte das emissões. América Latina e Caribe e África Subsaariana, respectivamente o segundo e terceiro maiores emissores de metano, atraíram juntos apenas 6% do financiamento de redução de metano.

  • O setor privado foi responsável pela maioria dos fluxos financeiros monitorados, particularmente em tecnologias de conversão de resíduos em energia, onde a viabilidade comercial em escala está bem estabelecida.

  • No setor público, as instituições financeiras de desenvolvimento responderam por 13% de todos os fluxos de redução de metano em 2019/2020.

  • Cobrimos por aqui

    Subfinanciadas e subnotificadas

    Segundo a CPI, um dos motivos para o baixo fluxo de recursos pode estar associado à má qualidade dos relatórios de emissões. Em fevereiro, a IEA alertou que as emissões globais de metano do setor de energia são aproximadamente 70% maiores do que a quantidade relatada oficialmente pelos governos nacionais.

    De acordo com a agência, quase todos os inventários nacionais subnotificam suas emissões. Um dos problemas na medição é que cada país é livre para usar metodologias diferentes para fazer suas estimativas. Outro, é a coleta de dados baseada em estimativas e equações, não em medições reais.

    O Global Methane Tracker da IEA aponta recuperação de quase 5% das emissões de metano do setor de energia em 2021, após um declínio em 2020 induzido pela pandemia de covid-19.

    O setor — que responde por cerca de 40% do metano lançado na atmosfera pela atividade humana — foi responsável pela emissão de quase 135 milhões de toneladas do gás.

    Executivos preocupados com riscos climáticos, mas perdidos no monitoramento

    Por falar em finanças… Pesquisa da Bloomberg com mais de 100 executivos seniores de empresas e corporações de serviços financeiros em todo o mundo aponta que 85% delas começaram a avaliar o risco climático, mas a maioria ainda está nos estágios iniciais de modelagem e monitoramento efetivo desse risco.

    Entre esses 85%, 37% estão nos estágios iniciais de planejamento de como incorporar o risco climático em modelos e governança, e 43% estão no estágio intermediário de incorporar o clima na gestão de riscos e na análise de governança com base em medidas como as emissões de carbono.

    E apenas 5% dos entrevistados indicaram que estão no estágio avançado de ter dados abrangentes e análises de vários cenários com variáveis como emissões de carbono, dados de geolocalização e eventos climáticos extremos. Bloomberg

    Para a agenda

    13/7 — O Instituto Nacional de Energia Limpa (Inel) realiza, nesta quarta-feira (13), o evento Energias Limpas, Renováveis e Emissão Zero 2050, com participação prevista do ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, e do deputado Lafayette de Andrada (Republicanos/MG). O encontro tem início às 8h30.

    14/7 — O Centro de Política Energética Global sediará um painel de especialistas para discutir a última edição do Relatório do Mercado de Gás da IEA, que fornecerá uma previsão de médio prazo para 2025 e uma atualização de curto prazo sobre os recentes desenvolvimentos do mercado de gás no primeiro semestre de 2022. O evento tem início às 11h. Para participar é necessário fazer inscrição.

    [sc name=”news-transicao” ]