NESTA EDIÇÃO. Global Coal Mine Tracker calcula que 2.270 Mtpa de capacidade de mineração de carvão em desenvolvimento pode elevar emissões em cerca de 1,3 bilhão de toneladas de CO2e.
China, Índia, Austrália e Rússia representam quase 90% de todos os projetos.
EDIÇÃO APRESENTADA POR
Combustível fóssil de menor eficiência e maior pegada de carbono, o carvão promete desafiar as ambições globais de emissões líquidas zero até 2050 para limitar o aquecimento da Terra a 1,5ºC até 2100.
Em 2024, as emissões relacionadas a petróleo, gás fóssil e carvão aumentaram 0,8%, chegando a 37,4 bilhões de toneladas de CO2, segundo estimativas do Global Carbon Project. Mas para alinhar com a meta do Acordo de Paris, elas precisam cair 43% até 2030.
A expansão planejada do carvão não ajuda nessa conta.
Publicado nesta terça (29/7), o Global Coal Mine Tracker calcula que 2.270 milhões de toneladas por ano (Mtpa) de nova capacidade de mineração de carvão ainda estejam em desenvolvimento, com potencial de emitir cerca de 15,7 milhões de toneladas de metano por ano, ou cerca de 1,3 bilhão de toneladas de CO2 equivalente.
Se colocada em operação, essa capacidade representa um quarto da produção global de 2024 (8.770 Mtpa), lançando na atmosfera mais do que o Japão emite em gases de efeito estufa em um ano.
Olhando o copo meio cheio, o levantamento observa que, em 2024, as minas de carvão recém-inauguradas adicionaram um total de 105 Mtpa de capacidade — um declínio de 46% em relação a 2023 (193 Mtpa) e o menor aumento na capacidade de produção em uma década.
O que sugere que é possível conter a expansão do carvão.
O problema é que o declínio ainda não está no ritmo necessário para o alinhamento com o Acordo de Paris, dizem os analistas do Global Energy Monitor (GEM).
Três quartos das propostas de mineração são empreendimentos greenfield (1.696 Mtpa), sinalizando a disposição da indústria em iniciar a construção de novas minas que tendem a garantir uma produção de longo prazo.
Além disso, o relatório aponta que novas minas garantem mais emissões futuras do que as minas brownfield existentes, já que a vida útil é estimada em cerca de 54 anos a mais.
“O alinhamento com modelos climáticos e de redução de emissões exige não apenas uma desaceleração, mas uma paralisação completa do desenvolvimento de novos projetos de carvão”, diz o relatório.
O dilema chinês
China, Índia, Austrália e Rússia representam quase 90% (1.942 Mtpa) de todos os projetos de desenvolvimento de minas. Só a China tem 1.350 Mtpa em desenvolvimento — mais do que todos os outros países juntos.
Em 2024, a China — que também é o país que mais adiciona capacidade renovável — registrou níveis relativamente baixos tanto de projetos recém-aprovados (57 Mtpa) quanto de nova capacidade operacional entrando em operação (87 Mtpa).
Mas o gigante asiático ainda possui 1.350 Mtpa proposto em vários estágios de desenvolvimento, segundo o levantamento. São mais de 450 usinas em construção.
Essa escala ameaça tanto as metas climáticas chinesas quanto as globais: por concentrar 60% de toda a capacidade de mineração proposta no mundo, o país geraria 80% das emissões de metano vinculadas aos projetos planejados.
Nos EUA, “carvão limpo e bonito” acrescenta incertezas
Perto dos maiores mercados, a América do Norte é menos relevante no cenário de emissões, mas desdobramentos políticos podem atrasar ainda mais o abandono do carvão, especialmente nos EUA.
São 45 projetos de mineração em desenvolvimento, totalizando 32 Mtpa e dois terços no Canadá.
Os EUA respondem pelo terço restante (11 Mtpa) e a promoção do chamado “carvão limpo e bonito” da gestão de Donald Trump acrescenta incerteza à trajetória da região rumo à eliminação gradual do fóssil nos próximos anos.
Vale dizer que os projetos de carvão metalúrgico nos EUA e Canadá superam os de operações térmicas em 68% e 77%, respectivamente.
“Ainda é muito cedo para dizer como o segundo mandato do governo Trump impactará a tendência de queda do carvão nos EUA”, diz o relatório.
Em meio a preços baixos e desaceleração da demanda, Trump declarou emergência energética nacional com a intenção de aumentar a produção de combustíveis fósseis dos Estados Unidos.
Esse movimento veio acompanhado da aprovação das expansões das minas de Spring Creek e Bull Mountains, em Montana, e a aceleração do processo de licenciamento ambiental de novos projetos de carvão.
“No entanto, em maio de 2025 , poucos produtores de carvão fizeram mudanças públicas em seus planos estratégicos para 2025. Isso sugere uma hesitação persistente sobre as contínuas condições ruins do mercado e a incerteza econômica causada pelas mudanças nas políticas tarifárias e comerciais do governo Trump, o que pode ser prejudicial ao mercado de exportação de carvão”, completa o GEM.
Cobrimos por aqui
Curtas
Desregulamentação climática. A Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA) revogará uma conclusão, de 2009, de que as emissões de gases de efeito estufa colocam em risco a saúde humana, bem como os padrões de emissão para veículos, removendo a base legal de regulamentações climáticas em todos os setores, anunciou o administrador da EPA, Lee Zeldin, nesta terça. (Reuters)
Tarifaço. O senador Jaques Wagner (PT/BA), líder do governo no Senado, afirmou que a missão em Washington, nos Estados Unidos, está focando na extensão do prazo para a entrada em vigor do tarifaço de 50% aos produtos brasileiros.
- Na segunda (28), o presidente Lula (PT) recebeu o plano de contingenciamento para ajudar empresas afetadas pela tarifa de Trump. Segundo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), o Brasil não pretende sair da mesa de negociações e continuará priorizando o diálogo para tentar reverter a medida.
Aberta consulta do Plano Clima. O Ministério do Meio Ambiente começou a receber, nesta segunda, as contribuições da sociedade sobre os sete planos setoriais da Estratégia Nacional de Mitigação. A consulta pública recebe sugestões até 18 de agosto.
Expansão térmica. O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), afirmou na segunda que as novas diretrizes do leilão de reserva de capacidade (LRCAP) serão publicadas nos “próximos dias”. A fala ocorreu durante a inauguração da termelétrica GNA II, no Porto do Açu (RJ), e foi marcada por críticas à expansão “subsidiada e descontrolada” das fontes renováveis.
Transição australiana. O governo da Austrália anunciou nesta terça (29/7) que irá expandir em 25% seu principal programa para fomentar investimento privado em projetos de energia limpa. Objetivo é impulsionar o volume de projetos solares e eólicos, além de redes, para alcançar a meta de 82% de geração renovável até 2030. (Reuters)
Biometano paulista. A Secretaria Estadual de Meio Ambiente de São Paulo abriu, nesta terça-feira (29/7), uma consulta pública sobre o Certificado de Garantia de Origem de Biometano Paulista. O objetivo do governo do estado é lançar, até o fim do ano, um conjunto de diretrizes para emissões dos certificados.
Risco hidrológico. O diretor da Aneel Fernando Mosna defendeu, nesta terça, a suspensão do leilão dos passivos do risco hidrológico, previsto para a próxima sexta (1/8). Ele encaminhará ao Ministério de Minas e Energia e à Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) um ofício apontando para potencial ilegalidade em parâmetros para a realização do certame.
Alerta climático. A Aneel informou, na segunda (28/7), que houve determinação para que 22 distribuidoras de energia de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul mantenham plano de contingência atualizado para atendimento emergencial. O regulador cita, como motivo, o alerta climático previsto para os próximos dias nesses estados.
- No RS, a passagem de um ciclone extratropical afetou o fornecimento de energia elétrica e 346 mil clientes estão sem luz na área de concessão da CEEE Equatorial.
Furto de cabos. O presidente Lula sancionou, com dois vetos, a lei que aumenta as penas aplicadas ao furto, roubo e receptação de fios, cabos ou equipamentos utilizados para fornecimento ou transmissão de energia elétrica ou de telefonia e dados.
Interligadas. A ABGD inicia a nova fase do projeto Interligadas com um evento de lançamento na quarta (31/7), às 15h. A iniciativa busca ampliar a representatividade e o protagonismo feminino no setor de energia. O evento em São Paulo (SP) tem inscrições gratuitas, mas limitadas.