Diálogos da Transição

Expansão de data centers demanda regulação alinhada com transição energética

Regulação é o ponto principal para alinhar a economia digital à transição energética, mas o mundo ainda dá os primeiros passos neste sentido

Marcelo Bernardino, CEO da Indra e da Minsait no Brasil
Marcelo Bernardino, CEO da Indra e da Minsait no Brasil | Foto: Divulgação

NESTA EDIÇÃO. Regulação é o ponto principal para alinhar a economia digital à transição energética, mas o mundo ainda dá os primeiros passos neste sentido.

Em entrevista à agência eixos, o CEO da Indra e da Minsait no Brasil, Marcelo Bernardino, aponta que no curto prazo a tendência é de pressão sobre o consumo elétrico.

E ainda: São Paulo espera receber R$ 70 bi de investimentos em data centers


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Migrações de dados para nuvem, e-commerce, smart cities, modelos preditivos para as mais diversas atividades econômicas e a famigerada inteligência artificial são alguns exemplos de como a digitalização está expandindo e, com ela, o consumo de energia.
 
É um caminho sem volta e o desafio está em conciliar a crescente demanda por eletricidade em um mundo que precisa abandonar combustíveis fósseis, cortar emissões de carbono e limitar o aumento da temperatura global da 1,5°C até o fim do século.
 
“É uma corrida”, diz Marcelo Bernardino, CEO da Indra e da Minsait no Brasil, empresa que atua no segmento de transformação digital e tecnologia da informação.
 
“Por um lado, você tem a transição energética e os modelos de matrizes de energia, que, mesmo no Brasil, que é o modelo mais limpo em relação a outros países, você tem uma demanda de rede. Será um investimento muito alto”, completa. 
 
Em entrevista à agência eixos, o executivo observa que os investimentos para expandir a capacidade de geração e as redes de transmissão para que essa energia chegue aos projetos são altos e levará algum tempo até que a oferta encontre a demanda. No curto prazo, a previsão é de pressão sobre o setor elétrico nos países que abrigam os grandes centros de dados, como já se observa em algumas partes do mundo.
 
Só em 2022, os data centers consumiram 460 terawatts-hora – equivalente ao consumo de 42 milhões de residências nos EUA por um ano. A expectativa é que esse número dobre até 2026, estima agência da ONU.
 
“Qual é o nosso desafio? Primeiro, temos que ter regulação. Os países têm que ter um foco, uma prioridade muito grande sobre regulação. E é preciso responsabilidade das empresas, que façam um trabalho sério de perenidade, porque senão, elas vão sofrer no médio ou no longo prazo de qualquer forma”, comenta Bernardino.
 
Na visão do CEO, governos e empresas provedoras de dados e de informação precisam pensar em como e onde montar o data center, além de como usar a inteligência artificial para trabalhar de forma preditiva e controlar o consumo de energia.
 
“Isso tem que estar relacionado com a regulação, com a transição energética e com a matriz energética de cada país”, defende. 



A eficiência também está relacionada à maneira como a IA é utilizada.
 
Bernardino explica que nem tudo se resolve com inteligência artificial generativa – cujo consumo de energia é alto. 
 
“Você pode ter pequenos modelos que vão resolver um assunto de cada maneira”. 
 
Ele também lista algumas aplicações em que a inteligência artificial pode ser uma aliada na mitigação das causas da crise climática, ou mesmo na adaptação de cidades e modelos produtivos.
 
“A busca por eficiência na redução da pegada de carbono e demanda de energia tem que ser incessante quando falamos de monitoramentos preditivos, de utilização de energia elétrica em grandes cidades, grandes condomínios, grandes empresas, no monitoramento inteligente de smart city”.

Regulação é o ponto principal para alinhar a economia digital à transição energética, mas, na avaliação do CEO da Minsait, é preciso acelerar as discussões.
 
“Eu vejo discussões nos Estados Unidos, na Europa, estou acompanhando as discussões aqui e vejo movimentos muito importantes, tanto do governo quanto do terceiro setor, quanto do setor de tecnologia. Mas a gente precisa acelerar as discussões quando se trata de energia”.
 
Entre as demandas regulatórias, ele aponta a necessidade de um protocolo de neutralidade, em termos de utilização da energia, de modo a evitar novas pressões à rede elétrica.
 
“Se você vai ter um centro de computação quântica, ou computação tradicional, ou processamento de dados, ou data center, o governo pode estabelecer uma regulação específica de quanto que você vai gerar de energia, e quanto que isso vai representar de economia, como é que você vai equilibrar isso, a neutralidade”.
 
Além disso, a definição dos locais onde esses empreendimentos serão instalados deveria observar se há capacidade renovável e redes de distribuição de energia adequadas.
 
“O que tem que ser priorizado é, primeiro, localidades em que você tenha uma distribuição de energia mais adequada, porque eu não posso impactar depois a sociedade. Se eu não tiver casado a transição para uma matriz de energia renovável com a implantação de data centers, eu acho que não posso implantar data centers”, completa.


R$ 70 bilhões em data centers. O governador do Estado de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), disse nesta segunda (21/10) que os investimentos em data centers no estado devem atingir R$ 70 bilhões nos próximos meses, e que a intenção é expandir a oferta de energia fotovoltaica e bioeletricidade para suprir a demanda.
 
Segundo o governador, a chave para atrair investidores internacionais está na capacidade de São Paulo de fornecer “energia limpa, relativamente barata, oferta de água, boa infraestrutura e mão de obra qualificada”. 
 
14 mil imóveis sem energia. Enquanto isso, a região metropolitana de São Paulo tinha 14 mil unidades consumidoras sem fornecimento de luz na tarde de domingo (20/10), mesmo após um fim de semana sem temporais, segundo informações da distribuidora Enel. O número é considerado “dentro da normalidade” pela concessionária.
 
PPA para data centers. A provedora de data center Odata e a Casa dos Ventos firmaram um contrato de longo prazo de fornecimento de energia renovável através da participação da Odata no Complexo Eólico Babilônia Sul (360 MW), situado em Várzea Nova, Bahia. A empresa conta com cinco data centers no Brasil.
 
COP da biodiversidade. A 16ª Conferência de Biodiversidade da ONU começa nesta segunda, mas Brasil e outros 163 signatários do “Acordo de Paris da Biodiversidade” chegam a Cali, na Colômbia, sem um plano nacional claro para proteger e restaurar a fauna e flora locais. (Reset)
 
Chuvas no RS. O diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Marcio Rea, informou, nesta segunda (21), a conclusão da operação especial durante o período de recuperação dos ativos do Sistema Interligado Nacional (SIN) no Rio Grande do Sul, afetados pelas fortes chuvas que atingiram o estado no primeiro semestre. As inundações afetaram 35 linhas de transmissão, 14 transformadores e cinco usinas hidrelétricas, o que levou o ONS a criar um grupo de trabalho específico para coordenar  a retomada desses equipamentos. 
 
GD compartilhada. A EDP e o grupo varejista GPA – dono das marcas Pão de Açúcar e Extra – firmaram contrato de dois anos para geração distribuída solar no modelo remoto. 40 lojas Minuto Pão de Açúcar no estado de São Paulo passarão a receber os créditos de energia renovável, referentes ao fornecimento de 16,8 GWh (sendo 701,85 MWh/mês), de 2024 a 2026. Com a transação, o GPA espera evitar a emissão de 648,5 toneladas de CO2 até o final do contrato.
 
Economia circular. A distribuidora de gás natural  Naturgy pretende encaminhar 83% dos resíduos gerados em seus centros de trabalho para reciclagem ou para valoração energética, processo que utiliza esses materiais para geração de energia, em especial por indústrias. No último ano, cerca de 7,2 toneladas deixaram de ser enviadas a aterros sanitários, reduzindo a emissões de gases de efeito estufa, como metano e CO2.
 
Oficina de mercado de carbono. O programa Naves do Conhecimento promove, entre 16 e 30 de outubro, um workshop gratuito sobre as profissões do futuro e suas sinergias com o mercado de carbono e as finanças sustentáveis. Será explicada a relevância econômica e ambiental destas atividades, além de relacionar as decisões do G20 com o mercado de créditos de carbono e a economia verde. A iniciativa é patrocinada pela Karpowership Brasil e gerida pela Soul Science, com apoio da Secretaria Municipal de Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro, e recebe inscrições até 29 de outubro.