Diálogos da Transição

Europa revisa regras para acelerar projetos de eólicas offshore

Meta é chegar a 111 GW em 2030; em 2022, a capacidade instalada acumulada nos 27 países da UE totalizou 16,3 GW

Europa revisa regras para acelerar as instalações de eólicas offshore. Na imagem: Embarcações de apoio auxiliam na montagem de plataformas e turbinas eólicas offshore flutuantes do projeto WindFloat Atlantic, instaladas ao largo de Viana do Castelo, em Portugal (Foto Linkedin Principle Power)
Montagem de turbinas eólicas offshore flutuantes do projeto WindFloat Atlantic, em Portugal (Foto Linkedin Principle Power)

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Editada por Nayara Machado
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A União Europeia (UE) publicou no final de outubro um plano de ação para alavancar as instalações eólicas no mar e cumprir sua meta de alcançar pelo menos 42,5% de energia renovável até 2030.

A estratégia é revisar políticas existentes para melhorar o ambiente de negócios.

Boa parte da expansão renovável do bloco depende de capacidade instalada de energia eólica, que precisa crescer de 204 GW em 2022 para mais de 500 GW até 2030, dos quais 111 GW serão offshore.

Só que a indústria começa a esbarrar em alguns obstáculos, como demanda insuficiente e incerta, processos de licenciamento demorados, acesso limitado a matérias-primas, inflação e preços de commodities em alta, além da concorrência internacional crescente (destaque para China e EUA) e escassez de profissionais qualificados.

Um dos pontos do plano de ação é acelerar a implementação, agilizando os processos de licenciamento. Isso incluirá um foco na digitalização dos processos de autorização e assistência técnica aos países membros.

Outro, é melhorar o design dos leilões, trabalhando também em conjunto com os 27 membros do bloco para criar critérios mais objetivos, que “recompensem equipamentos de maior valor agregado e garantam que os projetos sejam concluídos no prazo”.

Em 2022, a capacidade instalada de energia eólica offshore nos 27 países da UE totalizou 16,3 GW. Isso significa que, para preencher a lacuna entre os 111 GW será necessário instalar uma média de quase 12 GW por ano — 10 vezes mais do que os 1,2 GW instalados no ano passado.

Disputa comercial

A competição com a China e a escassez de matérias-primas para fabricação de equipamentos também estão no radar.

O plano pretende “monitorar práticas comerciais desleais” e utilizar acordos comerciais para facilitar o acesso a mercados estrangeiros, promovendo os padrões da UE.

O bloco está costurando parcerias com países latinoamericanos, africanos e asiáticos com grandes reservas minerais que servem de insumo para a fabricação de tecnologias de transição energética. Com isso, tenta quebrar o monopólio chinês na indústria renovável.

E o Brasil?

Até 14 de julho, o Ibama contabilizava pedidos de licenciamento para 78 projetos eólicos offshore, somando 189 GW de capacidade com a instalação de cerca de 13 mil turbinas na costa brasileira – é quase a potência total de energia instalada no país (194 GW).

Para tirar os empreendimentos do papel, o mercado aguarda a aprovação de marcos regulatórios capazes de garantir segurança jurídica aos investimentos.

Na visão do diretor da Prumo Logística, Mauro Andrade, o Brasil já perdeu a primeira onda de investimentos em hidrogênio renovável e eólica offshore.

Em entrevista ao estúdio epbr durante a OTC Brasil 2023, o executivo disse que o país precisa agilizar a criação do arcabouço regulatório das atividades e as políticas de incentivo para esses dois novos mercados que estão apoiando a transição energética em outros países.

“O Brasil precisa fazer, primeiro, onde não tem framework regulatório, fazer o framework regulatório. Política de incentivo para produto a partir do hidrogênio verde, que não existe hoje, que você não arrecada nada”, defendeu.

“Se fizer uma política de incentivo para coisas que sejam novas, você não está perdendo arrecadação. Então dá para a gente pensar nisso. Existe espaço para isso. Muito diferente de dizer ‘vamos desonerar uma coisa que já existe”, completou

Demanda aquecida

As encomendas de turbinas eólicas atingiram um novo recorde no primeiro semestre deste ano, com 69,5 GW de capacidade. Um aumento de 12% em relação a 2022, segundo levantamento da Wood Mackenzie.

No total, os pedidos representaram US$ 40,5 bilhões nos primeiros seis meses de 2023.

China segue de longe o maior mercado, com 44 GW em encomendas, mas sem registrar crescimento significativo. Já os pedidos fora da China apresentaram um aumento de 47%, com 25 GW de demanda.

A entrada de pedidos offshore aumentou 26% no primeiro semestre, para um recorde de 12 GW e 17% de toda a capacidade de pedidos.

“Vimos vários negócios realmente grandes chegarem oficialmente a uma decisão final de investimento no segundo trimestre, incluindo pedidos de 2.640 MW e 1.176 MW na América do Norte, o que ajudou a impulsionar os números recordes e a dar um pouco de vida a esses mercados”, comenta Luke Lewandowski, vice-presidente de pesquisa global em energias renováveis da Wood Mackenzie.

Cobrimos por aqui:

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