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Europa avança em incentivos ao hidrogênio; EUA ensaiam recuo

Leilão europeu seleciona 15 projetos de hidrogênio para financiamento de 992 milhões de euros no total

Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia (Foto: EC - Audiovisual Service)
Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia (Foto: EC - Audiovisual Service)

NESTA EDIÇÃO. Leilão europeu seleciona 15 projetos de hidrogênio para financiamento de 992 milhões de euros no total.

Congressistas dos EUA discutem corte em subsídios do IRA.

E ainda: plataforma internacional já conta com onze empreendimentos brasileiros de descarbonização industrial.


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A Comissão Europeia anunciou, na última semana, 15 projetos de produção de hidrogênio renovável selecionados no segundo leilão do Banco Europeu de Hidrogênio (EHB). Eles receberão um total de quase 1 bilhão de euros em financiamento público para abastecer o setor de transportes e a indústria química.
 
Três projetos estão relacionados ao setor marítimo, e todos na Noruega. É a primeira vez que o leilão disponibiliza um orçamento específico para produtores de hidrogênio com off-takers na navegação. 
 
Os 15 projetos estão distribuídos por cinco países e deverão produzir quase 2,2 milhões de toneladas de hidrogênio renovável ao longo de dez anos. A expectativa é evitar mais de 15 milhões de toneladas de emissões de CO2 com a substituição de combustíveis fósseis.
 
A Europa tem apostado no hidrogênio como uma solução para descarbonizar sua indústria e transportes pesados, como navios e aviões, onde a eletrificação ainda é inviável.
 
O resultado do leilão chega no mesmo momento em que, do outro lado do Atlântico, um país que prometia ser uma potência no hidrogênio discute um grande recuo.
 
Na última semana, um comitê da Câmara dos Estados Unidos controlado pelos republicanos votou para aprovar o projeto de lei que propõe encerrar o crédito tributário de hidrogênio de 45 V, colocando em risco bilhões de dólares em investimentos.
 
O projeto de lei precisa passar pelo plenário e deve enfrentar uma votação apertada, mas é uma demanda do atual presidente Donald Trump para reduzir o financiamento concedido pela Lei de Redução da Inflação (IRA, em inglês) de seu antecessor.



Ao todo, serão 992 milhões de euros em financiamento da União Europeia para cobrir a diferença de preço entre os custos de produção de hidrogênio renovável, metanol e amônia e o preço de mercado.
 
Dos projetos selecionados, 12 estão comprometidos com a produção de hidrogênio renovável com apoio de prêmio fixo entre € 0,20 e € 0,60 por quilograma. 
 
Já as três propostas voltadas ao setor marítimo receberam € 96,7 milhões em subsídios, com a exigência de manter os preços entre € 0,45 e € 1,88 por quilograma.
 
Cada subsídio para os 15 projetos varia de € 8 milhões a € 246 milhões por um período de até 10 anos. Os recursos vêm do Fundo de Inovação composto por parte da arrecadação do mercado de carbono regulado do bloco, o EU ETS.
 
O bloco tenta acelerar a produção de combustíveis renováveis como solução climática, mas também de independência energética – a guerra na Ucrânia expôs fragilidades na dependência do gás russo.

Com matriz elétrica predominantemente renovável, o Brasil também está na mira dos investimentos para produção de hidrogênio com foco na descarbonização industrial
 
Na última semana, o Acelerador de Transição Industrial (ITA) anunciou a seleção de sete novos projetos no Brasil, que incluem Solatio, Acelen, Votorantim Cimentos, Mizu Cimentos, o consórcio Eco Fusion, Alcoa e Companhia Brasileira de Alumínio (CBA).
 
O total de iniciativas apoiadas no país, em parceria com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), chega a onze, representando um potencial de investimento de US$ 17,5 bilhões.
 
O Brasil foi o primeiro país a firmar parceria com o ITA, ainda em 2024, e se tornou o modelo mais avançado da iniciativa lançada na COP28.
 
“São projetos ‘farol’ dentro do Brasil, alinhados com uma visão de neutralidade climática para a indústria no futuro, mas que precisam de algum apoio para chegar a essas decisões finais de investimento”, disse em entrevista à agência eixos o diretor de programas do ITA, Marc Moutinho. 


Hidrogênio na Indonésia. O grupo Hyundai Motor anunciou nesta terça-feira (20/5) que vai estabelecer um ecossistema de transformação de resíduos em hidrogênio em parceria com o governo da Indonésia e a estatal de energia PT Pertamina. O projeto prevê uma estação de reabastecimento de hidrogênio produzido a partir de biogás de aterro sanitário e usará a infraestrutura de gás natural veicular já existente da Pertamina.
 
Licenciamento ambiental. A Comissão de Meio Ambiente (CMA) do Senado aprovou a Lei Geral do Licenciamento Ambiental na manhã desta terça (20/5). O projeto foi aprovado em votação simbólica, com votos contrários da senadora Eliziane Gama (PSD/MA) e do Partido dos Trabalhadores. Há expectativa de que o projeto seja votado ainda nesta quarta (21) pelo plenário da Casa. A proposta simplifica a concessão de licença para empreendimentos de menor impacto ambiental. O projeto tramita no Legislativo há cerca de vinte anos.

Foz do Amazonas. O Ibama aprovou, na segunda (19/5), o plano de resgate à fauna apresentado pela Petrobras e autorizou a estatal a avançar com o simulado de resposta a acidentes com vazamento de óleo no litoral do Amapá. É a última etapa formal, segundo a petroleira, para o licenciamento ambiental da perfuração no bloco FZA-M-59, em águas profundas na Bacia Foz do Amazonas.
 
Data centers para mitigar curtailment. O country manager da Engie Brasil, Eduardo Sattamini, defendeu nesta terça (20/5) que a instalação de data centers e outras cargas eletrointensivas no Nordeste são parte da solução para o excesso de oferta de energia renovável e para os crescentes episódios de corte compulsório geração.
 
Honda recua na eletrificação. A montadora anunciou nesta terça (20/5) que vai reduzir em mais de US$ 20 bilhões seus investimentos em veículos elétricos nos próximos anos, diante do crescimento mais lento da demanda por esse tipo de automóvel. A japonesa promete ampliar linha de híbridos, enquanto reduz metas para veículos 100% elétricos.
 
CATL ganha mercado com baterias. A Contemporary Amperex Technology (CATL), gigante chinesa de baterias, disparou 16,43% em Hong Kong, após uma IPO de cerca de US$ 4,6 bilhões, a maior do mundo neste ano. A sólida recepção sugere que ainda há apetite entre investidores internacionais por fabricantes chineses líderes, apesar das tensões comerciais entre Pequim e Washington.
 
Créditos de reflorestamento. O BNDES liberou R$ 80 milhões do Fundo Clima para os projetos de reflorestamento da re.green na Amazônia e na Mata Atlântica. A intenção é gerar créditos de carbono para comercialização no mercado voluntário. A startup tem um acordo com a Microsoft para três milhões de títulos.
 
100% renovável. Em seu terceiro ano de operação, a Rio+Saneamento, concessionária responsável pelo saneamento em 18 municípios no estado do Rio, atingiu sua meta de energia elétrica 100% proveniente de fontes renováveis. Com a iniciativa até 4,3 mil toneladas de CO2 por ano deixarão de ser emitidas. A maior parte da energia é obtida através do mercado livre de energia. 

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