diálogos da transição

Etanol supera soja em potencial de produção de SAF no Brasil

Brasil encontra na rota do etanol uma vantagem competitiva na produção de combustíveis sustentáveis para a aviação

Planta de etanol de milho da Inpasa. Foto: Inpasa/Divulgação
Planta de etanol de milho da Inpasa. Foto: Inpasa/Divulgação

NESTA EDIÇÃO. Etanol de cana pode ser insumo para produção de 6,5 bilhões de litros por ano de combustível sustentável de aviação a partir de 2030.

Brasil ainda precisa, no entanto, romper barreiras internacionais aos biocombustíveis de origem agrícola e avançar com mecanismos de incentivo.


EDIÇÃO APRESENTADA POR

Como maior produtor mundial de cana-de-açúcar, o Brasil encontra na rota do etanol uma vantagem competitiva na produção de combustíveis sustentáveis para a aviação (SAF, em inglês), mostra um relatório lançado na última semana pelo Ministério da Fazenda e o Instituto AYA.
 
O levantamento aponta que o SAF de etanol (cuja rota de produção é conhecida como ATJ) tem potencial teórico para gerar até 6,5 bilhões de litros por ano na próxima década, representando 23% do potencial de produção estimado do país. 
 
Já o etanol de milho vem logo atrás, com 5,5 bilhões de litros, ou 20% da capacidade projetada.
 
Juntos, superam as estimativas para aproveitamento dos óleos de palma e soja pela rota HEFA – a única com produção em escala atualmente –, cujo potencial é calculado em 20% e 17%, respectivamente.
 
óleo de macaúba, palmeira nativa que vem sendo estudada como alternativa pela Acelen, poderia responder por 11% da produção, enquanto resíduos de madeira e outros representam os 10% restantes.
 
O estudo (.pdf) elaborado em parceria com a Systemiq o UK PACT e cerca de 200 organizações da sociedade civil e setor produtivo elencou o SAF como a atividade econômica com maior aptidão para incrementar o PIB brasileiro no cenário de transição energética.
 
A iniciativa quantificou a oportunidade para o crescimento do PIB entre US$ 230 e 430 bilhões até 2030 por meio de sete setores-chave da economia: transição energética, indústria e mobilidade, bioeconomia e biotecnologia, agropecuária e sistemas alimentares sustentáveis, nova infraestrutura verde e adaptação, economia circular e finanças sustentáveis.
 
Na transição (US$ 40 a 75 bilhões), o SAF poderia contribuir com US$ 17 a 36 bilhões até 2030. O valor, no entanto, é ligeiramente menor do que o estimado em um estudo de 2023, que previa uma contribuição de US$ 22-44 bilhões.
 
A revisão incluiu biobunker nas contas (US$ 3-6 bilhões em potencial) e atualizações nos valores dos setores de indústria e mobilidade, onde cresceu a participação da eletrificação.



A metodologia para a priorização das cadeias de valor na análise foi fundamentada em sete critérios: competitividade global, complexidade econômica, potencial de geração de PIB, demanda internacional, potencial de descarbonização, estágio de desenvolvimento tecnológico e econômico e condições habilitadoras.
 
O SAF se sai bem em quase todos os requisitos. Os gargalos estariam na complexidade da cadeia de valor e condições habilitadoras, isto é, regulações, incentivos fiscais e outros mecanismos de incentivo. 
 
Embora parta do princípio que pacotes econômicos aprovados nos últimos anos, como a Lei de Redução da Inflação nos EUA (IRA, em inglês) e o Green Deal europeu, além de políticas de carbono como os CBAMs e o Artigo 6.4 devem influenciar estruturação de cadeias de valor locais, regionais e globais – o relatório indica três fatores que serão decisivos para o biorrefino decolar no Brasil.
 
O primeiro deles diz respeito ao debate alimento versus energia. O documento aponta que é preciso alinhar diplomacia climática e regulação internacional para que os biocombustíveis de origem agrícola sejam aceitos em diferentes mercados.
 
“O debate de food vs. fuel vs. forests precisa avançar globalmente, com a compreensão dos órgãos reguladores europeus das particularidades de países como o Brasil, que tem a área equivalente à França só de áreas degradadas onde a produção poderia acontecer sem competir com alimentos e florestas”, explica.
 
Medidas fiscais e regulação doméstica são os outros dois fatores. O trabalho traz o exemplo dos EUA, que fornece crédito de US$ 1,25 para cada galão de querosene com SAF que atenda ao critério de redução mínima de 50% nas emissões de gases de efeito estufa do ciclo de vida. 
 
E cita o mandato da União Europeia para participação mínima de SAF na composição de combustível de aviação de 2% em 2025, 6% em 2030, chegando a 70% em 2050.
 
“O PL do Combustível do Futuro impõe 4% em 2030 e 12% em 2035. Vale notar que essa regulação brasileira, embora bem-vinda, ainda representa apenas uma pequena parcela (4-5%) do volume potencial da produção nacional (de 2030 a 2035)”, observa.


Agro na COP30. Presidente da COP30, o embaixador André Corrêa do Lago afirmou nesta quarta (23/4) que o Brasil pretende dar protagonismo ao setor agrícola durante a conferência climática que será realizada em Belém (PA), em novembro. Segundo Corrêa do Lago, será uma oportunidade para o país mostrar como a produção agropecuária nacional pode ser parte da solução frente à crise climática.
 
Por falar em COP30, o presidente Lula (PT) e o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, cobraram, nesta quarta, que os líderes mundiais entreguem metas ambiciosas de redução de emissões de carbono. Apenas 10% dos países apresentaram suas novas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs).
 
Descarbonização marítima. O Porto do Açu e a Repsol Sinopec Brasil vão estudar a combinação da tecnologia de captura de CO2 do ar com a conversão do gás em combustível para navios e aviões. O objetivo do projeto é criar um ciclo que mitigue as emissões de CO2 e também transforme a molécula em combustível renovável.
 
Biometano de cana. GeoMit e Companhia Mineira de Açúcar e Álcool (CMAA) assinaram um Memorando de Entendimento (MOU) para desenvolver projetos de biogás e biometano a partir de resíduos da cana-de-açúcar. A iniciativa começará no Projeto Vale do Tijuco (MG) e pretende fornecer gás de baixo carbono para as indústrias locais e o setor de transportes.
 
Renovabio. A Associação Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis (ANDC) criticou o decreto que instituiu novas penalidades no mercado de combustíveis. A regulamentação da lei 15.082/25, feita na semana passada (17/4), ampliou as penas para distribuidoras inadimplentes com as metas individuais do RenovaBio e por descumprimento da mistura obrigatória de biodiesel.
 
Renovação de concessões. Pela segunda vez, a reunião de diretoria da Aneel foi concluída sem uma solução para a renovação da concessão de distribuição da EDP Espírito Santo, que vence em julho. O caso é apenas o primeiro dos 19 contratos que vencem até 2031 e tiveram pedidos de renovação apresentados à agência. Na terça-feira (22/4), os diretores divergiram sobre as exigências de qualidade na prestação de serviço.
 
IA e nuclear. O CEO da OpenAI, Sam Altman, está deixando o cargo de presidente do conselho da startup de energia nuclear Oklo, o que abre caminho para futuras parcerias entre as duas empresas. Segundo a Oklo, o papel do executivo no conselho tornava mais complexas as oportunidades de colaboração com a criadora do ChatGPT.
 
Corrida mineral. A procura no Brasil por minerais usados na transição energética acelera a crise climática no Pará, na Bahia, em Goiás e em Minas Gerais, com “mudanças consideráveis nos padrões climáticos até 2030”, conclui estudo inédito do Observatório da Mineração. O levantamento reúne dados elaborados pela consultoria TMP, que analisa eventos climáticos extremos. (Agência Brasil)
 
Importação de resíduos. O governo federal publicou, na terça-feira (22/4), o decreto que regulamenta a importação de resíduos sólidos utilizados na transformação de materiais e minerais estratégicos, prevista na Lei 15.088/2025. O documento elenca 20 insumos. O que não está listado tem importação proibida para o Brasil.

Newsletter diálogos da transição

Inscreva-se e fique por dentro de tudo sobre Transição Energética