Agendas da COP

Eólica e solar responderam por 80% da nova capacidade em 2022

Coalizão empresarial pede a governos que acelerem transição de fósseis para renováveis em carta aberta às Partes da COP28

Geração de energia eólica e solar respondeu por 80% da nova capacidade em 2022. Na imagem: Vista aérea de aerogeradores em parque eólico sobre solo com vegetação rasteira (Foto: Rattlesnake Energy)
Em 2022, cerca de 67% dos 140 países analisados pela BNEF instalaram mais energias renováveis do que fósseis (Foto: Rattlesnake Energy)

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Diálogos da Transição

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Editada por Nayara Machado
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Eólica e solar responderam por 80% dos 424 gigawatts de nova capacidade instalada globalmente em 2022, de acordo com dados da BloombergNEF, mesmo em meio às ameaças de que a guerra na Ucrânia poderia atrasar a transição de fontes fósseis para renováveis.

“Embora a utilização de combustíveis fósseis tenha aumentado para satisfazer a demanda, as energias renováveis ​​continuam a registar progressos significativos a nível mundial. O restante desta década será decisivo para determinar se o mundo alcançará uma trajetória de emissões líquidas zero”, diz o relatório.

A boa notícia é que “mais mercados do que nunca estão adotando tecnologias de energia renovável como sua principal escolha”.

No ano passado, cerca de 67% dos 140 países analisados pela BNEF instalaram mais renováveis do que energia de fontes fósseis. Dez anos atrás, esse percentual era de 39%.

O destaque é a energia fotovoltaica, a preferida em quase metade das economias do mundo.

O levantamento mostra que as renováveis estão ganhando impulso, porém concentradas. Para os analistas da BNEF, as políticas adotadas pelos diferentes mercados para enfrentar os desafios atuais é que definirão os rumos que essa transição irá tomar.

Com as adições registradas no ano passado, eólica e solar passaram a compor 12,5% da geração global e a geração a partir de renováveis atingiu um novo recorde de 8,4 terawatt-horas – com um aumento de 8% na demanda de energia em comparação com 2021.

Tecnologias de baixo carbono alcançaram 46% da capacidade instalada global, em comparação com 33% em 2012.

No entanto, mais de dois terços da geração global de energias renováveis no ano passado estavam concentrados em 10 mercados.

Na liderança está a região da Ásia-Pacífico, cuja produção de eletricidade deu um salto de 6% ano a ano em 2022. O forte crescimento econômico da China levou a geração a aumentar cerca de 9%, atingindo 8.600 TW/h.

Vale dizer: com 60% da eletricidade de fontes renováveis, a América Latina ostenta a matriz elétrica mais limpa do mundo. Brasil, México, Argentina, Chile e Venezuela são responsáveis por 82% da capacidade instalada de renováveis na região.

Emissões aumentaram, mas participação de fósseis está caindo

O ano de 2022 marcou um novo recorde em emissões de gases de efeito estufa do setor de energia, com 13 bilhões de toneladas CO2.

O aumento foi de cerca de 2% em relação aos níveis de 2021 e mais de 4% em relação a 2020, consequência da maior geração a carvão e gás natural na recuperação econômica do pós-pandemia.

Ainda assim, a participação de combustíveis fósseis em novos projetos atingiu o nível mais baixo de todos os tempos no ano passado: apenas 13% – em 2013 a participação era de 50%.

O gás natural liderou a queda, com 23 GW adicionados em 2022, ante 53 GW em 2021. O carvão foi o principal combustível fóssil adicionado no ano passado, com 30 GW de novas construções.

Do fóssil para o limpo

É em meio a esse cenário que 131 empresas de diferentes setores e regiões publicaram, nesta segunda (23/10), uma carta aberta apelando aos governos nacionais para abordar a causa primária das mudanças climáticas: a queima de combustíveis fósseis.

O documento é direcionado às partes que irão discutir na Conferência do Clima das Nações Unidas (COP28) as ambições comuns para limitar o aquecimento do planeta a 1,5ºC até 2100 – lembrando que já aquecemos 1,1°C.

Formada por empresas cuja receita combinada é de quase US$ 1 trilhão, a coalizão empresarial We Mean conta com grupos como Volvo, Iberdrola, Mahindra Group, Unilever, Bayer e Nestlé.

Eles enxergam na COP28 uma oportunidade para que os governos decidam por acelerar a transição para energias limpas, assumindo compromissos com a eliminação gradual do uso e produção de combustíveis fósseis.

E pedem a todas as Partes na conferência climática que estabeleçam as bases para transformar o sistema energético global em direção a uma eliminação completa dos combustíveis fósseis inabaláveis e para triplicar a capacidade global de eletricidade renovável – um dos itens da agenda deste ano.

Marcada para o final de novembro, a conferência ocorrerá em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, país que tem o petróleo como importante motor da economia e tem deixado ambientalistas e observadores ansiosos em relação aos resultados das negociações.

Até agora, os sinais são pouco animadores

Uma avaliação das Nações Unidas sobre o progresso global na redução das emissões de GEE mostra que a maioria das economias não está no caminho de 1,5°C.

O relatório Global Stocktake (GST) analisa as políticas climáticas adotadas pelos signatários do Acordo de Paris e conclui que estamos em direção a algo entre 2,4ºC e 2,6ºC até o fim do século.

Se os compromissos de longo prazo para emissões líquidas zero forem plenamente atingidos, nossa melhor chance de reduzir o aquecimento fica na faixa entre 1,7ºC e 2,1ºC.

Ano de extremos

Enquanto isso, 2023 vai entrando para a história como um ano de extremos. A temperatura global chegou a um território desconhecido, elevando a intensidade e frequência de climas extremos e eventos como secas, ciclones e inundações.

Segundo a S&P Global, houve pelo menos 35 eventos de clima extremo registrados nos primeiros nove meses de 2023, quase todos com vítimas humanas.

Cobrimos por aqui:

Curtas

Monitorando petróleo na Amazônia

Instituto Arayara e Observatório do Clima lançaram nesta segunda (23/10) um monitor da exploração de óleo e gás nos nove países amazônicos. De acesso livre e gratuito, a ferramenta online facilita cruzamento de informações e gera mapas e planilhas com dados sobre país, empresa, fase exploratória, além de informações sobre as localidades – terra indígena, território quilombola, região de corais, entre outras.

Etanol para hidrogênio

Pesquisadores da USP vão estimar o potencial que o setor sucroalcooleiro apresenta para a produção de hidrogênio no país. Projeto do RCGI irá analisar os dados de todas as usinas de etanol no Brasil para calcular a quantidade de H2 que pode ser produzido para um futuro mercado de combustível sustentável para a aviação (SAF, em inglês).

Check-up de baterias

Um grupo de startups entrou na corrida para certificar a integridade e o desempenho da bateria em carros elétricos usados, ajudando os compradores a descobrir quanto realmente vale um veículo elétrico usado, mostra a Reuters.

BECCS cancelado

A Navigator CO2 Ventures cancelou o projeto que pretendia capturar 15 milhões de toneladas de dióxido de carbono anualmente das fábricas de etanol do Centro-Oeste dos EUA. A empresa teve pedido de licença negado pelos reguladores da Dakota do Sul para um gasoduto de 2.092 km de extensão que cortaria cinco estados. As informações são da Reuters.

Desinvestimento em CCS

Outro projeto de captura de carbono que não deu certo foi o da Occidental Petroleum, no Texas. Investigação da Bloomberg Green revelou problemas na mega fábrica Century – construída pela major em 2010. A tecnologia funcionou, mas a economia não se sustentou, levando ao desinvestimento. A Oxy vendeu discretamente o projeto no ano passado por uma fração do custo de construção.

Indústria verde no PR

Senai Paraná e Sebrae promovem na quinta (26/10), em Londrina, o evento A transformação verde da indústria: soluções para um futuro mais limpo. Com inscrições gratuitas, o objetivo é apresentar projetos em andamento no Estado e discutir principais rotas de descarbonização para o setor industrial. Entre elas, a substituição de combustíveis fósseis por biometano. Programação e inscrições clique aqui

Inovação para o clima

O Laboratório Global de Inovação para Financiamento Climático (Lab) está com inscrições abertas para soluções financeiras inovadoras que possam mobilizar recursos privados para as prioridades climáticas do Brasil. A ideia selecionada receberá suporte técnico e analítico de analistas do Lab e de instituições parceiras. As inscrições são feitas no site do Lab e o prazo é 27 de dezembro.