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Energia no Plano Clima: Brasil coloca no papel que já fez sua transição

Metas para Energia no Plano Clima deixam espaço para térmicas fósseis no setor elétrico enquanto apostam em biocombustíveis nos transportes. Consulta pública vai de 28 de julho a 18 de agosto no Brasil Participativo.

Lula (à direita) e Alexandre Silveira (esquerda) durante o evento "Combustível do Futuro chegou: E30 e B15", na sede do MME (Foto Claudio Kbene/PR)
Presidente Lula (PT) e o ministro Alexandre Silveira (PSD) participam do evento "Combustível do Futuro chegou: E30 e B15" (Foto Claudio Kbene/PR)

NESTA EDIÇÃO. Plano do governo para cumprir NDC até 2035 aposta em números já alcançados na matriz elétrica e expansão prevista em lei para biocombustíveis.

Para hidrogênio e baterias, as metas se concentram em regulação.


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Divulgado para consulta pública nesta sexta (18/7), o plano de mitigação do governo Lula (PT) para o setor de Energia mostra pouca — ou nenhuma — ambição quando o assunto é expandir a participação de renováveis, hidrogênio ou biocombustíveis no horizonte até 2035.
 
O objetivo do documento é mostrar como a matriz energética brasileira irá contribuir para o cumprimento da Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) ao Acordo de Paris ao longo da década. Por enquanto, a resposta é: já fizemos nossa parte.
 
É o que demonstra, por exemplo, a “ambição” para participação de renováveis na matriz elétrica: 82,7% em 2030 e 82,7% a 86,1% em 2035, abaixo dos 88% registrados em 2024.
 
A explicação para o cálculo é que ele representa a média da última década (2015–2024), que oscilou entre 75% e 88% e que eventos climáticos extremos podem exigir maior despacho térmico.
 
Ou seja, a crise climática causada pelos combustíveis fósseis pode justificar mais combustíveis fósseis. 
 
Enquanto a exposição do setor de óleo e gás às crises geopolíticas parece pesar em outra balança: o Brasil quer seguir relevante na exploração e produção de petróleo, e suas metas para o segmento miram redução da intensidade de carbono: em 32% (15 kg CO2/boe) em 2030, relativo a 2015, e manutenção desse patamar até 2035.
 
Elaborado pelo Ministério de Minas e Energia (MME), Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e Aneel, o plano de mitigação dialoga com o recém publicado Plano Decenal de Energia 2034 (PDE 2034), que fez o exercício de modelar cenários para a transição brasileira.
 
O objetivo é chegar a 2030 com emissões líquidas de 106 MtCO₂e associadas à matriz energética, considerando o aumento da demanda por eletricidade e combustíveis. 
 
Como a meta geral para 2035 foi definida em bandas na NDC — entre 1,05 a 0,85 GtCO2e — a matriz energética também tem uma margem: entre 81 e 115 MtCO₂e.
 
O documento cita as emissões líquidas de 2022, estimadas em 80 MtCO₂e, como referência.
 
Uma alternativa para intermitência das renováveis — expostas ao clima —,  as baterias não terão muita relevância na descarbonização brasileira até 2035, caso o plano se confirme.
 
As propostas do governo são aprovar um marco regulatório para o armazenamento até 2030 e incentivar investimentos para chegar a 800 MW de armazenamento instalados nos cinco anos seguintes.



Uma das áreas mais promissoras para substituição dos combustíveis fósseis no plano de mitigação são os transportes.
 
Entrou na contabilidade da meta o aumento da mistura de biodiesel no diesel, como prevista na lei do Combustível do Futuro, para 20% (B20) até 2030. Há também a previsão de chegar a B25 em 2035, deslocando a demanda pelo derivado de petróleo em ônibus e caminhões.
 
Já o etanol pode chegar a 35% de mistura na gasolina também no período decenal.
 
A bioenergia é, aliás, uma das grandes apostas do governo brasileiro, que projeta redução de até 10% em emissões de gases de efeito estufa (GEE) no consumo de gás natural com a política que torna obrigatória o uso de biometano.
 
E mais 2,6 a 4,5 bilhões de litros de combustíveis sustentáveis de aviação (SAF, em inglês) e diesel verde até 2035 — ambos a serem produzidos em biorrefinarias que ainda não existem no Brasil.

O uso estratégico do hidrogênio de baixa emissão é indicado como uma das “sete alavancas prioritárias até 2035” que devem estruturar o esforço de curto e médio prazo das políticas públicas. 
 
“São vetores com alto potencial de redução de emissões, sinergia institucional e viabilidade tecnológica”, explica o documento. 
 
Há um reconhecimento do energético como promissor para produção de combustíveis sintéticos, redução da intensidade de carbono do refino e desenvolvimento de uma indústria verde.
 
Mas, na prática, a única meta é implementar o marco regulatório do hidrogênio e definir hubs industriais. O resultado esperado: decreto publicado até 2035.


ZPE renovável para data center. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou nesta sexta (18/7) uma medida provisória para que o consumo de energia em Zonas de Processamento de Exportação (ZPE) seja obrigatoriamente renovável. No Ceará, afirmou que a medida é voltada à instalação de data centers.
 
Por falar em data centers… O Cerne e o Senai ISI-ER propuseram, nesta semana, o desenvolvimento de um estudo para projetar cenários para a instalação de data centers no Nordeste do Brasil. A intenção é diversificar a demanda das plantas de energia eólica da região, que vêm sofrendo com os cortes de geração.
 
Risco hidrológico. A Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) irá promover um leilão para destravar o impacto das ações judiciais relacionadas ao risco hidrológico sobre a liquidação financeira do mercado. A concorrência será realizada no dia 1º de agosto.
 
Diesel com menos enxofre. A Revap, em São José dos Campos (SP), registrou no primeiro semestre de 2025 os maiores volumes de produção de diesel S-10 e querosene de aviação da sua história. Segundo a Petrobras, entre janeiro e junho, foram produzidos cerca de 1,2 bilhão de litros de diesel S-10.
 
Mais biodiesel. A Minerva Foods anunciou, nesta sexta (18), a ampliação da capacidade de produção de sua unidade de biodiesel em Palmeiras de Goiás (GO). Com a expansão, a unidade poderá produzir até 450 metros cúbicos de biodiesel por dia — ou 162 mil m3 por ano —, aumento de 125% em relação à capacidade anterior.
 
EDP procura startups. O Energy Starter está com inscrições abertas para o segundo módulo da sua 9ª edição, dedicado às energias renováveis. O programa conecta a EDP a startups e scaleups (empresas em expansão) para criar colaborações a longo prazo. O módulo procura soluções inovadoras para acelerar a implementação de energias renováveis. Inscrições até 22 de agosto
 
Estágio na Elera. A Elera Renováveis está com vagas abertas para o seu programa de estágio com oportunidades no Rio de Janeiro e em São Paulo. As posições abrangem as áreas de Operações, Suprimentos, Secretariado, Financiamento, FP&A (Planejamento e Análise Financeira), Trading e Geoprocessamento. O programa oferece modelo híbrido, com três dias presenciais no escritório e dois dias em home office.

Naturalmente digital: por que o Brasil tem tudo para liderar a revolução da energia limpa Pressão global por digitalização e consumo crescente de eletricidade reforçam papel do Brasil como polo sustentável para data centers movidos por energias renováveis, escreve Gustavo Ayala
 
As opiniões não são verdades… Congresso derruba parte dos vetos à lei das eólicas offshore, impondo gasto extra de R$ 197 bi; especialistas alertam para impacto de até 9% na conta de luz, escreve Fernando Teixeirense
 
Distribuidoras de combustíveis: o elo vital da segurança energética nacional Preços livres e regulação asseguram abastecimento, eficiência e proteção ao consumidor, escrevem José Mauro Coelho e Guilherme Mercês

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