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Diálogos da Transição
APRESENTADA POR
Editada por Nayara Machado
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Relatório lançado esta semana pela agência da ONU sobre comércio (UNCTAD) alerta que as emissões do transporte marítimo estão aumentando em todos os tipos de embarcações, na maioria dos estados de bandeira (jurisdição à qual o navio responde) e nos países proprietários.
Com uma frota envelhecida e funcionando quase exclusivamente com combustíveis fósseis, o setor registrou um aumento de 20% nas suas emissões na última década.
O frete marítimo é hoje responsável por mais de 80% do volume de comércio mundial e quase 3% dos gases de efeito de estufa (GEE) lançados na atmosfera, e tem pela frente um grande desafio na sua trajetória de descarbonização.
A boa notícia é que alguma coisa já está sendo feita para um transporte marítimo mais amigável ao clima.
Embora a transição para combustíveis mais limpos esteja na sua fase inicial, com quase 99% da frota mundial ainda dependente de combustíveis convencionais, o relatório classifica como promissor o dado de que 21% dos novos navios encomendados foram concebidos para combustíveis sustentáveis.
Mas ainda tem muito mar pela frente. Além dos combustíveis mais limpos, a indústria precisa avançar mais rapidamente em direção a soluções digitais como IA e blockchain para melhorar a eficiência e também a sustentabilidade.
Na análise das tendências marítimas globais, o relatório destaca a resiliência do transporte marítimo, apesar dos grandes desafios decorrentes de crises globais, como a guerra na Ucrânia. O comércio marítimo deverá crescer 2,4% em 2023 e mais de 2% entre 2024 e 2028.
Altos investimentos
Pelas estimativas da Revisão do Transporte Marítimo 2023 (em inglês) serão necessários, anualmente, um montante adicional de US$ 8 bilhões a US$ 28 bilhões para descarbonizar os navios até 2050.
Já para desenvolver infraestrutura compatível com combustíveis neutros em carbono, o montante de recursos varia de US$ 28 bilhões a US$ 90 bilhões anuais até 2050.
As despesas anuais com combustíveis para alcançar o net zero podem aumentar entre 70% e 100%.
Problema para quem paga a conta
Uma das preocupações da UNCTAD é com o efeito desses custos sobre pequenos estados insulares e países de baixa renda que dependem fortemente do transporte marítimo.
Para garantir uma transição equitativa, a agência defende um arcabouço regulatório universal aplicável a todos os navios, independentemente das suas bandeiras de registo, propriedade ou áreas operacionais.
Isso evitaria um processo de descarbonização “a duas velocidades” ao estabelecer condições de concorrência equitativas.
Para Shamika N. Sirimanne, diretora de tecnologia e logística da UNCTAD, incentivos econômicos, como o imposto que vem sendo discutido pela indústria sobre as emissões do transporte marítimo, podem incentivar a ação enquanto promovem a competitividade dos combustíveis alternativos.
Ela também defende a formação de fundos para facilitar investimentos em portos de nações insulares e de baixa renda, para adaptá-los aos riscos climáticos.
Competitividade do hidrogênio
Insumo para metanol e amônia de baixo carbono, duas das principais alternativas em estudo para substituir o consumo fóssil dos navios, o hidrogênio deve começar a acompanhar os preços do gás natural em breve, na visão do presidente da Petrobras, Jean Paul Prates.
Ele afirmou nesta quinta-feira (28/9), durante um evento na Fundação Getúlio Vargas (FGV), no Rio de Janeiro, que já é possível vislumbrar alguns projetos.
“Logo, logo teremos um preço [do hidrogênio] que, a meu ver, será próximo, andará junto com o gás natural”, disse o executivo.
“Portanto, já é possível vislumbrar alguns projetos e fazer cálculos. Não é verdade que é impossível hoje analisar projetos. É perfeitamente factível, claro, com uma margem de erro maior, mas é possível”, completou. Leia na matéria de Gabriela Ruddy
A Agência Internacional de Energia Renovável (Irena, na sigla em inglês) calcula que, até meados do século, a descarbonização do transporte marítimo demandará 50 milhões de toneladas de hidrogênio verde por ano para o fornecimento de amônia e metanol como combustível.
O que vai exigir ações urgentes, coordenadas e globais, envolvendo indústria, governos e órgãos internacionais – sob o risco de os projetos atrasarem, como já está ocorrendo.
Até agora, mais de 40 países em todo o mundo já definiram estratégias nacionais para o hidrogênio, mas a capacidade instalada e os volumes de produção permanecem baixos, uma vez que os investidores aguardam o apoio governamental.
Cobrimos por aqui:
- Brasil articula defesa do uso de etanol como combustível marítimo
- Primeiro navio a metanol verde do mundo será abastecido pela Equinor
- Yara e Bunker Holding fecham acordo para desenvolver mercado de amônia para navios
- Combustíveis marítimos de baixo carbono ganham incentivo na Europa
Curtas
Novos produtos
Petrobras e Vale assinaram nesta quinta-feira (28/9) um protocolo de intenções voltado para o desenvolvimento de iniciativas em combustíveis sustentáveis – como hidrogênio, metanol verde, biobunker, amônia verde e diesel renovável – e de tecnologias de captura e armazenamento de CO2. O acordo terá duração de dois anos.
Barter de CBIOs
A multinacional de química Basf iniciou uma operação de barter com a produtora gaúcha de biodiesel Olfar para troca de insumos por créditos de descarbonização do RenovaBio (CBIOs). Na prática, a Olfar, detentora dos créditos, irá transferir o montante vendido na B3 para a Basf em troca do fornecimento de metilato de insumos agrícolas.
Prazo para comprovar metas
Por falar neles, o prazo para distribuidoras comprovarem suas metas de descarbonização com a compra de CBIOs acaba no sábado (30/9), e as aposentadorias dos títulos precisam ocorrer até amanhã (29/9).
Até ontem (27), 77 distribuidores já haviam cumprido suas metas, tendo sido aposentados cerca de 32,8 milhões de CBIOs referentes à meta de 2022. Esse número corresponde a aproximadamente 89% da meta total, de 36,7 milhões de CBIOs, dos distribuidores de combustíveis.
- Mais sobre os CBIOs: Governo retoma prazo para comprovação das metas do RenovaBio em 31 de dezembro
Frete elétrico
A multinacional de logística Maersk está avaliando a viabilidade de caminhões elétricos no frete pesado de clientes no Brasil. O grupo fez testes pilotos com cavalos mecânicos que permitem o transporte de contêineres em um roteiro de 100 km, envolvendo as regiões de Barueri, Barra Funda e São Bernardo do Campo (SP) e em um trecho de 230 km, entre o Porto de Itapoá e a cidade Araquari (SC).
Investimento solar
Neoenergia e a Comerc assinaram nesta quarta-feira (27/9) um acordo para a criação de uma joint venture para atuar no mercado de energia solar. A empresa vai construir e operar usinas fotovoltaicas direcionadas para a geração distribuída.
Com investimento total de até R$ 500 milhões, os projetos estão previstos para serem desenvolvidos nos estados da Bahia, São Paulo, Rio Grande do Norte, Pernambuco e Distrito Federal.